AUTS: criança autista dá voz a personagem principal de série transmidiática

Projeto será lançado nesta terça (2) e terá entretenimento, realidade e inclusão

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 2 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Nesta terça-feira (2) é comemorado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, distúrbio que acomete 1% da população mundial e 1 a cada 68 brasileiros. Para marcar a data, será lançado o projeto AUTS, composto por uma série de interprogramas de animação 2D infantil, site (eusouauts.com) e aplicativo que abordam o tema (clique aqui para baixar no Android).

O AUTS não é um projeto transmidiático comum. Ele é fruto da inspiração do diretor de animação Renato Barreto. O filho, Artur, de 13 anos, foi  diagnosticado com o distúrbio do espectro autista aos 2 anos e meio de idade.

De acordo com Rodrigo, a ausência da fala foi o que mais chamou a atenção da família no desenvolvimento da criança. “Além disso, existia um brincar não organizado, que também serviu de alerta em casa e na escola”, contou.

O pai e a mãe de Artur, Fernanda Arraz, foram orientados a buscar um neurologista para confirmar o diagnóstico da criança. No entanto, foi com o apoio da psicóloga e psicanalista Cláudia Mascarenhas, do Instituto Viva Infância, que eles começaram a aprender a lidar com o autismo.

"Foi ela [Cláudia] quem deu todo o suporte necessário desde cedo para ajudar Artur a vencer as dificuldades e trabalhar as habilidades de forma positiva. Fizemos um tratamento multidisciplinar, com foco na terapia ocupacional, fonoaudiologia e vivências externas para o desenvolvimento da autonomia”, disse Fernanda.

Quanto mais cedo a criança receber acompanhamento especializado, mais fácil e melhor vai ser o desenvolvimento dela. É o que afirma Cláudia Mascarenhas. "Para qualquer abordagem, há um acordo tácito sobre agir desde o primeiro ano de vida, antes que a criança atinja e possa comprometer determinados marcos de desenvolvimento”, explica.

Mesmo com todo suporte médico e psicológico, segundo o pai, Artur continuava a demonstrar falhas no processo auditivo, o que levou a família a buscar formas alternativas de desenvolver a fala da criança.

“Foi a partir daí que resolvemos explorar a veia artística de Artur, uma dica que ele mesmo nos deu, pois sempre gostou de filmes e de desenhar. O ponto de partida foi um trabalho da escola, quando ele fez um desenho, digitalizou e, mesmo emitindo muitos sons que a gente não conseguia identificar, gravou, e isso foi um passo muito importante”, lembrou o pai.

Foi a partir daí que nasceu AUTS, que conta com a participação de toda a família, o que inclui o irmão Davi e Caneca, o cachorro adotado há um ano e meio. Todos eles são personagens, dubladores e co-criadores dos episódios. Foto: Divulgação Transmídia Considerado um produto transmidiático, AUTS envolve uma série de animação 2D composta por 26 episódios, cada um de 90 segundos, além de um aplicativo e um site. Todo o conjunto é voltado para o desenvolvimento dos aprendizados e aquisições da primeira-infância de crianças portadoras de necessidades especiais.

O personagem AUTS tem formato quadrado e gosta muito de azul. Ele é um menino de 6 anos, dublado por Artur, que se encontra no Espectro Autista e, apesar de não interagir muito, procura aprender com os amigos sobre as coisas e o mundo em que vive. A criança, que inicialmente tinha medo de cachorro, está, aos poucos, tentando se aproximar do novo animal da família, que tem a forma de um triângulo e é dublado por Renato. Foto: Divulgação Já Ana, dublada pela mãe de Artur, Fernanda, é uma menina de 7 anos que adora flores e borboletas. Ela tem o formato de círculo e, sempre que possível, ajuda o amigo a se interessar e a interagir com as coisas do mundo. Davi, um menino de 8 anos com formato de retângulo, dublado pelo irmão, tem dificuldades em lidar com AUTS, mas está aprendendo a conviver com o amigo.

De acordo com Renato, “os personagens e objetos da série são bidimensionais, com visual estilo cartoon, e as cores refletem a personalidade de cada um, criando uma estética diferenciada que se destaca em um ambiente branco, livre como uma folha de papel, cenário no qual os personagens desenham, escrevem, cantam e interagem do ponto de vista de uma criança com autismo”.

Os formatos geométricos específicos de cada personagem também ajudam na comunicação com as crianças por meio de situações lúdicas e divertidas. O pai de Artur contou que, ao ter de decorar frases inteiras do filme, a criança começou a elaborar os próprios enunciados, o que fez com que ele se desenvolvesse ainda mais. Foto: Divulgação Com narrativas de curta duração, AUTS explora o conceito do “estar no mundo” para uma criança apreender e dar significados a tudo que a cerca. O conjunto é um produto da Takapy Digital Art, em co-produção com a Griot Filmes e parceria Institucional com o Instituto Viva Infância.

AUTS, que está disponível para Android a partir desta terça-feira (2), tem patrocínio da GolFarma Distribuidora Farmacêutica e do Governo do Estado, por meio do Fazcultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

Aproximação Para a psicóloga Cláudia Mascarenhas, é importante que os pais assistam aos episódios ao lado das crianças. “É essencial utilizar AUTS como oportunidade de uma interação social”, garantiu. Ainda segundo ela, “a iniciativa fez com que Artur avançasse bastante, mostrando que uma criança autista pode incentivar outras pessoas e famílias a acreditarem que também são capazes de encontrar suas próprias janelas de investimento e crescimento”, concluiu.

O Produtor Executivo do projeto, João Guerra, da Griot Filmes, destacou que a alteridade é um dos pontos centrais de AUTS. "Mais do que trabalhar o aprendizado de uma personagem autista, AUTS demonstra a relação com os amigos em um processo constante de alteridade, sociabilidade e respeito ao outro, ao diferente. Ao mesmo tempo, mostramos uma personagem autista sendo incluído nas brincadeiras e na relação com o outro, reforçando a premissa da inclusão social como outra questão central”, afirmou.

Os produtores também acrescentaram que a série dialoga com os princípios do Plano Nacional da Primeira Infância, funcionando como uma ferramenta sensorial que pode ajudar professores, de forma lúdica, a trabalhar com diferentes estímulos a cada episódio, explorando cores, formas geométricas, instrumentos musicais, animais e significação de conceitos, propondo um aprendizado dinâmico e com exemplos práticos.

A saída do espectro A jornalista Adriana Nogueira era mãe de um autista. O verbo está no passado porque o filho dela, hoje às vésperas de completar 14 anos, conseguiu sair do espectro autista. “A gente não fala da cura do autismo, mas, sim, da saída do espectro autista”, explicou.

Segundo ela, ainda na primeira infância, aos 5 anos, foi adotado com o filho um tratamento inovador chamado de neurofeedback, sob a responsabilidade do psicólogo Leonardo Mascaro. “Eu hoje comento sobre o espectro de um lugar confortável, com o intuito de levar esperanças às famílias e outras mães, alertando que é possível, sim, trabalhar as potencialidades da criança autista”, disse.

Ainda de acordo com a jornalista, como o próprio filho diz, “cada um é cada um”. Por isso, Adriana afirmou que é importante buscar um diagnóstico precoce e iniciar o mais breve possível o tratamento. “Quando isso acontece, as chances de minimizar os danos são cada vez maiores”, declarou.

Com o tratamento do neurofeedback, o filho de Adriana conseguiu sair do espectro autista e, hoje, como ela faz questão de ressaltar, não tem nenhum tipo de limitação.“Meu filho faz tudo o que ele quer. Inclusive, ele não gosta de ser relacionado ao autismo, porque, de fato, ele não viveu isso. Quem viveu fui eu. Ele faz plano e diz que, com 18 anos, vai viajar sozinho”, contou.Adriana também ressaltou que é importante desmistificar os transtornos do espectro autista. “Cada pessoa desenvolve o transtorno com uma intensidade maior ou menor. O que a família não pode fazer é perder a esperança, porque é possível sair do espectro. É possível o portador do transtorno ter uma vida normal fora do espectro”, concluiu.

Confira os três primeiros episódios de AUTS Episódio 1 Episódio 2 Episódio 3 Clique aqui para acessar o aplicativo 

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Veja onde buscar tratamento para o autismo em Salvador OBRAS SOCIAIS IRMÃ DULCE (HOSPITAL SANTO ANTÔNIO) Endereço: Avenida Bonfim 161  Bairro: Largo di Roma  Cidade: Salvador Telefone: (71) 3310-1100 / (71) 3310-3310/ (71) 3310-1259 FEDERAÇÃO DAS APAES DO ESTADO DA BAHIA  Endereço: Rua Dr. José Peroba, 275, Ed. Metropolis Empresarial, sala 1206 Cidade: Salvador – BA Telefone: (71) 3272-3470 / (71) 3272-3650 AFAGA – ASSOCIAÇÃO DE FAMILIARES E AMIGOS DA GENTE AUTISTA  Site: www.afaga.com.br ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO AUTISTA DA BAHIA Endereço: Rua Macedo de Aguiar, 98 Bairro: Pituaçú Cidade: Salvador – BA Telefone: (71) 3363-4463  ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DISTÚRBIO DO COMPORTAMENTO Endereço: Rua Alberto Fiúza, 500 Bairro: Imbuí Cidade: Salvador - BA Telefone: (71) 3473-2823 / (71) 3231-1502

* Com supervisão da Subeditora Fernanda Varela