Avante, cozinheiras da Pedra Lascada!

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  • Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

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Eu tenho pra mim que se soltar no mato todo mundo sabe cozinhar. Se por instinto de sobrevivência a pessoa descobre como faz o foguinho, que é mais difícil, como é que não sabe cozinhar, gente? Com tanto apetrecho, com tanto livro, programa de tevê, perfis e massa ao vivo pelo meio da rua? É só sentar para esperar a consulta ou almoçar no boteco que tem receita ao vivo na tevê. Perainda, mas só não cozinha quem não quer - um direito legítimo, aliás. 

Mas parece que o mundo quer sim cozinhar cada vez mais. Não preciso nem ir muito longe, daqui mesmo da minha Pequena Escola de Culinária da Katita, criada em 2013 para sistematizar o atendimento dessa demanda, sobretudo e quase sempre de mulheres querendo dar os seus pulos por motivos diversos, desde os mais tradicionais (mozão) aos mais feministas. 

DÊ SEUS PULOS, COISINHA Isso de dar os seus pulos, se virar, consertar seus paranauê, pintar as suas próprias paredes e fazer seus biscoitos de gengibre, perus de thanksgiving, e decorar as festas das crianças sem depender de ninguém é coisa de americano, e chama DIY, Do It Yourself, ou “faça você mesma” (beijo Martha Stewart!).

Um movimento com motivações econômicas (não falei que era americano?) que começou lá em 1912 , mas que ganhou um forte impulso foi na década de 1950, dividindo águas nos hábitos de consumo pelo resto do mundo afora, e virando muóda no século XXI como se fosse novidade. Batizado de Maker (cultura maker, movimento maker) ganhou as escolas mais recentemente, embora eu possa dizer que tive a sorte de vivenciar uma educação “maker” há 40 anos num Colégio Polivalente com aulas de Educação Para o Lar,

Técnicas Agrícolas e Técnicas Industriais - um modelo luxuoso de escola que incentivava a autonomia ensinando crianças a se virarem na cozinha, plantarem o seu feijão e consertarem a perna da cadeira e o rádio quebrado. 

Mas voltando à máxima de “não sei nem fritar um ovo” (como se fosse assim tão simples fritar um ovo que preste), isso é conversa mole pra boi dormir, viu? Você pare!  (Foto: Katia Najara/ CORREIO) O que não pode é se meter a besta e achar que tem que fazer prato de chef. Aí não, se oriente. Porque é o mesmo efeito mídia ditando padrões de beleza de corpo, só que na cozinha, fazendo com que a gente se sinta a última fruta da xepa da feira. Pois faça um suco, coisinha! 

FECHE SUA CARA  Primeira coisa: feche a porta da cozinha, se apegue com o seu filtro de barro Santo Antônio - que é para passar só o essencial - e olhe para dentro, para as suas próprias referências e gostos pessoais, de preferência os mais prosaicos. Fique à vontade, a cozinha é sua, aproprie-se dela. Fique descalça, vista uma roupa bem confortável, de algodão. Prepare a cozinha, limpe, arrume, abra espaço, e enfeite com o mói de coentro enfiado numa jarra ou lata qualquer.

Agora se conecte com os alimentos. Olhe, cheire, morda, coma cru, corte, ouça e sinta a textura. É só entre vocês, não se acanhe, a intimidade virá, como em qualquer relação. Agora some memórias e vai lembrar que o arroz de mainha ela lavava, escorria, fervia a água, refogava cebola e alho no fundo da panela, juntava o arroz refogava mais um tiquinho, deitava  a água fervente até cobrir, somava o sal nessa hora, e deixava cozinhar (lembre que o fogo era baixo) com a tampa da panela entreaberta até quase secar todo, para experimentar o grão e ver se estava bom ou precisava de mais água. E plim! Você sabe fazer arroz, ainda que empape um ou outro até que vocês se entendam por completo. E vai perceber que grão é assim: precisa de cozimento e um refogadinho de fundo de panela. 

Vai valorizar uma simples salada de alface - lavada, escorrida, sequinha com pano mesmo, e rasgada à mão - com tomate em rodela, e vai perceber que salada crua é isso: higienizar, cortar, rasgar e colorir com cenoura, beterraba, rodelinhas finas de pepino japonês, e o que tiver e ocorrer; é soltar folhinhas de hortelã, raspar casquinha de limão e regar com azeite de oliva. Sem mistério.

Vai comprar uma carne de sol já dessalgada pra facilitar a sua vida, lavar com água quente, cortar em cubos e fritar com pouco óleo numa teflon, somando um punhado de cebola roxa no final até murchar. Da próxima, vai fazer até uns bifes acebolados de filé, temperados só com pimenta do reino moída na hora, passados na panela de teflon bem quente, e sal (só depois que virar o lado para não soltar o seu suco), com cebola entrando no final, que nem na carne do sol. E vai entender que carne é assim, precisa de quase nada. 

Vai colocar uma colherada de manteiga para derreter, torrar um pouco de farinha ali pra ficar crocante e plim!, igualzinha à do restaurante, e que nem precisa colocar cebola porque o bife já é acebolado. E vai sacar compensações, e vai ficando íntima, autônoma, errando e acertando que nem na vida.  Ah, o ovo! Tu não disse que não sabia nem fritar um ovo?

Quando eu era pequena mainha fritava ovo com manteiga, inclinando a frigideira para pegar a gordura quente com uma colher e ir jogando sobre o ovo para fritá-lo por cima até o ponto desejado. Eu amava o ovo de mainha, mas hoje em dia o meu ovo é bem diferente, porque praticamente não leva gordura, mas água, para chegar no meu cozimento perfeito de macio e brilhante por fora com aquela gema mole por dentro, que a gente parte com o garfo e é aquele acontecimento sobre o pão ou cuscuz.  Viu? Você sabe cozinhar sim, senhora. ‘Bora que o futuro é maker, que nem na Pedra Lascada!

OVO FRITO BAM BAM BAM

Você vai  precisar de uma panela de teflon do tamanho do ovo.

Unte a panela  com óleo ou manteiga, deite um dedim de água e leve ao fogo para esquentar bem e evaporar metade da água deixando um fundo de panela.

Abra o ovo  num pires pra ver se ele está ok e transfira gentilmente para a panela quente untada com um pouco d’água quente no fundo. Abaixe o fogo.

Salpique sal  e tampe a panela para, na verdade, cozinhar com vapor o seu ovo frito =)

Dica  use um borrifador com água nas laterais da panela quente e prenda o vapor na panela com tampa imediatamente para perfeita cocção do seu zoião. É muito mais difícil pegar no fundo e bordas quando a gente “frita com água” do que com gordura quente.

Kátia Najara é cozinheira e empreendedora criativa do @piteu_cozinhafetiva