Avó lamenta morte de filho e neto em deslizamento: 'perdi meu neto de dois meses'

Casal e criança foram algumas das vítimas de deslizamento que, até o momento, vitimou sete pessoas em Recife

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Publicado em 24 de dezembro de 2019 às 14:01

- Atualizado há um ano

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Segundo a mulher, é a segunda vez que a família passa por uma tragédia do tipo (Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem) Na véspera de Natal, um deslizamento de barreira no bairro de Dois Unidos, na Zona Norte de Recife, vitimou sete pessoas e deixou três feridas. Entre as vítimas está Érica Virgínia, de 19 anos, Emanuel Henrique, 25, e o filho do casal, Érick Júnior, um bebê de dois meses. Alexandra França, mãe de Emanuel e avó de Érick, lamenta o ocorrido e lembra que a família já tinha sofrido com o deslizamento semelhante nos anos 2000."Já é a segunda vez. Na primeira, a gente perdeu a casa e os móveis. Dessa vez teve isso tudo. Eu nunca pensei que ia passar por isso", lamentou Alexandra, que estava muito abalada com a perda dos familiares.Ela conta que, no momento do ocorrido, ouviu um estrondo e já imaginou que fosse a barreira. "Quando foi de 3h começaram os gritos. Um estrondo muito alto, eu já sabia que tinha sido a barreira. Tiraram muito lixo, que estavam jogando, e colocaram a lona, mas já foi tarde demais", relatou.

O deslizamento

O deslizamento deixou sete pessoas mortas. Uma barreira deslizou, provavelmente após o vazamento de um cano de água, por volta das 2h30, na Rua Bela Vista, no Córrego do Morcego, em Dois Unidos, Zona Norte do Recife. Duas casas foram atingidas. Entre as pessoas que morreram na hora estão duas crianças - um bebê de 2 meses e uma menina de 9 anos, todas da mesma família. Três pessoas foram retiradas por populares e levadas para hospitais da região, e passam bem. Deslizamento aconteceu no bairro de Dois Unidos, na Zona Norte do Recife (Foto: Reprodução/TV Globo) Segundo as primeiras informações, dadas por moradores da região, o deslizamento de barreira aconteceu após um cano começar a vazar água. Erivaldo Barbosa, motorista de aplicativo, é parente das vítimas do acidente. Conforme seu relato, o problema com os canos não é de hoje. Ele conta que, em julho de 2000, a terra cedeu "do mesmo jeito" e atingiu duas casas, que estavam desocupadas no momento. Segundo ele, não deu para perceber a água pingando. "Aconteceu de repente. Quando eu sai de casa, estava jorrando água", contou.

De acordo com o engenheiro civil da Compesa, Aprigio Trajano, não havia vazamento pendente na área, e a empresa fará uma vistoria na região para saber se o deslizamento de terra foi causado pelo rompimento da tubulação, ou pelo deslizamento da barreira. "Há registros antigos de reclamação, que já foram sanados. Ontem e hoje não houve nenhum registro de vazamento", garantiu.

Os moradores contam que, nessa segunda-feira, chegou água no morro, que é distribuída através de um sistema de rodízio. No entanto, o engenheiro garante que o abastecimento acontece sempre, "então o rompimento não foi causado pelo rodízio". Conforme o técnico, no momento do deslizamento, inclusive, o abastecimento estava sendo realizado.

O Corpo de Bombeiros foi acionado as 2h55 e enviou seis viaturas para o local, sendo duas de busca e salvamento, uma de busca com cachorros, uma de comando operacional e duas de resgate.

Família estava reunida para o Natal

Em uma das casas destruídas, estavam o casal Emanuel Henrique de França, de 25 anos, e Érica Virgínia, de 19 anos, junto ao seu filho, Érick Junior, de dois meses. Todos morreram. 

Também foram vítimas da tragédia Lucimar Alves, de 50 anos, sua neta, Daffyne Kauane Alves, de nove anos, Lia de Oliveira, 45, e Claudia Bezerra, 47. 

Ficaram feridos o casal Cristina Gomes da Silva, de 43 anos, e Luiz Tadeu, de 56 anos. Eles foram levados até o Hospital da Restauração e para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Nova Descoberta, respectivamente, e passam bem. 

Otoniel Simião da Silva, de 57 anos, marido de Lucimar Alves e primo de Emanuel, também foi levado para a UPA de Nova Descoberta, e não há divulgação sobre seu estado de saúde.

Relato

Luiz Tadeu Costa, de 56 anos, uma das vítimas do soterramento, estava dormindo com sua esposa, Cristina Gomes da Silva, de 43 anos, na hora em que o incidente aconteceu. “Naquele sono profundo, senti aquilo [destroços e lama] me empurrar e já vieram as telhas [da casa] por cima de mim. Me encolhi e coloquei as pernas por cima da minha esposa, para protegê-la da pancada. Por isso estou com escoriações, cortei o pé. Consegui proteger a cabeça dela, mas parece que ela ainda machucou os pés", relatou.

O encarregado de manutenção ficou debaixo de uma parede que caiu. "Eu gritei e vi o pessoal se aproximando e falando ‘tem gente aqui’, aí eu disse ‘sou eu’. Tiraram logo ela [sua esposa], que estava embaixo, e levantaram a parede para eu sair.

Luiz Tadeu Costa foi levado para a UPA de Nova Descoberta e Cristina Gomes para o Hospital da Restauração. Ambos passam bem.

'Já é a segunda vez'

Alexandra França, mãe de Emanuel e avó de Érick, lamenta o ocorrido e lembra que a família já tinha sofrido com o deslizamento semelhante nos anos 2000.

"Já é a segunda vez. Na primeira, a gente perdeu a casa e os móveis. Dessa vez teve isso tudo. Eu nunca pensei que ia passar por isso", lamentou Alexandra, que estava muito abalada com a perda dos familiares.

Ela conta que, no momento do ocorrido, ouviu um estrondo e já imaginou que fosse a barreira. "Quando foi de 3h começaram os gritos. Um estrondo muito alto, eu já sabia que tinha sido a barreira. Tiraram muito lixo, que estavam jogando, e colocaram a lona, mas já foi tarde demais", relatou.

'Prefeitura está à disposição'

O prefeito Geraldo Júlio (PSB), afirmou que a prefeitura está à disposição e se apresentou desde a madrugada para prestar apoio às famílias afetadas. "Desde as 5h da manhã a prefeitura, através do Samu, da Defesa Civil, da Emlurb e da Secretaria de Desenvolvimento Social, está prestando todo apoio à Compesa para que seja fornecida assistência à todas as famílias. A gente está consternado e apresenta nossa solidariedade e toda atenção", disse.

Quando questionado pela reportagem se são realizadas fiscalizações nas áreas de risco da cidade, o gestor atribuiu o deslizamento à falta de infraestrutura dos morros, e afirmou que a prefeitura investe e trabalha para mudar esta realidade. "Ainda é necessário que chegue muita infraestrutura nas áreas de morro, onde moram 500 mil recifenses. Neste momento temos 311 obras do programa Parceria em andamento na cidade, além de outras obras estruturantes que estão sendo realizadas pela Autarquia de Urbanização do Recife (URB)", garantiu o prefeito.

Em nota, a Prefeitura do Recife, a Compesa e o Governo de Pernambuco se pronunciam.

"A Prefeitura do Recife informa que, desde a madrugada desta terca-feira (24), através da Secretaria de Desenvolvimento Social, Defesa Civil e Emlurb, está prestando todo o apoio à Compesa para que seja garantida assistência aos familiares das vítimas e moradores da área onde aconteceu o acidente em Dois Unidos. O SAMU, a Defesa Civil e a Emlurb também estão prestando apoio ao Corpo de Bombeiros no resgate e atendimento no local. A Prefeitura se solidariza com os parentes das vítimas e com toda comunidade".

"A Compesa informa que, por volta das 3h da madrugada de hoje, foi acionada a prontidão por conta de um vazamento, no Bairro de Dois Unidos, Recife. Imediatamente o sistema que abastece a localidade foi desligado. No momento, a Companhia em conjunto com a Defesa Civil está No local para apurar as causas e saber o que de fato motivou o acidente. Antecipadamente, a Compesa lamenta o ocorrido e se solidariza com as famílias que estão recebendo toda a assistência das equipes sociais da Companhia."

"Desde às 3h da madrugada desta terça-feira (24.12), o Governo de Pernambuco acionou profissionais de quatro secretarias, além da Compesa, para fazer o atendimento do deslizamento de barreira no Bairro de Dois Unidos, no Recife. Sete pessoas morreram e três ficaram feridas. Os corpos de duas das vitimas fatais só foram encontrados no final da manhã. O Corpo de Bombeiros permanece trabalhando no local para resgatar esses corpos. A Compesa está com 50 técnicos mobilizados para a ocorrência, analisando o rompimento dos canos de abastecimento existentes na encosta. A companhia realiza monitoramento permanente do abastecimento na área, inclusive com contatos diretos com as lideranças comunitárias. Nas últimas semanas não houve registro de vazamentos no local. A Secretaria de Desenvolvimento Social está prestando assistência às famílias das pessoas falecidas e aos feridos, que foram levados para a UPA de Nova Descoberta e para o Hospital da Restauração".

Córrego do Boleiro

Se ficar confirmado que o deslizamento ocorreu após o vazamento de um cano, não é algo novo no Recife. Doze pessoas morreram no Córrego do Boleiro, também na Zona Norte da capital, na madrugada do dia 29 de abril de 1996. Primeiro uma barreira deslizou e, em seguida, houve o rompimento do cano da Compesa, arrastando o que via pela frente. Dez casas acabaram completamente destruídas.

Há exatos cinco meses, em 24 de julho, uma outra tragédia ocorreu no Grande Recife. No bairro de Caetés I, na cidade de Abreu e Lima, cinco pessoas, sendo quatro de uma mesma família, entre elas uma grávida, morreram. Devido a fortes chuvas naquele dia, uma barreira deslizou por cima da casa onde morava um casal e três filhos. Apenas a mulher, Hariana Xavier, sobreviveu. Um vizinho também morreu.