Baba profissa: sócios do Vitória vivem experiência de jogar na Toca

Com 55 times, Copa 13 de maio reúne sócios rubro-negros em dia de jogadores profissionais

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 5 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Almiro Lopes / CORREIO

Era pra ser só um baba, mas são torcedores do Vitória vivendo dias de jogadores de futebol (Foto: Almiro Lopes / CORREIO) Uns chegam com fones de ouvido coloridos e topetes cheios de estilo. Sacolas da Adidas, chuteiras da Nike e muita marra. Até o jeito de andar é de boleiro. Nos vestiários, vestem-se como se fossem disputar uma decisão profissional. Capitães fazem discursos inflamados e todos se abraçam para o Pai Nosso.

Entram no campo de dimensões oficiais, gramado impecável e arbitragem como manda o figurino. Parecem acreditar que são craques prestes a disputar o jogo de suas vidas. “Se a gente quer ganhar a gente tem que se doar! Eu confio em cada um de vocês!”, gritava o quarto-zagueiro Ivair, que no dia a dia é o motorista Ivair da Cruz, 25 anos.

Na real, eles costumam estar no papel inverso àquele. São torcedores. Saíram das arquibancadas para, durante alguns finais de semana, viverem a experiência de participar de jogos cercados por uma estrutura profissional. O que parece um sonho de garoto é possível na Copa 13 de Maio, competição organizada pelo Vitória no Barradão para aproximar os sócios-torcedores do clube.

A diretoria afirma que investiu R$ 130 mil na organização da Copa e desconhece ação semelhante entre os grandes clubes do país. São 55 times, 54 deles formados por sócios e um por funcionários de um patrocinador, obrigatoriamente formado por torcedores do Vitória. Ao todo, cerca de 1,6 mil sócios inscritos. É muita fome de bater um baba. “Baba? Isso aqui não é um baba qualquer, né?”, corrige Rodrigo Dória, 27 anos, lateral direito do Muito Mais Leão, mesmo time de Ivair.

“Bato três babas durante a semana, fora esse. Se tivesse dez eu batia os dez. Mas, esse é diferenciado”, diz Rodrigo. Tão diferenciado que tem torcedor que vem de longe só para se virar jogador por uns minutos. No caso do Rugido do Sertão, a maioria dos jogadores mora em Feira de Santana e Riachão do Jacuípe. Pegam a BR-324 sem reclamar.

A Copa começou a ser organizada em abril de 2018, um mês antes da data prevista para o primeiro jogo e num período em que o time do Vitória ia mal. Havia o receio de a competição ser esvaziada. “Lembro que lançamos em uma quinta-feira. Na quarta-feira seguinte já tínhamos 54 times formados. Sucesso total”, afirma Marcelo Behrens, coordenador do programa Sou Mais Vitória. Além dos vestiários e do campo - o de grama sintética utilizado pelas divisões de base -, o clube disponibiliza arbitragem, gandulas e maca.

Enquanto isso, o capitão Ivair segue chamando o grupo “na xinxa” e pedindo aos parças para entrar com sangue no olho. “Eu quero olhar nos olhos de cada um aqui e dizer que podemos ir muito mais longe!”. A galera leva a coisa mesmo a sério. “É pra dar sangue na arquibancada e aqui também! A gente cobra tanto que os jogadores tenham raça em campo. Temos que dar o exemplo”, vibra Filipe Garrido, 32 anos, técnico do Leões da Toca. Todo mundo torce pelo mesmo time. Briga só pela bola (Foto: Almiro Lopes / CORREIO) Coração rubro-negro Se é para dar sangue, que seja rubro-negro. O bom é que todo mundo tem o mesmo coração. Como todos em campo são Vitória de carteirinha, literalmente, o bom é que ninguém briga por causa de futebol. Quer dizer, só se for na disputa de bola. “Só teve uma briga de fato. Os envolvidos foram punidos com seis meses de suspenção”, conta Behrens.

Além de entrarem em campo, a intenção é que os sócios-torcedores também vivenciem o clube. Volta e meia, enquanto se preparam para uma partida, assistem aos profissionais treinando no campo ao lado. Isso quando os ídolos não aparecem para ver o baba. No domingo (3), tiveram os olhares curiosos do atacante Marquinhos, ex-Vitória, e de Flávio Tanajura, ex-zagueiro e atual auxiliar técnico da equipe profissional. Plateia ilustre: Marquinhos e Flávio Tanajura (Foto: Alexandre Lyrio / CORREIO) “Rapaz, tem uns caras bons aí. Esse time não é besta, não, viu?”, comentou Marquinhos, referindo-se ao Vamo Vamo Negô. “Só precisa ser um pouco mais rápido”, ensinou Tanajura, que tem 20 anos no Vitória, nove como atleta e 11 como funcionário.

Catando um aqui e outro ali, tem torcedor que, com a bola nos pés, mostra qualidade. Tem jogador com passagem por clubes profissionais e pelas divisões de base do próprio Vitória. Marcelo Melo, 34 anos, volante do Show Mais Vitória, foi contemporâneo de Obina, Nadson e Dudu Cearense.

Depois que rompeu os ligamentos cruzados do joelho, desistiu de virar profissional, mas jamais perdeu a paixão pela bola. “A fome de bola é a mesma”, garante. Há outros tantos exemplos semelhantes na mesma competição. “Futebol não se explica. Futebol se sente”, diz Victor Viana, meia-atacante do Rugido do Leão, que jogou na base do Náutico. “Minha paixão pelo futebol só aumenta”, confirma Mário Gomes, 24 anos, ex-Galícia, Jequié e atual vice-artilheiro da Copa pelo Vamo Vamo Negô. Victinho, do Rugido do Leão: 'Futebol não se explica' (Foto: Alexandre Lyrio / CORREIO) Regulamento A Copa 13 de maio teve início no dia 18 de maio do ano passado como um projeto que fez parte do aniversário do Vitória em 2018. Neste final de semana, a competição chegou à segunda fase, quando os melhores da primeira se pegam em mata-mata.

Dos 55 times distribuídos em 11 grupos, restaram 32 e, depois da última rodada, 26. Os 16 melhores da segunda fase passam para as oitavas de final, com os confrontos definidos através de sorteio.

E assim será nas quartas e semifinais. A decisão está marcada para o dia 31 de março, no estádio rubro-negro, o Barradão. A final será com todo o protocolo de jogo, inclusive com escalações no telão.  

Resultados da rodada:

Show Mais Vitória 3x0 Rugido do Sertão

Vamo Vamo Nego 1x0 Leões da Toca

Muito+Leão 1x0 Ovo and Lança

Galhofa 0(3)x 0(1)#Vumboravitoria

Leônidas 3x2 Panela do Liaum

Leões da Barca 2x0 Panela FC