Bahia 24x0 no clássico da cidadania

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  • Paulo Leandro

Publicado em 5 de fevereiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Bahia e Vitória jamais foram tão antagônicos em relação aos valores de cidadania. Enquanto o Tricolor luta ao lado dos indígenas, da mulher, pela diversidade étnica e de orientação sexual, o Leão não dá um rugido.

Uma curiosidade para aumentar a intriga é o fato de a atual diretoria do Vitória ter construído uma imagem de empreendedora, ousada em iniciativas empresariais e de contratações e formação de jogadores, enquanto o Bahia era tido como atrasado.

Para o torcedor conservador, misógino, que faz culto à intolerância, terraplanista e adorador de tudo que tanto envergonha o Brasil no mundo, é complicado apoiar um Baêa tão do lado das forças do bem.

Para quem é rubro-negro e libertário, democrata, luta por valores humanitários, sofre com a perda de direitos e o avanço do nazismo no país, a cabeça fica tonta, pois o coirmão representa mais os seus valores.

São cruzamentos de princípios, um clube do bem contra um omisso, e dentro deles os grupos de torcedores identificando-se com seu rival, em exercício de alteridade inédito e tema riquíssimo para um projeto de doutorado.

Torcedores podem virar folha, ou torcer discretamente pelo coirmão, caso a situação ganhe contornos mais intensos, como é o caso, agora, de o Bahia unir-se a outros clubes para homenagear Kobe Bryant, com a camisa número 24.

Falecido em acidente de helicóptero, Bryant terminou gerando celeuma porque no Brasil criamos uma mania de chamar a pessoa gay de “três vezes oito” ou 24, porque o 24º grupo do Jogo do Bicho corresponde ao veado, mascote dos homossexuais, totais ou parciais.

A expressão rende debate porque o tipo alternativo sexualmente, o “viado”, viria da redução da expressão transviado: aquele que escolhe uma outra via, e não o animal, ainda que o veado tenha seus gracejos e até morra de susto, tamanha sua frescura.

O bicho pegou: está em crise a nossa maior torcida, a homossensível, conceito de prof. Albergaria, tradição nos estádios, lugar social onde os homens - torcedores e jogadores - podem agarrar-se todos, uns aos outros, e dar seus chiliques. O gol libera!

O tricolor cabra-macho, cidadão de bem, heteronormativo, de cuspir no chão e pegar nos bagos, pode não acostumar-se em ser representado pelo 24, ainda que siga curtindo em altíssima toda a vibração do agarra-agarra, com o primeiro amigão do lado, na hora do gol. Já o rubro-negro homofóbico vai tirar onda com o fato de o coirmão assumir sua porção bambi, na escancaração, sem precisar gastar dinheiro com terapia para tirar seu logunedé do armário.

E agora, qual o valor maior, o clube ou a orientação sexual? O clube ou os valores de cidadania? Entendo de corajosa importância o Bahia abraçar todas as bandeiras, atuando como partido, isso que o charlatão chama “marxismo cultural”.

O futebol pode tornar-se uma aula viva e diária de valores do convívio, visando a um mundo melhor para todas, todos, todxs em infinitas variações: esta é a revolução permanente pela bola.

Vou vestir a camisa do ecbahia.com, ofertada pelo Imperador Nelson, ou a do Bahia Livre, movimento do grande Pinto (lá ele), sem meus filhos virem, nem meu pai, pois poderia apanhar. A nossa, torcida, hoje, é toda do tricolor! Hasta el Bahia, siempre!

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.