Baiana decide entregar gêmeos para adoção, mas volta atrás após acolhimento

Grávida mudou de ideia após acolhimento da Defensoria; saiba como solicitar serviço

Publicado em 21 de junho de 2021 às 09:34

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Uma mulher baiana com dois filhos estava desempregada. Em uma noite casual, engravidou novamente. De gêmeos. Sua mãe, avó das crianças, tem transtorno mental. O pai das crianças simplesmente desapareceu no mundo. Diante deste cenário, Camila*, de 31 anos decidiu entregar as crianças para adoção.

Quer dizer, antes disso, desesperada e com a possibilidade de estar sozinha, sem emprego e com quatro filhos para criar, Camila pensou em aborto e até suicídio. Encaminhada para a Defensoria Pública pelo posto médico do seu bairro, em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador, todas essas possibilidades foram deixadas para trás por Camila.

Hoje, dois anos depois, Camila cuida amorosamente dos gêmeos, uma menina e um menino, e do filho mais velho, de 12 anos. O filho do meio, de 9, foi morar com o pai em outro estado. Mas, o que fez ela mudar de ideia? Bem, esse foi um longo processo que durou toda a gestação. Orientada por assistente social e psicóloga da Defensoria, soube que poderia fazer a entrega voluntária dos bebês e que esses, logo que nascessem, seriam encaminhados para adoção.

Em um primeiro momento, não teve dúvidas. Havia encontrado o melhor caminho. Enxergou seus filhos sendo cuidados por uma família estruturada. Chegou a ser levada a conhecer, inclusive, a instituição social onde deixaria as crianças para adoção. “O que passou pela minha cabeça foi desespero. Foi uma coisa que é inexplicável. Não foi uma coisa planejada, sabe? E foi de alguém que desapareceu, que não deu apoio, e que eu até tomei nojo”, contou Camila. “Mas com o acolhimento da Defensoria eu vi que não estava sozinha no mundo”.

No oitavo mês de gestação, acompanhada de perto pela psicóloga Rebeca Laranjera, Camila começou a mudar de ideia. “No início ela estava bem decidida a entregar as crianças logo que nascessem. Mas ela foi entendendo que havia uma rede de apoio que poderia ajudar. Nosso núcleo faz uma escuta especializada e um acompanhamento até a entrega. Mas no meio desse caminho muitas mães, ao serem acolhidas, recuam”, explica Rebeca.

“Mesmo com as dificuldades que ainda enfrento, não me arrependo de ter voltado atrás. Eu amo meus filhos. Eu quero que eles tenham orgulho de tudo. Quero que eles me vejam vencer, da fraqueza ao topo”, disse Camila. A defensora pública Gisele Aguiar, coordenadora da Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente (Dedica), disse que casos como o de Camila mostram que não devemos julgar mães que abandonam ou entregam os filhos para adoção.

A diferença é que, explica Gisele, o primeiro caso se constitui um crime. O segundo, por outro lado, é um direito da mulher. Mas ambos costumam ser feitos em momentos de extremo desespero e vulnerabilidade da mãe. “A entrega voluntária é prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente. Essas mães precisam ser acolhidas e terem ciência desse direito. Não cabe a nós julgar pessoas em extrema vulnerabilidade. É preciso tentar se colocar no lugar delas”, afirma Gisele, que, juntamente com o defensor público Marcus Cavalcanti, de Camaçari, apronta um projeto específico para acolher essas mulheres. “Queremos que a Defensoria se torne referência no atendimento de mães e gestantes que desejem entregar seus filhos”.

O projeto da Especializada vai se chamar Escolha Consciente. A decisão da entrega de bebês pode ocorrer antes ou depois do nascimento. “A gente não quer incentivar as mulheres a colocar seus filhos para adoção. A gente quer apenas que ela faça uma escolha consciente”, observa Gisele. 

*Nome fictício