Baiano preso em quarentena no Peru relata medo: ‘Situação está ficando descontrolada’

Fronteiras e restaurantes fecharam e turistas não têm como sair do país nem onde comer

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  • Gabriel Moura

Publicado em 18 de março de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

Com 86 casos confirmados de Covid-19 até a manhã desta terça-feira (17), o Peru adotou medidas drásticas para evitar o contágio da doença. Como parte do pacote anunciado pelo presidente Martín Vizcarra, o país fechou, dentre outros espaços, restaurantes, museus, rodovias, transporte público e as fronteiras, o que acabou deixando milhares de pessoas presas no país - inclusive brasileiros.De acordo com o Itamaraty, há atualmente 3.770 turistas brasileiros sem conseguir deixar o país vizinho, seja por via aérea ou terrestre. Dentre eles está o baiano Ederson Oliveira, 33 anos, administrador de empresas, que tinha passagem comprada para voltar no próximo dia 24, tentou antecipá-la para a segunda-feira (16) e não conseguiu. Agora, ele teme ter que ficar o período da querentena preso no país.

A espera não é o único problema: a primeira dificuldade é financeira, já que Ederson se planejou para ficar 10 dias no Peru (ele viajou no último dia 14) e pode ser obrigado a ficar ao menos 16. Isso, sem contar que o preço dos hotéis disparou, fazendo com que se torne ainda mais difícil ainda se manter o país.Além disso, por conta dos restaurantes estarem fechados, o baiano tem apenas uma refeição garantida por dia, o café da manhã servido no hotel. Na tarde da última segunda-feira (16), ele comeu apenas um sanduíche vendido no aeroporto. Nesta terça-feira (17), Ederson contou ao CORREIO que tentaria ir ao mercado comprar algo, apesar de os espaços estarem com acesso restrito.Sem apoio Outra reclamação é a falta de apoio dos consulados brasileiros. Nesta segunda (16), após ir ao aeroporto e não conseguir antecipar a passagem, Ederson foi para a Embaixada brasileira na capital, Lima, cidade onde ele está, para tentar obter algum tipo de apoio e orientação.

Mas, ao chegar lá, deparou-se com portões fechados e diversos brasileiros na porta buscando por ajuda. Um número de telefone foi disponibilizado para resolver situações emergenciais, mas, ao ligar para ele, a única orientação que recebeu foi para ficar de olho nas redes sociais da embaixada a fim de saber de atualizações.“Ou seja, em um momento de calamidade, com diversos brasileiros aqui em uma situação extremamente complicada, acompanhar através das redes sociais é algo totalmente fora da realidade. Nós temos passagens compradas para a volta, mas não temos dinheiro para ficar aqui por 15 dias. Esse não foi nosso planejamento financeiro. As coisas estão subindo de preço e não há como ficar aqui sem nenhum tipo de apoio”, detalha ele, que criou um grupo com mais de 180 brasileiros na mesma situação.Em nota enviada ao CORREIO, o Itamaraty garantiu estar negociando com o governo peruano e companhias aéreas para facilitar o retorno dos brasileiros, e também com as agências de hotéis para garantir a hospedagem dos mesmos. Além disso, o órgão reforçou o posicionamento de que é necessário ficar de olho nas redes sociais para obter novas informações.A recomendação dada pela Embaixada em Lima é de que mantenham a serenidade e sigam as instruções dadas pelas autoridades locais.Por um trizO quadrinista baiano Marcelo Lima,31, conseguiu voltar ao Brasil, mas foi por um triz. Ele já tinha comprado a passagem de volta para o dia 15, o mesmo dia em que o presidente peruano anunciou o fechamento das fronteiras. O brasileiro soube da decisão no caminho para o aeroporto e, ao chegar lá, deparou-se com uma situação caótica.Por sorte, ele já havia feito o check-in online e chegou ao local com três horas de antecedência. Por conta disso, apesar das grandes filas que enfrentou, Marcelo conseguiu embarcar com uma relativa tranquilidade. Mas, não antes de temer ficar preso no Peru.“Principalmente no caminho para o aeroporto, bateu o medo de o voo ser cancelado ou do engarrafamento fazer a gente se atrasar. Eu e minha namorada tivemos que sair do carro em que estávamos fora do aeroporto, pois não tinha como chegar mais perto. Foi bastante extenuante e eu estou bastante sentido com os relatos da galera que está presa no Peru. O presidente deveria ter dado um prazo maior para os turistas saírem”, avalia.