Bairros do Subúrbio registram crescimento de casos de coronavírus

Paripe tem o maior número de contaminados na região: 1738 desde o início da pandemia

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 11 de janeiro de 2021 às 06:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO

O turbulento ano de 2020 estava próximo de chegar ao fim e a estudante Jéssica Barreto, 19, já pensava em respirar aliviada por passar ilesa à covid-19, já que tanta gente não escapou da pandemia. Moradora do bairro de Paripe, no Subúrbio Ferroviário, ela cumpriu o isolamento por quatro meses até precisar voltar à rua para trabalhar. Numa dessas, teve contato com um infectado até então assintomático e, por volta do dia 15 de dezembro, testou positivo para a doença.

Jéssica faz parte de um universo muito maior: os casos de coronavírus aumentaram em diversos bairros do Subúrbio Ferroviário de forma exponencial entre outubro e dezembro do último ano de acordo com levantamento feito pelo Grupo  GeoCombate Covid-19 BA, ligado à Universidade Federal da Bahia (Ufba). O levantamento aponta que os bairros de Itacaranha, Plataforma, São João do Cabrito, Alto do Cabrito e Lobato são exemplos de regiões que tiveram aumento nesses três meses. E isso pode impactar em toda a região da Suburbana.

O bairro em que Jéssica mora, por exemplo, é onde há mais casos confirmados da doença de acordo com o Portal de Transparência da Covid-19, divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Já são 1738 casos desde o início da pandemia - mais até do que o bairro de Plataforma, que foi o epicentro do Subúrbio durante a primeira onda e hoje registra um total de 1530 casos confirmados.

Pesquisadora do Geocombate, a professora Patrícia Lustosa Brito aponta que os integrantes do grupo observaram que há um crescimento no número de novos casos na região, que vinha decrescendo até agosto. "Os últimos três meses chamaram muita atenção e é aí que podemos visualizar. Isso por si só já caracteriza um movimento que vemos em todo o Brasil", diz.

Alguns desses bairros chamam mais atenção por algumas características específicas que favorecem uma maior circulação de pessoas: em Periperi, por exemplo, o final de linha tem um fluxo de ônibus muito forte e isso faz com que muita gente passe por lá. Assim como Plataforma e Itacaranha, que têm taxa de números ativos elevadas em relação ao próprio Subúrbio e pelo número de novos casos.

Periperi tinha 73 casos ativos em novembro e em dezembro chegou a 144. Plataforma, por sua vez, tinha 51 casos em novembro e chegou a 71 novos casos no mês de dezembro. 

"Isso acaba levando a um aumento em outros bairros. Itacaranha, que é colado em Plataforma, saiu de cerca de 30 casos ativos em novembro para 100 em dezembro. Isso precisa ser levado em consideração", avalia a professora.  (Infográfico: Divulgação/GeoCombate) Vida normal O relato de quem vive nos bairros do Subúrbio é que o clima por lá é de normalidade: usa máscara quem quer, há festas com frequência considerável na rua e as praias são muito ocupadas. O marceneiro Fred Santana acredita que foi em uma dessas festas que acabou se contaminando pela primeira vez. Para fazer uma renda extra, vende bebidas em festas do tipo paredão e foi logo após um evento no bairro de Periperi que ele testou positivo para a doença.

"A gente fica numa situação muito difícil. Fui demitido da empresa que trabalhava logo no início da pandemia e encontrei nas festas uma oportunidade de fazer dinheiro aqui pra casa. Não dá pra viver só de auxílio. Então a gente escolhe: ou fica parado, ou se contamina. E eu não sei ficar parado sem dinheiro em casa", revela.

Em Paripe, Jéssica diz que o cotidiano é bem por aí. Segundo ela, não há como ficar isolada porque é preciso colocar a comida na mesa. Ela mora apenas com a mãe e as duas tiveram a doença. Nenhuma faz parte de grupos de risco e já estão recuperadas.

Apesar do crescimento no número de casos, nenhum bairro do Subúrbio está entre os dez bairros com maior número de casos confirmados, de acordo com a SMS. Atualmente, os cinco com o maior índice são Pernambués, Pituba, Brotas, Santa Cruz e Itapuã. Com exceção de Itapuã, todos estão sob a guarda das medidas de Proteção à Vida da Prefeitura de Salvador, que conta com testagem rápida e higienização das ruas, por exemplo.

Casos de coronavírus registrados no Subúrbio Paripe: 1738 Plataforma: 1530 Periperi: 1519 Lobato: 1214 Fazenda Coutos: 930 Coutos: 851 Itacaranha: 499 São João do Cabrito: 124 Alto da Terezinha: 152 Rio Sena: 359 Praia Grande: 386 Nova Constituinte: 41