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Gil Santos
Publicado em 2 de fevereiro de 2022 às 23:14
- Atualizado há 2 anos
Os bares do Rio Vermelho ficaram lotados, nesta quarta-feira (02), após a saída do presente de Iemanjá. Mesmo sem a tradicional festa, ocorreram eventos privados e reuniões de pequenos grupos de amigos regadas à bebida e música. >
O trabalhador autônomo Leandro Barbosa, 32 anos, desceu de um carro pedido por aplicativo já segurando uma latinha de cerveja. Ele contou que participa das homenagens à Iemanjá desde garoto e que costuma frequentar as duas celebrações, a religiosa e a profana. >
“Venho sempre pela manhã, faço minhas orações, almoço e fico com meus amigos até o final da tarde. Mas esse ano eu me atrasei, não deu para vir mais cedo, só deu para vir agora (por volta de 15h). E comecei a beber em casa para já chegar preparado”, contou. >
Ele não foi o único a ir ao Rio Vermelho com intenções festivas, mesmo com a interdição da praia e a suspensão da festa oficial por conta da pandemia. A balaustrada da praia foi transformada em arquibancada, com pessoas vestidas de branco, bebendo e confraternizando. A falta de música não foi empecilho. Até mesmo quem não é de Salvador entrou no clima, como os amigos Daniel Valença, 28, e Rodrigo Novaes, 29, ambos de Minas Gerais.>
“Salvador tem uma coisa mística que eu não sei explicar. As pessoas bebem ao mesmo tempo em que fazem os pedidos. Estive aqui numa Festa de Senhor do Bonfim há três anos e foi igualzinho. Um amigo disse que a graça só vai ser alcançada se beber e eu concordo”, brincou Rodrigo.>
Para evitar aglomerações, a prefeitura não montou programação especial para a data, nada de shows e nem de artistas, mas quem é baiano sabe que basta juntar duas pessoas batendo em uma lata que vira festa. Nas ruas, na porta dos prédios, como em um edifício na curva da Paciência, uma caixa de som ou um rádio eram o suficiente para animar quem estava por perto. Apesar desses episódios isolados, a fiscalização da Guarda Municipal e da Polícia Militar para evitar aglomerações foi rigorosa. >
Para a administradora Aline Carvalho, 33 anos, as medidas de proteção são importantes e precisam ser respeitadas, mas ela fez uma ressalva: “As pessoas tem que ser conscientes e o poder público precisa ter bom senso. Eu saí de casa de máscara e coloquei minhas flores no mar. Para onde vou estou de máscara, mas é inevitável que as pessoas interajam em um dia como o de hoje”, disse. >
A aposentada Maria Rita Gonçalves, 68 anos, que também foi ao Rio Vermelho, pensa diferente. Ela contou que deixou para levar as flores brancas à tarde, para evitar o tumulto da manhã. “As pessoas precisam entender que o momento está delicado demais para fazer festa em meio à multidão”, disse. >
À medida que as horas foram passando a quantidade de público foi crescendo cada vez mais, e o vai e vem nas ruas internas do Rio Vermelho ficou intenso. O casal de paulistanos Davi e Rafaela Mendonça, 44 e 38 anos, respectivamente, tiveram que vencer uma turbulência para chegar em Salvador, se arriscaram nas pedras escorregadias para colocar flores no mar, e a próxima provação era encontrar um lugar para comer. >
“Tem vários barzinhos e alguns funcionários estão nos abordando perguntando se queremos uma mesa. Então, tem variedade, mas estamos com nossa filha de 4 anos e os bares estão cheios. Estamos andando em busca de um local mais vazio, com preços acessíveis e em um ambiente agradável”, contou Rafaela. >
No tradicional Largo de Santana algumas pessoas contaram que estavam bebendo desde o início da manhã e recorreram à sombra da igreja para continuar a homenagem profana. O operador de caixa Rafael Sena, 35, que é do candomblé, foi categórico: “Iemanjá é nossa mãe e ela é alegria. Estamos bebendo em homenagem a ela, ao fato dela ter nos permitido saúde para estarmos aqui hoje. Todos os anos, entrego meus presentes e venho celebrar, como a maioria das pessoas. O profano não diminuiu a minha fé e nem é um desrespeito. Uma coisa não tem nada a ver com a outra”, garantiu.>