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Bargaço festeja cinco décadas com a abertura de novo restaurante no Horto Florestal

Restaurante criado por Leonel Rocha há 50 anos segue firme oferecendo uma cardápio que honra a cozinha baiana e as criações a base de frutos do mar

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  • Ronaldo Jacobina

Publicado em 23 de julho de 2022 às 11:00

 - Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Sora Maia / Correio

O Bargaço, fundado pelo saudoso Leonel Rocha, completou 50 anos e está preparando a abertura de uma nova casa no Horto Florestal. O restaurante, hoje comandado por Ricardo e Patrícia Rocha, filhos mais velhos do criador da marca, passou, ao longo destas cinco décadas, por vários tropeços, como as mortes do proprietário e da principal cozinheira, fechamento de filiais, pandemia e outros perrengues. Mas a casa, que sempre foi sinônimo de boa cozinha, se manteve firme e fiel ao propósito do seu fundador: o de honrar a comida baiana que tem como base os frutos do mar. Lagostas ao molho de manteiga  O cardápio, que traz novas criações, mantém a mesma qualidade dos pratos tradicionais responsáveis pelo sucesso da casa. Como a tradicional moqueca, cuja receita foi criada por dona Hilda Rocha, de 71 anos, viúva do proprietário. Era ela, que juntamente com o marido, à frente do salão, comandava a cozinha do boteco que seria batizado de Bar do Garçom, mas que acabou virando Bargaço porque o pintor errou na grafia. Enquanto dona Hilda, hoje aposentada, pilotava o fogão, Leonel atuava como garçom, ofício que aprendeu no Camafeu de Oxóssi e que, incentivado pelo patrão, decidiu iniciar um negócio próprio com a ajuda do chefe que cedeu pratos, talheres e outros itens para que o ex-funcionário tocasse  seu bar.  Coquilles: casquinha gratinada com recheio de peixe e camarão  O Bargaço cresceu, virou sinônimo de qualidade e se espalhou pelo país. Além de Salvador, a marca teve unidades em João Pessoa, Fortaleza, Brasília e São Paulo, fechadas após a morte de Leonel. Apenas a filial de Recife permanece aberta e caminhando bem. “Com a morte de meu pai, embora já trabalhássemos com ele, ficou difícil manter tantos negócios, porque tudo era comprado aqui, porcionado e enviado para as unidades. Depois que ele se foi, os sócios passaram a fazer o que queriam, e como nós não tínhamos pleno conhecimento destas operações externas, começamos a perceber que a qualidade da comida estava caindo nestas filiais, então resolvemos nos desfazer delas e nos concentrar na matriz que já tínhamos controle do funcionamento, e na de Recife, porque temos uma relação de confiança mútua com nosso sócio de lá até hoje, e que é um sucesso até hoje”, conta Patrícia. Siri mole frito: crocância e leveza O zelo pela entrega da comida continua sendo a bandeira dos herdeiros de Leonel. Ricardo, o filho mais velho, que começou a trabalhar com o pai aos 12 anos, dedica tempo integral à casa que, desde a pandemia, reduziu o horário de atendimento, funcionando das 12 às 18h. O menu variado poderia dificultar a escolha, mas a dúvida some quando batemos o olho no siri mole frito, na casquinha de polvo ou no camarão especial ao alho e óleo. Camarão especial ao alho e óleo  As porções são generosas, especialmente a do siri mole – que não se costuma encontrar em qualquer lugar – é de comer de olhos fechados. Bem devagarinho, para ir aproveitando, perninha por perninha, sentindo a maciez e a leveza da iguaria que chega à mesa tão sequinho que nem parece se tratar de uma fritura. O camarão especial dispensa comentários. Enche os olhos só de ver o tamanho do bicho! Já a casquinha de polvo, vale para quem, assim como eu, prefere sempre o siri mole à casquinha de siri que é mais fácil de ser encontrada por aí.

Depois das entradas vem, naturalmente, o prato principal. E é aí que a escolha fica difícil. Afinal, como dispensar a moqueca de camarão com peixe cuja receita segue fiel há cinco décadas! E sem pimentão, como exige dona Hilda que, embora hoje esteja longe da cozinha de lá, vive lembrando aos filhos que fiquem de olho nos cozinheiros para evitar essa barbaridade. “Onde já se viu colocar pimentão em moqueca?”, brada ela até hoje. 

Se é tempo de lagosta, como agora, no Bargaço ela sai em diversas modalidades: à francesa, a Thermidor, de moqueca ou de ensopado. Mas quer uma dica? Peça a Lagosta ao Molho de Manteiga. O prato, farto, serve bem de duas a três pessoas. E o melhor, chega exibindo toda sua beleza, mas já desgrudada da casca, o que evita aquela briga comum entre o talher e o bicho. Pra completar, vem com umas fatias de batatas cozidas e untadas na manteiga, descomplicadas e perfeitinhas!  Banana, caju, banana e ambrosia: doces caseiros do bufê de sobremesas Lembranças As duas unidades locais carregam lembranças da infância dos atuais gestores. Na matriz, foi onde os filhos nasceram e cresceram acompanhando a luta dos pais à frente do negócio. “Eu lembro, ainda pequenininha, que ficava num cercadinho, acompanhando o movimento dos clientes que, na maioria das vezes, elogiavam meu bom comportamento”, brinca Patrícia. Já a casa do Horto que vai sediar a nova unidade, foi onde Leonel viveu até o fim. A nova unidade seguirá o mesmo conceito da matriz, incluindo o salão propriamente dito que, assim como na matriz, ocupará a enorme varanda da casa cercada de verde, com uma bela vista, localizada no Condomínio Jardim Teresópolis. 

O cardápio, no começo, será o mesmo da matriz, com os clássicos da casa, incluindo o peixe inteiro assado no forno, um dos preferidos da fiel clientela, e o Grelhado Bargaço, composto de lagosta, peixe, camarão, legumes e arroz que tem feito o maior sucesso e que abre caminho para a novidade que os irmãos Rocha pretendem implantar no Horto quando a nova casa estiver rodando bem: a cozinha de frutos do mar na brasa. Voltando à matriz, da cozinha, hoje comandada pelo chef Marcio Bouças, apenas as sobremesas não saem de lá.

Mas, assim como todo o cardápio, segue a máxima: “antiguidade é posto”. O variado bufê de doces caseiros, por exemplo, composto de cocadas branca e preta, ambrosia, compotas de banana, jaca, caju e outras frutas, são feitos pela mesma família de doceiros que está na terceira geração seguindo a risca a receita da criadora. Só isso já justificaria pedir um mix de vários sabores. Afinal, estaremos respeitando a tradição. 

Serviço:  Bargaço - @restaurantebargaco  Rua Antônio da Silva Coelho, nº 43, Lotes 18 e 19, Jardim Armação.  Tel. 71 3231 1000