Biografia reúne 'memórias buliçosas' de Jorge Amado

Lançamento nacional aconteceu na noite desta terça-feira (27), no Palacete das Artes

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  • Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2018 às 23:09

- Atualizado há um ano

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Uma noite para lembrar Jorge Amado (1912-1900) e para ligar as pontas das histórias e memórias envolvendo o escritor. Foi esse o tom do lançamento do livro Jorge Amado: Uma Biografia (Editora Todavia), da jornalista baiana Josélia Aguiar, na noite desta terça-feira (27), no Palacete das Artes. Fruto de um trabalho que durou oito anos e que começou com a leitura das memórias do escritor para a escrita de um perfil comemorativo do seu centenário, a obra ganhou corpo quando Josélia buscou “entender os momentos não contados, porque não era a intenção ou porque não interessava”. Com acesso exclusivo a documentos de família e cartas de parentes, amigos e outros escritores, além de exaustivas entrevistas e pesquisas no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, o livro retrata a história de um dos mais populares escritores do século XX. Um homem que, saído da Bahia, tornou-se cidadão do mundo, amigo de personalidades como Sartre, Neruda e Saramago, traduzido para dezenas de idiomas.  (Foto: Betto Jr. CORREIO) “Como historiadora, queria inserir Jorge Amado num mundo externo, na história literária, política. Queria remontar o que aconteceu nos anos 30, época em que não há muita coisa sobre ele na imprensa; a relação dele com os amigos que viraram inimigos, com os inimigos que viraram amigos”, explicou a jornalista, ao ressaltar que nada mais justo que o lançamento nacional da biografia acontecer na Bahia. “Esse projeto nasceu em São Paulo, o livro é de uma editora paulista, mas esse lançamento tinha que começar aqui”, sentenciou, ao apresentar os convidados com quem dialogaria no evento: a também escritora Paloma Amado, filha de Jorge e Zélia Gattai (1916- 2008), “uma grande interlocutora do projeto”; Gildeci Leite, professor de Literatura da Uneb e organizador do Dicionário Cultural Amadiano; e o músico Paquito, que apresentou duas canções compostas por Jorge Amado ao lado de Dorival e Danilo Caymmi, além de uma composição “uma assinada por ele e Gerônimo, mas ”com forte influência amadiana”, assinada por ele e Gerônimo. Durante a conversa, Paloma Amado lembrou como foi escrever, ao lado da mãe e do irmão, João Jorge, o livro de lembranças Um Baiano Romântico e Sensual (Ed. Record, 2001), em que narram histórias vividas ao lado do patriarca da família.  “Quando a gente vai falar sobre nossas memórias, sobre as coisas que vivemos juntos, há muita coisa parecida, mas muita coisa que não é parecida também, porque narrar passa pela experiência de cada um, pela subjetividade. Além disso, memória é uma coisa buliçosa, muito viva, um caso vai levando a outro”, comentou.  (Foto: Betto Jr. CORREIO) Jorge, inclusive, era um admirador de livro de memórias e foi ele quem incentivou Zélia a se tornar uma memorialista, aos 63 anos. Era admirador também da diversidade étnica e da cultura afrobaiana. “Todo mundo sabe que há sertão em Jorge Amado, em Seara Vermelha. Mas o que eu mais gosto são as obras besuntadas de dendê. Se ele acreditava na democracia racial, ele via isso a partir dos oprimidos, da senzala. Ele sempre foi libertário”, comentou ao classificar o escritor como o pai da baianidade tal qual a conhecemos. “Sua obra é alvo de controvérsia, mas não há como negar que ele é nosso Shakespeare”, finalizou.  

Presente no evento de lançamento, o professor e escritor Wesley Correia também endossou a importância de Jorge Amado, o qual, segundo ele, deveria ter ainda mais destaque no Ensino Básico. Jorge Amado construiu uma obra monumental, que deu à Bahia e ao Brasil uma noção de pertencimento cultural muito profundo. É um dos autores mais traduzidos na literatura brasileira e cuja produtividade foi mais longeva. Em sua obra, há uma dimensão sociológica que em tudo contribui para nossa formação enquanto brasileiros. Basta olhar para o modo como as ditas classes subaltenizadas estão representadas em sua literatura, quem são os Capitães de Areia que ganham luz na sua narrativa. O lançamento de uma biografia como essa tem uma importância didática, para nos dar a conhecer ainda mais esse escritor", destacou.