Bloqueio total? Comitê científico sugere lockdown, mas Neto responde que não, pelo menos por enquanto

Medida drástica seria necessária em quatro cidades da Bahia, inclusive Salvador, diz comitê científico, mas prefeito descarta

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  • Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva

O comitê científico do Consórcio Nordeste  recomendou na sexta-feira que seja adotado o lockdown em Salvador e em mais três cidades do interior baiano: Feira de Santana, Itabuna e Teixeira de Freitas. A orientação por um nível de isolamento mais severo foi contestada logo em seguida pelo prefeito ACM Neto. Segundo ele, os parâmetros técnicos e científicos examinados pela Prefeitura de Salvador são diferentes dos utilizados pelo consórcio dos estados. 

Ao mesmo tempo em que buscou passar uma mensagem de tranquilidade para a população em relação ao lockdown neste momento, o prefeito da capital ressaltou que a medida pode ser necessária no futuro, caso haja uma explosão no número de casos. “Essa medida nunca foi descartada, mas ela jamais foi considerada como prioridade para a Prefeitura”, explicou. 

O cientista Miguel Nicolelis, um dos coordenadores do comitê que assessora os governos estaduais, explicou que a recomendação se baseou em um aumento no número de casos nas quatro cidades baianas nos últimos dias. “Usamos como base a grande sobrecarga do sistema de saúde, ocupação dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), e aumento no número de casos nos últimos dias”, explicou.  

No caso de Salvador, o boletim apontou um aumento de 56% nos casos de infecções nos últimos 14 dias, mesmo com as medidas de bloqueio seletivo aplicadas em bairros da cidade. 

Para o cientista, a capital baiana vive um momento de aceleração no número de casos. Atualmente, segundo o estudo, o número de infectados em Salvador duplica a cada 16 dias, assim como acontece nas cidades mais afetadas pela pandemia, como Fortaleza. 

Prefeitura atenta Foi a primeira vez que o comitê recomendou a medida mais severa para Salvador. ACM Neto disse que não concorda com a orientação. “Essa recomendação não tem qualquer tipo de impacto ou força indicativa para a prefeitura. Eu não tenho buscado suporte desse consórcio, e sim de técnicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Universidade Federal da Bahia (Ufba) e trocamos experiência com outras prefeituras”, disse.  

Neto destacou que as decisões tomadas pelo gestão municipal são todas baseadas em critérios técnicos. Segundo ele, todo o esforço realizado pela Prefeitura tem sido no sentido de evitar a medida. “Nós fomos bastante criteriosos na hora de definir o que poderia fechar e o que poderia ficar aberto”, lembra o prefeito. 

Neto destacou que os cuidados que estão sendo tomados em relação ao processo de reabertura se devem exatamente à preocupação de que o processo provoque uma explosão no número de casos.  “Se nós fizermos uma abertura inadequada e inoportuna, pode ser que haja uma explosão do número de casos e depois não teremos outro alternativa a não ser decretar o lockdown”, explicou Neto, repetindo o que já tinha dito na quinta-feira. 

Interior   No caso das três cidades do interior baiano, Feira de Santana, Teixeira de Freitas e Itabuna, a recomendação do lockdown tem como base critérios semelhantes aos adotados na análise da capital, com o acréscimo do fluxo rodoviário intenso. “É o que acontece em Feira de Santana e Teixeira de Freitas. São dois casos típicos de cidades que ficam no centro de rodovias movimentadas, o que pode aumentar a quantidade de casos no local”, disse Miguel Nicolelis.  

Por esta razão, o comitê recomenda no boletim que a BR-324, que liga Salvador a Feira de Santana, passe a ser considerada como alvo principal para instalação de barreiras sanitárias e possível bloqueio intermitente de tráfego de carros particulares e ônibus intermunicipais. Com isso, seria mantido apenas o tráfego de transporte de carga essencial e de pacientes.  

Para o grupo, essa decisão vai reduzir a transmissão de casos de Salvador para o interior do estado. No entanto, com a interiorização da pandemia, os cientistas estão observando que um novo fenômeno pode acontecer, o chamado “efeito bumerangue”. “Nós observamos que a covid-19, de modo geral, começou no litoral e capitais do Nordeste. Depois, foi para o interior. Agora, os casos do interior voltam para as capitais, através do sistema de saúde”, explicou Nicolelis.  

O aumento de casos no interior dos estados resulta num fluxo de pacientes em estado grave transferidos para as capitais dos estados.

As três estratégias 

Isolamento social  é, em princípio, uma sugestão preventiva para todos para que as pessoas fiquem em casa

Quarentena é uma determinação oficial de isolamento decretada por um governo

Lockdown é uma medida de bloqueio total que, em geral, inclui também o fechamento de vias e proíbe deslocamentos e viagens não essenciais