Bolota, um olimpiano no Vitória: que golaço!

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  • Paulo Leandro

Publicado em 26 de agosto de 2021 às 14:00

- Atualizado há um ano

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Há erro de métrica, por injustiça, ao contabilizarmos um “goal”, quando a bola é empurrada de canela, mas a premiação é igual (um), se o autor assina uma pintura em movimento, como fez nosso Bolota Soares, ao marcar um olímpico, batido do córner direto para os cordéis do Guarani.

A bola veio insolente, da esquina, pelo alto, na carruagem de Hélio, sobrevoando toda a extensão da linha de fundo até ultrapassar o Monte Goleiro e fazer chuá no outro lado da trave, um lance para ser armazenado na antologia de maravilhas da natureza do fútilbol-arte.

Ao apreciar mais uma e outra e tantas vezes a brilhante preciosidade, tem-se a impressão de uma enchente, invadindo as águas imaginárias a cidadela visitante, até tornar-se viva na Cachoeira Mandassaia, ao findar-se bonita trilha de bike conduzida por Dill, a deusa da Saúde.

O lance vem emprenhado de talento desde a origem, uma vez esta denominação – olímpico – referir-se à Seleção Uruguaia, bicampeã dos Jogos de 1924 e 1928, tendo sido inventado este raro tipo de “goal” no clássico primordial sul-americano da Celeste com a Argentina.

Assoprou aos ouvidos do oitavo sábio – Bolota –, a décima musa, – Bôlonias –, citada por Diôgenes Laêrtius: “toca na justa medida, nem forte e nem fraco, ao lado da criança, e ao encontro de pé e bola, decifra os enigmas da física, levando em conta atrito e resistência”.

Não se acuse o quíper bugrino de omissão, negligência, falha mecânica ou qualquer intempérie, pois o Polifemo estava bem colocado e foi vencido na curva da bola, pode-se vê-la conduzida pela única flecha de Oxotokanxoxô, acertando em cheio o alvo peito da grande ave.

Abriu espaço o mitógrafo na letra B ou S, aproveitando a comodidade do ambiente digital, tendo escrito Bolota Soares verbete eterno, pressupondo ingênitas e infinitas as manifestações divinais, em sensação de afogadilho, aumentando a tensão antes do deleite.

Vinha o Campeão de Empates da conquista do primeiro turno da Supersérie (campeonato de acesso), contando 10 resultados iguais, desta vez deixando o vice a outro, o Cruzeiro, portanto carecia o Decano dar esta vitória, mantida a humilde média de umazinha por mês.

Esta suposta representação da “realidade” nua e plenamente útil escapa à futilidade da aquarela tingida nos tons rubros e negros pelo salvador B.S., a todo momento reprisada no youtube mental de quem revê a aura benjaminiana de beleza mais perfeita.

Nosso torcedor perdeu o desejo por lances assim, e anda triste a ponto de não saber mais apreciá-los, persuadido pela infame tática do consequencialismo: o foco é no resultado, os fins justificando quaisquer meios, o grosso hoje tem lugar garantido no time e o artista tem de lutar.

Os pintores precisam ser titulares, também o meia Eduardo estaria autorizado a ocupar sua posição, por ter assinalado dois golaços de fora da área, “a arte existe para a realidade não nos destruir”, lembrai-vos dos aforismos do anticristo.

Como álibi, o jogador atual pode queixar-se do excesso de competições, e “consequente-mente” falta de datas para treinar, pois o hábito faz a virtude, reduzindo-se à aporia: por que Bolota é o único capaz de descrever a genial parábola e ninguém mais desde Tales de Miletus?

Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.