Bolsonaro diz que Moro aceitaria demissão de Valeixo se indicado para o STF

Moro pediu demissão do Ministério da Justiça alegando interferência política do presidente na PF

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  • Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2020 às 17:47

- Atualizado há um ano

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Durante um pronunciamento de cinquenta minutos na tarde desta sexta-feira (24), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o ex-ministro da Justiça e Segurança Sergio Moro estava a par da exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Mauricio Valeixo.

Segundo Bolsonaro, o desacordo e o posterior pedido de demissão do ministro na manhã de hoje existiram por uma condição exigida por Moro, e não atendida por ele. "Mais de uma vez, o senhor Sergio Moro disse para mim: 'Você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o STF'", declarou o presidente durante a coletiva. 

Para Bolsonaro, Moro tem compromisso "com o próprio ego", "consigo próprio" e "não com o Brasil". E frisou:  "Como o senhor disse hoje, na sua coletiva, por três vezes, o senhor tem uma biografia, mas eu tenho um Brasil a zelar". No Twitter, o ministro disse que a permanência de Valeixo não foi tratada como moeda de troca por ele."Se ele quisesse ter independência, poderia vir candidato em 2018. Agora, eu não posso conviver ou fica difícil a convivência com uma pessoa que pensa bastante diferente de você" - Jair BolsonaroO presidente também respondeu às acusações sobre interferência nas investigações da Polícia Federal. "Nunca pedi pra blindar ninguém da minha família, jamais faria isso. Agora, eu lamento que aquela pessoa que mais tinha como defender o presidente da república dentro de uma legalidade não tenha feito isso", comentou.

Por diversas vezes, porém, pediu e quase "implorou" para Moro dar informações sobre investigações de interesse do chefe do Planalto, entre elas o atentado à facada na campanha presidencial, o caso do porteiro do Rio de Janeiro e informações relacionadas ao filho Jair Renan Bolsonaro.

Durante o pronunciamento, Bolsonaro enfatizou por diversas vezes que se sente decepcionado com o ex-ministro. "Uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é conviver com ela", enfatizou.

Durante café da manhã com outros ministros na manhã desta sexta-feira (24), o presidente já havia antecipado a repercussão que a decisão do ministro teria. "Hoje no café com parlamentares eu disse que eles conheceriam uma pessoa que tem compromisso com ego, consigo próprio, e não com o Brasil. 'Hoje essa pessoa vai buscar uma maneira de botar uma cunha entre eu e o povo brasileiro'. Isso acontefeu há poucas horas", destacou.

Antes de fazer o pronunciamento, o presidente da República afirmou em uma rede social que iria restabelecer "a verdade" na fala à imprensa.  Ele iniciou a fala fazendo um "breve histórico" e lembrando como conheceu o ministro, ainda deputado, em março de 2017, num aeroporto. "Conhecemos Sérgio Moro da Vara Federal de Curitiba. Ninguém nega seu brilhante de trabalho. Meu primeiro contato foi em 30 de março de 2017, no aeroporto de Brasília. Ele me ignorou, a imprensa toda noticiou isso, dando um descrédito a minha pessoa. Fiquei triste, era um humilde deputado", recordou o presidente. A aproximação dos dois aconteceu no segundo turno das eleições presidenciais, em outubro de 2018.

"Após o primeiro turno, foi que recebi ele na minha casa na Barra da Tijuca, ao lado de Paulo Guedes, que já era ministro da economia. Aí traçamos algumas coisas de como ele seria tratado se aceitasse ser ministro. Ele não participou da minha campanha. Acertamos que teria autonomia, o que não é sinal de soberania.  Falei a todos ministros, e a ele também, do meu poder de veto. A todos os ministros eu fiz dessa maneira. Em 90% dos casos eu dei sinal verde, assim foi com o sehor Valeixo, até ontem diretor-geral da nossa honrada Polícia Federal. A exoneração dele foi autorizada por Moro", insistiu o presidente.

Veja algumas declarações de Bolsonaro:"Não são verdadeiras acusações que eu forçaria saber sobre as investigações em andamento (a não ser aquelas via interferência como súplica, como a do caso Adélio,  do porteiro e do meu filho 04). Desculpe senhor ministro, mas você não vai me chamar de mentiroso. Não existe acusação mais grave para um homem como eu."   "Alguns prefeitos e governadores estão cometendo tremendos absurdos [acerca do isolamento social durante a quarentena]. É o governo federal tem que pressionar? E quem faz isso? O presidente ou o ministro da pasta responsável?"   "Para aquilo que defendi em campanha e pré-campanha os ministros têm que estar junto comigo, caso contrário não estão no governo certo!"   "Nunca pedi para ele o andamento de qualquer processo até porque a inteligência com ele perdeu espaço na Justiça."