Bolsonaro indica 31 de março como data para fim da pandemia no Brasil

Mudança para endemia deve acabar com obrigatoriedade de máscaras, acredita presidente

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 17 de março de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO
Primeiro compromisso público do presidente Jair Bolsonaro foi no Senai Cimatec por Marina Silva/CORREIO

O presidente Jair Bolsonaro desembarcou ontem pela manhã na Bahia feliz com os rumos que a pandemia de covid-19 tem tomado no país, mas bastante insatisfeito com a atuação da Petrobras no mercado. Se depender do governo, a pandemia de covid-19 está com os dias contados no Brasil. Acaba no próximo dia 31, disse Bolsonaro a jornalistas ontem pela manhã, em sua chegada ao Senai Cimatec, na Avenida Orlando Gomes.  

Com a agenda pública totalmente dedicada à Bahia, ele deixou o Cimatec, onde almoçou com empresários, e partiu para uma visita à sede das Obras Sociais de Irmã Dulce (Osid), no Largo de Roma, no início da tarde. Lá, foi recebido por apoiadores, em sua maioria vestidos de verde e amarelo, que tomaram toda a calçada em frente ao local. Alguns transeuntes chegaram a gritar palavras de ordem contra ele, mas suas vozes foram abafadas pelos partidários do presidente. 

O dia de visitas foi finalizado com uma ida surpresa do presidente à Igreja do Nosso Senhor do Bonfim. Ele chegou ao local em cima da caçamba de uma pick-up, acompanhado de ministros e parlamentares aliados. Mais uma vez a população se dividiu entre palavras de apoio e críticas ao chefe do Poder Executivo Federal. 

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Ao falar sobre a reclassificação da pandemia para endemia, Bolsonaro fez questão de ressaltar, por mais de uma vez, que a iniciativa era do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e que ele, como presidente, apenas apoia a idea. “Tá aqui o Queiroga, já deu uma declaração há dez dias, mais ou menos. A tendência do Queiroga, que é a autoridade nesta questão, tem conversado na Câmara dos Deputados, com parlamentares, e também no Supremo Tribunal Federal... A ideia dele é passarmos de pandemia para uma endemia e aí vocês irão ficar livres da máscara em definitivo", ressaltou ele, que durante todo tempo em público permaneceu sem o uso da proteção facial. 

Endemia é, basicamente, uma doença recorrente, para a qual a população e os serviços de saúde já estão preparados. A Lei 13.979/2020 definiu que cabe ao Ministério da Saúde estabelecer a duração das medidas de emergência em Saúde Pública. 

Aos falar sobre o assunto, Bolsonaro voltou a criticar as estratégias utilizadas no controle da da doença e descartou a preocupação com a chegada de novas variantes de infecção. Nos últimos dias, o Ministério da Saúde anunciou que monitora casos suspeitos no Brasil de infecções pela Deltacron, uma multação do coronavírus, que mesclou as variantes Delta e Ômicron. 

“A gente não pode ficar vivendo de onda, é uma realidade. Vocês já viram, se ficar em casa o vírus não vai embora. Quase quebraram a economia. Talvez, o único chefe de estado do mundo que disse que não deveríamos ficar em casa, que tínhamos que trabalhar, tenha sido eu”, disse, ressaltando que, no entender dele, apenas idosos e portadores de comorbidades deveriam ser alvos de maiores cuidados. “Hoje, vários estudos comprovam que eu estava certo. Eu não errei nenhuma, apenas estudei e tive coragem para enfrentar o problema”, defendeu-se. 

Em pronunciamento na Osid, Queiroga não falou diretamente sobre a reclassificação da pandemia, mas destacou que o "presidente enfrentou a maior emergência de saúde pública do mundo" e lembrou que há quinze dias os números relacionados à covid são decrescentes. "O SUS (Sistema Único de Saúde) está fortalecido. Em 2020 e 2021, foram acrescidos R$ 100 bilhões ao orçamento de Saúde no Brasil", lembrou.  

Preços dos combustíveis Jair Bolsonaro ainda falou sobre a questão dos preços dos combustíveis. Ao comentar o assunto, ele criticou a atuação da Petrobras no mercado: “Não é aquilo que eu gostaria”. Ele ainda citou a Refinaria de Mataripe, vendida pela Petrobras para a Acelen, empresa do fundo Mubadala, em dezembro do ano passado. 

“Por coincidência, a única refinaria que é privatizada (Mataripe) foi a que resolveu sair na frente. Hoje em dia, dados do mercado internacional indicam que o PPI, preço de paridade internacional, estão abaixo dos praticados aqui dentro”, destacou. Ele frisou não interferir nas decisões da Petrobras, mas disse que se pudesse teria sugestões a dar. “Não estou cobrando nada da Petrobras, eu, como presidente da República, não interfiro lá. Se pudesse interferir teria dado outras sugestões. A gente espera que com a queda que teve, do barril de petróleo passando de US$ 135 para US$ 100, a Petrobras anuncie uma redução de preços. Todo mundo espera”, disse. 

Em seguida, o presidente concedeu uma entrevista ao SBT, onde enfatizou as críticas à empresa e sinalizou a possibilidade de demitir o presidente da estatal, o general Joaquim Silva e Luna. Ele ainda falou sobre a possibilidade de privatização da empresa. “Qualquer nova alta a gente vai, da nossa parte aqui, desencadear um processo para que esse reajuste não chegue na ponta da linha para o consumidor. É impagável o preço dos combustíveis no Brasil. E lamentavelmente a Petrobras não colabora com nada”, declarou.

“Muita gente me critica, como se eu tivesse poderes sobre a Petrobras, não tenho poderes sobre a Petrobras. Para mim, é uma empresa que poderia ser privatizada hoje, ficaria livre deste problema. E a Petrobras se transformou na Petrobras Futebol Clube, onde o clubinho lá de dentro só pensa neles, jamais pensam no Brasil”, acrescentou.

Na mesma entrevista, Bolsonaro disse que existe a possibilidade de trocar o presidente da Petrobras. “Existe essa possibilidade”, respondeu ao ser questionado sobre o tema. “Todo mundo no governo, ministros, secretários, diretores de empresas, presidentes de estatais podem ser substituídos se não estiverem fazendo o trabalho a contento. Então, não quer dizer que vai ser trocado ou que não vai ser trocado. Eu só não posso trocar o vice-presidente da República. O resto, todos podem ser trocados, obviamente, por motivos de produtividade, por motivo de falha ou omissão no respectivo serviço”, declarou.

Críticas a antecessores Durante um encontro com empresários, ele defendeu a necessidade de o país investir em tecnologia. “Quem não investe em tecnologia está sujeito a retornar para a idade da pedra”, disse, citando o potencial brasileiro para a produção de materiais como grafeno e nióbio. Numa crítica aos seus antecessores, disse que o Ministério da Ciência e Tecnologia já teria sido comandando por alguém “que não sabia a diferença entre gravidade e gravidez”. 

“O que eram os ministérios do Brasil no passado? Como eram ocupados? A começar pela Defesa, como eram ocupados, qual era o perfil das pessoas? Não sabia o que era aquilo, mas foi colocado politicamente na frente da Defesa”, disse. Na sequência, questionou o motivo de os militares terem sido colocados em segundo plano por governos nos últimos 20 anos, período que coincide com os governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Roussef (PT) e Michel Temer (MDB). Para ele, o motivo estaria na resistência dos militares às doutrinas socialistas. 

Ao falar sobre o estado da educação no Brasil, o presidente citou diretamente o PT, apontado por ele como culpado pelos problemas enfrentados na área. “A única coisa boa que nós temos na área da educação é que chegamos a um ponto em que não tem mais como piorar. Parabéns, PT, estamos em último lugar na prova do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes)”, acusou. 

No decorrer do seu discurso, o presidente passou a falar sobre uma luta por liberdade e comparou as eleições a uma luta entre o bem e o mal. “Nós não estamos falando de direita e esquerda, estamos falando do bem contra o mal”, comparou.

Ele definiu o Cimatec como “o futuro do Brasil”. O presidente fez uma visita às instalações do centro de pesquisa e ensino da Federação das Industrias do Estado da Bahia (FIEB). “Perguntei para as autoridades que estão nos acompanhando, se fosse em um outro governo, quem seria o ministro de Ciência Tecnologia. Não seria uma pessoa habilitada e técnica como o Marcos Pontes", afirmou. Segundo o presidente, os interlocutores responderam que sem indicações técnicas teriam dificuldades para dar a "devida velocidade" para o desenvolvimento de projetos. 

"Eu sempre fui estudioso, lógico que há 50 anos atrás, então está tudo diferente hoje. Estando com a garotada mais jovem hoje aqui, vimos o desenvolvimento de tecnologia de ponta para o Brasil

Questionado a respeito das eleições, fez questão de ressaltar que estava fazendo uma visita de natureza técnica, e não política, mas se disse atento ao cenário eleitoral na Bahia e apontou o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos), como o seu possível candidato. “Será o nosso candidato”, disse. “Vamos supor, eu reeleito e ele eleito aqui, há uma maior interação entre o estado e a União”, projetou.

Aratu receberá investimento de R$ 689 milhões Durante a visita ao Senai Cimatec, o presidente Jair Bolsonaro participou da assinatura de um contrato entre o Grupo Simpar e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB). O financiamento de R$ 536 milhões será destinado à modernização dos terminais ATU12 e ATU18, do Porto de Aratu, na Bahia. 

O investimento total do projeto de modernização dos dois terminais soma R$ 689,8 milhões e inclui construção de duas áreas com infraestrutura para movimentação e armazenagem de cargas. A CS Infra, empresa da Simpar, irá desembolsar R$ 154,2 milhões, por meio de recursos próprios, na concretização das obras que devem gerar cerca de 450 empregos.

“O investimento é fundamental para melhorias na infraestrutura e modernização dos dois terminais. A CS Infra irá oferecer alto nível de serviço aos exportadores e importadores, proporcionando uma melhor condição ao usuário do porto, gerar novas oportunidades de negócios, além de fortalecer a economia local e renda, com a geração de novos empregos”, destaca Marcos Tourinho, diretor-presidente da CS Portos, empresa da CS Infra responsável pelos terminais portuários.

O projeto deve aumentar a capacidade de movimentação, armazenagem e a operação de cais de granéis minerais como fertilizantes, coque, concentrado de cobre, enxofre e magnesita. 

Com 150 mil metros quadrados (m²), o terminal ATU12 receberá investimentos para implantação de um novo sistema de transportadores de correias, com mais capacidade; casas de transferência para melhorar a movimentação dos granéis e novo descarregador de navios, além de um novo armazém para fertilizantes com capacidade de 80 mil toneladas e melhorias no pátio de armazenagem e na estrutura offshore do píer de atracação. O ATU12 atende às cargas de graneis minerais.

No caso do terminal ATU18, que possui uma área de 51 mil m², o capital será aplicado em 5 silos de 18 mil toneladas cada, para armazenagem de grãos; um novo píer de atracação com sistema de correias transportadoras; e pavimentação e infraestrutura em toda a área onshore greenfield.

A expectativa é que as obras de reforma, ampliação e aquisição de novos equipamentos permitam um relevante aumento na capacidade dos terminais e consequentemente na movimentação de cargas, e como reflexo, uma maior arrecadação dos tributos nas esferas municipal, estadual e federal.  O contrato de concessão terá duração de 25 e 15 anos, respectivamente, em que ambos poderão ser prorrogados por até 70 anos. 

Nas Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), o presidente acompanhou o lançamento da pedra fundamental da nova unidade de Bioimagem da OSID, que está sendo construída na sede da instituição, em Salvador. Com a implantação do novo núcleo, as Obras Sociais irão ampliar em cerca de 15% a oferta de procedimentos nesse campo, incluindo novos exames junto à população, como ressonância magnética e densitometria óssea. 

De acordo com a coordenadora do Serviço de Biomagem da entidade, Tatiana Braga, milhares de pacientes já são beneficiados hoje com a realização de 101 mil procedimentos por ano, incluindo exames de raio X, ultrassonografia, tomografia, mamografia digital, exames contrastados com mesa telecomandada e punção. “Para mim, que estou nas Obras Sociais há 22 anos, desde que me formei, é muito gratificante acompanhar o crescimento da instituição e a ampliação dos serviços junto aos nossos pacientes”.

Segundo o gestor de Infraestrutura da OSID, Jorge Eduardo Vaz, a previsão é que a primeira etapa da nova Bioimagem, que será construída em uma área contígua ao Hospital Santo Antônio, seja concluída até o final de 2022: “Com os recursos enviados pelo Governo Federal, nós adquirimos, através de licitação, o aparelho de ressonância magnética que será utilizado nesta unidade, e demos início à construção desta etapa inicial, contando também com o apoio de doações oriundas da recente campanha solidária em prol da nova Bioimagem”. 

Vaz esclarece que para concluir as etapas seguintes do novo núcleo, que terá 1.400 metros quadrados de área construída, “será necessária nova captação de recursos”.