Briga de facções motivou compra de arma, diz defesa de filho de PM que matou ex

Adriel alega que revólver usado na morte de Andreza foi para proteção do casal; família da vítima nega

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  • Bruno Wendel

Publicado em 26 de setembro de 2017 às 15:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Gil Santos/ CORREIO

Andreza e Adriel moravam no mesmo bairro, mas em localidades distintas (Foto: Reprodução) A defesa de Adriel Montenegro dos Santos, 21 anos, acusado de matar a ex-namorada Andreza Victória Santana da Paixão, 15, no dia 17 de abril deste ano em Nova Brasília de Itapuã, disse que a arma usada no crime, um revólver calibre 38, foi comprada por Adriel para proteger o casal de ameaças de duas facções. Os dois moravam em localidades do bairro de Itapuã, porém cada região é controlada por um grupo de traficantes diferente.  

“Ela morava no Alto do Coqueirinho, onde o domínio é da facção BDM (Bonde do Maluco). Já ele, em Nova Brasília de Itapuã, onde a atuação é do CP (Comando da Paz). Os dois já foram ameaçados. Disseram que iam bater e corta o cabelo de Andreza. Já para Adriel, falaram que iam atirar nele. Por isso ele comprou a arma, meramente para defender o casal, já que os dois andavam juntos”, declara Roberto Walace Carvalho Pinto, advogado de Adriel.

A defesa afirma que o disparo que matou a adolescente saiu de um revólver calibre 38, arma, que segundo Adriel, foi vendida após o crime na Feira do Rolo, na Baixa do Fiscal. A polícia confirmou a informação, mas, na época do crime, a assessoria da Polícia Civil divulgou o resultado do exame de necropsia da vítima, realizado pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT), que indicava que o projétil que matou Andreza pertencia a uma pistola ponto 40, de uso restrito das polícias Civil e Militar. Ainda de acordo com informações divulgadas pela Polícia Civil no dia 27 de abril, Adriel residia com o pai, que é policial militar. 

Nesta segunda-feira (25), Adriel se entregou no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba. Ele chegou acompanhado do pai e do advogado Roberto Walace. Adriel teve o nome incluído no baralho do crime após o assassinato (Foto: reprodução) Reconciliação Segundo Roberto, no dia em que Andreza foi baleada, ela foi à casa de Adriel para uma reconciliação e, após um desentendimento, a adolescente pegou a arma e apontou para o rapaz. “Ela não tinha um bom relacionamento com a própria família, tanto que vivia na casa de Adriel. Tinha acesso livre. No fatídico dia, a porta estava aberta e Andreza entrou e insistiu na reconciliação, mas Adriel não quis porque ela tinha abortado um filho deles. Como sabia da existência da arma, Andreza pegou o revólver e apontou contra Adriel, que tentou tomar a arma. Houve uma luta corporal e um disparo acidental em seguida”, conta Roberto Walace. 

Apesar de as investigações do DHPP apontarem que Andreza morreu com um tiro na nuca, a defesa contesta a versão. “O tiro foi do lado direito do rosto”, diz Roberto Walace. Segundo o advogado, Adriel fugiu na ocasião porque temia pela própria vida, mas não soube explicar porque somente agora resolveu se entregar. “O pai dele me procurou há 15 dias pedindo para defender o filho dele. Então, o orientei a se entregar. Inicialmente, ele não sabia que Andreza tinha morrido e somente depois foi informado que era procurado pelo crime. Ele vai colaborar com as investigações, inclusive é desejo dele que se faça uma reconstituição”, diz advogado de Adriel.

A defesa pretende incluir no inquérito uma atendente do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). Segundo Roberto Walace, a atendente teria negado o envio de uma ambulância até o local, após o pai de Adriel, um policial militar, ligar pedindo socorro para Andreza. “A atendente achou que era um trote e não enviou a ambulância. Acreditamos que se o Samu fosse deslocado para o local, haveria possibilidade de a morte ter sido evita e Adriel responderia por tentativa de homicídio”, declara o advogado.   

Adriel continua custodiado na Delegacia de Repressão a Furtos de Roubos (DRFR), na Baixa do Fiscal. A defesa ingressará com um pedido na Justiça para ele ficar custodiado na carceragem da Polícia Interestadual (Polinter), no prédio-sede da Polícia Civil, na Piedade. “A gente está tentando colocar Adriel na Polinter pelo fato de ele ainda está à disposição da Justiça para a conclusão do inquérito".  

Família nega O pai de Andreza, Marcos Paixão, negou as declarações de Adriel, relatadas pelo seu advogado Roberto Walace. Marcos disse que a filha nunca foi ameaçada por traficantes. “Ele é um mentiroso. Minha filha sempre circulou para cima e para baixo em Itapuã e nunca foi ameaçada. Ela me contava tudo. Ia à padaria, ao colégio, saia sempre nos finais de semana. Como é que uma pessoa que é ameaçada vai levar uma vida assim, tranquila? Ele acha que somos malucos, pode. Agora ele vai inventar é tudo”, diz o pai ao CORREIO.

Marcos rebateu a versão de que Andreza procurou o ex para reatar o relacionamento e que havia feito um aborto. “Ele é um vagabundo. Ele vai procurar todos os meios que pode, mas é um assassino e vai ter que pagar pelo que fez. Não teve nada disso (aborto). Quem comprava o absorvente de minha filha todo mês, era eu”, declara o pai de Andreza.  

A suposta má relação de Andreza com a família dela também foi contestada por Marcos Paixão. “Eu e minha filha tínhamos um ótimo relacionamento. Éramos confidentes. Ela dormia comigo. E ela era assim com todos da família. Ele está atirando para tudo que é lado porque sabe que vai ser condenado”, diz o pai da adolescente.