BTS: Metropolização Ambiental

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  • Waldeck Ornelas

Publicado em 3 de outubro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A Bahia ainda não descobriu a importância e o imenso potencial de sua vasta Baía de Todos os Santos (BTS). A Kirimure dos Tupinambás está a exigir a formulação de uma política própria de desenvolvimento, que tem estado sempre camuflada em políticas para o Recôncavo, mas que também nunca foram implementadas.

Base histórica e cultural da nação, a BTS foi definitivamente esquecida ante o deslumbramento com o modelo rodoviário, fazendo com que todos os municípios do seu entorno, inclusive Salvador, lhes dessem as costas.

Entendendo a BTS como nosso território molhado, precisamos vê-la como um valioso patrimônio natural e um extraordinário ativo econômico esperando ser explorado para tornar-se alavanca do desenvolvimento de todo o seu entorno.

A dimensão ambiental é a pedra de toque para qualquer iniciativa voltada à Baía; preservá-la e protegê-la é o primeiro passo para qualquer ação. Nos anos 1990, o programa de saneamento ambiental que veio a ser chamado de Bahia Azul (nunca entendi por que o “h”), incluiu o esgotamento sanitário de Salvador e de todas as sedes municipais do seu entorno. Financiado pelo BID e de cuja preparação participei, pela primeira vez tivemos um programa governamental que tinha como foco a preservação e proteção da Baía.

É também indispensável manter sempre ativo e vigilante um rigoroso controle ambiental, como fizemos nos anos 1980, a partir do antigo Centro de Recursos Ambientais (CRA), em relação às indústrias pesadas do CIA Norte e à poluição por óleo, para preservar essa que já é reconhecida dentre as “Mais Belas Baías do Mundo”.

No âmbito de uma política de transportes é indispensável separar o de veículos do de passageiros, dando a este a flexibilidade que hoje lhe é negada, por estar atrelado ao sistema ferry-boat. A construção de uma ponte só privilegia mais uma vez o automóvel, preterindo as pessoas. Um moderno sistema de transporte de passageiros é fundamental para o desenvolvimento da Baía e da Bahia. “O navio de Cachoeira” precisa voltar a navegar!

O desenvolvimento da economia náutica e do turismo constituem as bases para a sustentabilidade econômica da BTS. A náutica será capaz de trazer uma nova dinâmica para o entorno, revertendo o longo período de estagnação e decadência. Portos, terminais e estaleiros constituem vocação espontânea nunca potencializada. A BTS detém inclusive o privilégio de apresentar extraordinárias condições naturais para abrigar portos de águas profundas sem a necessidade dos onerosos investimentos em infraestruturas off-shore.

Destaque-se o imprescindível papel estratégico da Marinha do Brasil, seja institucionalizando a BTS como Capital da Amazônia Azul – a zona econômica exclusiva do Brasil – seja dando pleno aproveitamento industrial à Base Naval de Aratu, com seu imenso dique seco, e por que não a sede da 2ª Esquadra?

Por sua vez, o turismo constitui a dimensão mais visível da imagem da BTS. Inexistem, contudo, pontos de conexão que permitam ao turismo se desenvolver. São escassas e ainda recentes as iniciativas, públicas e privadas, nessa vasta área de 1.233 km². Daí que os poucos passeios existentes são apenas do tipo bate-e-volta, sempre a partir de Salvador. Há, no entanto, um imenso leque de possibilidades e oportunidades nunca desbravadas, por falta de uma ação integrada, estruturada e ampla, capaz de abrir os horizontes, estimular e atrair os investidores privados.

Finalmente, mas não por último, a resiliência das marisqueiras aí está a nos sugerir, ainda carente de estudos e pesquisas, o potencial inexplorado da aquicultura e da pesca, e a necessidade de incorporá-las socioeconomicamente ao desenvolvimento da BTS, superando o extrativismo e a pobreza.

Tudo isto só se tornará realidade na medida em que se construa um arranjo institucional capaz de congregar todos os dezessete municípios do entorno na defesa e promoção da Baía de Todos os Santos como novo eixo do desenvolvimento ambiental metropolitano.

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional e ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia.

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores