Busca por bandidos na Gamboa teve policiais, cães, drone e até helicóptero

Ação conjunta entre as Polícias Civil e Militar não tem prazo para ser encerrada

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  • Gil Santos

Publicado em 2 de junho de 2022 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Os moradores da Gamboa de Baixo amanheceram com o bairro sitiado nesta quarta-feira (1º). Uma operação conjunta das polícias Civil e Militar levou policiais de diversas unidades para as entradas e saídas da comunidade. Cães, drones, lancha e até um helicóptero foram empregados na busca pelos criminosos. A ação ocorreu após a divulgação de vídeos da noite de terça-feira, 31, que mostram homens exibindo armas e fazendo ameaças nas proximidades.

Os próprios bandidos filmaram a situação, que aconteceu na Avenida Lafayete Coutinho (Contorno). Nos vídeos, eles aparecem exibindo armas em direção aos motoristas que trafegam pela via, mas não mostram a face. É possível ouvir frases como “bota a cara para ver o que acontece” e “é tudo nosso”. Pelas imagens, não é possível determinar quantos criminosos aparecem nos vídeos.

A polícia acredita que a ousadia tem relação com a disputa pelo tráfico de drogas no bairro e seria uma tentativa de intimidar rivais. Dois homens foram assassinados a tiros na comunidade, no sábado (28). Segundo a Polícia Civil, as vítimas foram identificadas como João Carlos da Anunciação Conceição, 36 anos, e Ulisses de Jesus Gomes Junior, 19, mas não foram divulgados detalhes da ocorrência para não atrapalhar o andamento das investigações. Existem relatos de que pessoas foram obrigadas pelos traficantes a sair de suas casas.

Dentro da comunidade ocupada pelas forças de segurança, os moradores tentam seguir a rotina e contam que estão assustados. Nesta quarta-feira,  01, o comércio abriu e as pessoas saíram, mas ressaltaram que existe uma sensação de insegurança crescente no bairro. Uma moradora, que pediu para não ser identificada, contou que estava em casa quando a polícia começou a busca pelos bandidos, na noite de terça-feira.

“Levei um susto com a luz e o barulho do helicóptero. Nunca tinha visto nada parecido. Eles estavam procurando por bandidos, mas não vimos nem ouvimos nenhum confronto ontem [terça-feira]. Pela manhã, vi alguns policiais percorrendo os becos. Salvador está muito violenta. Eu tenho orgulho de morar na Gamboa, mas a insegurança, que é na cidade toda, está deixando tudo ruim”, disse.  

A Praia da Gamboa, que nos últimos anos começou a ter um apelo turístico, teve pouco movimento durante a manhã. O Solar do Unhão, onde funciona o Museu de Arte Moderna (MAM), que fica ao lado da comunidade, abriu as portas e recebeu visitantes. Na ligação entre a Avenida Contorno e a Gamboa de Cima, a Polícia Militar montou uma base móvel e deixou policiais de plantão. O vai e vem de dependentes químicos na mureta que margeia o bairro diminuiu durante a operação. Lancha fez o monitoramento do entorno da comunidade a partir da baía de Todos-os-Santos (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Comunidade

A Gamboa é formada por becos, escadas e vielas, o que exigiu mais atenção da polícia. Um grupo de policiais civis concentrado na saída da comunidade mais próxima ao Campo Grande operou um drone que sobrevoou o bairro e fez registros sobre o trânsito de pessoas nas vias e nos telhados. Do mar, PMs em uma lancha acompanhavam a movimentação na costa. E cães ajudaram nas buscas por drogas e outros materiais.

Desde que a cantora Anitta gravou um clipe na comunidade, em 2019, o local passou a ter mais frequentadores. A maioria do público é jovem e procura a Gamboa para aproveitar o banho de mar nas águas calmas da baía de Todos-os-Santos. Muitos turistas já descobriram a região. Agora, comerciantes temem que o tráfico afugente os clientes.

“O desemprego do jeito que está e depois de dois anos de pandemia, a gente não pode se dar ao luxo de perder público. A Gamboa é uma comunidade tranquila, não temos aqui a guerra por tráfico que vemos em outros bairros, mas quando esse tipo de violência acontece as pessoas ficam com medo. Não é bom para ninguém”, disse.

Até o final da manhã não ocorreram prisões e nem apreensões na comunidade. O comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM/ Centro Histórico), tenente coronel César Albuquerque, contou que a medida é preventiva e que não tem prazo para ser encerrada.

“A Operação Inquietação visa a fortalecer as ações de policiamento ostensivo e a consequente prevenção criminal não apenas na comunidade da Gamboa de Baixo, como em toda a região, considerando que a via às margens da qual a localidade está situada é uma importante artéria do tráfego soteropolitano”, disse.

Triplo homicídio 

O inquérito que apura as mortes de três homens na Gamboa, ocorridas em março deste ano, será devolvido pelo Ministério Público à corregedoria da Polícia Militar. O MP fez o pedido para que sejam realizadas novas diligências antes de oferecer denúncia à justiça.

O vendedor Alexandre dos Santos, 20 anos, o estudante Patrick Sousa Sapucaia, 16, e o vendedor ambulante Cauê Guimarães, sem idade divulgada, foram assassinados em 1º de março durante ação policial. Segundo testemunhas, os três estavam em um bar quando foram abordados pelos militares, levados até uma casa na mesma comunidade e executados.

Já os policiais contam que foram até o local averiguar uma denúncia, que foram recebidos a tiros e revidaram. Depois que a troca de tiros cessou, as três vítimas foram encontradas baleadas. Os moradores contestam a versão da polícia e afirmam que não houve confronto. Eles organizaram protestos no dia do crime e, nos dias seguintes, atearam fogo em pneus e bloquearam a Avenida Contorno pedindo por justiça.

O caso está sendo apurado pela corregedoria da PM.