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Carol Aquino
Publicado em 13 de abril de 2018 às 20:56
- Atualizado há 2 anos
Imagine ser condenado à prisão e receber a sua sentença em um papel timbrado com a logomarca do personagem Zorro. Parece piada, mas foi o que aconteceu com os quatro velejadores , três brasileiros e um francês, presos em Cabo Verde por tráfico internacional de drogas. Este é apenas o menos significativos dos fatos que fizeram a família dos réus recorrer da decisão do juiz Antero Tavares na última quinta-feira (12), que condenou os quatro a dez anos de prisão. A Ordem dos Advogados de Cabo Verde repudiou o que considerou um ato "excêntrico" do magistrado.>
Os baianos Rodrigo Dantas e Daniel Dantas, o gaúcho Daniel Guerra e o francês Olivier Thomas foram flagrados com uma tonelada de cocaína escondida no casco do barco, sob várias camadas de concreto. O quarteto alega inocência e diz que foi enganado pelo dono da embarcação. >
O papel timbrado com a figura de Zorro refere-se ao nome da investigação feita pela Polícia Judiciária caboverdiana (órgão análogo à Polícia Federal do Brasil), a operação Zorro. O fato inédito no país causou espanto a juristas locais e gerou um comunicado emitido pela Ordem dos Advogados de Cabo Verde (OACV) repudiando o ato excêntrico do magistrado Antero Tavares. >
“A OACV considera que elaborar uma sentença nestas circunstâncias é muito grave, porque, ofende gravemente os símbolos da República, abala profundamente a seriedade e a credibilidade da Justiça e do Estado de Cabo Verde”, diz um trecho do documento.>
Familiares dos velejadores afirmam que o julgamento teve irregularidades. No caso do Rodrigo Dantas, foi negada a audição de testemunhas. "Isso é cerceamento de defesa e pode levar à nulidade do processo”, explica indignado o pai do velejador baiano Rodrigo , João Dantas Neto. >
O gestor comercial traz ainda outros exemplos que para ele tornam o julgamento ainda mais absurdo. “O juiz desconsiderou as provas materiais que tinha. Um exemplo é o contrato assinado por Rodrigo Dantas e Daniel Guerra sobre o delivery da embarcação, ele (o magistrado) disse que aquilo é um álibi. A passagem de Daniel Guerra, que chegou depois, ele diz que é falsa. Mas ele, como juiz, tem condições de checar se é verdadeira", acrescenta. >
Na visão do pai de Rodrigo, o mais grave foi o magistrado Antero Tavares ter desacreditado o inquérito de 600 páginas produzido pela Polícia Federal do Brasil, que inocentou os quatro velejadores, apontando que não tinha como eles saberem da droga escondida no barco. “Ele disse que esse despacho de da PF foi uma encomenda da defesa, um desrespeito à Polícia Federal como instituição”, comenta o pai. Sentença foi divulgada com logomarca do zorro por conta de nome de operação (Foto: Reprodução) Manifestação No próximo domingo (15), amigos e familiares dos velejadores baianos Rodrigo Dantas e Daniel Dantas se reunirão em uma manifestação pedindo a liberdade dos brasileiros no Porto da Barra, em Salvador. O ato, marcado para acontecer na capital às 10h, será replicado em outras cidades brasileiras, como em Feira de Santana (BA), Ilhabela (SP), João Pessoa (PB) e Búzios (RJ). >
Relembre o caso O grupo de três brasileiros e um francês foi contratado para transportar um veleiro de Salvador até a Ilha dos Açores, em Portugal, através da empresa de recrutamento e terceirização de mão de obra Yacht Delivery Company, cuja sede fica na Holanda. A embarcação pertence a um inglês, conhecido como George Saul, que só foi apresentado à tripulação na véspera da viagem. Ele está sendo procurado pela Interpol. >
O barco passou por duas fiscalizações da PF em Salvador e em Natal, antes que deixasse o Brasil. Em 23 de agosto do ano passado, ao chegar na cidade de Mindelo, na Ilha de São Vincente, em Cabo Verde, passou por nova inspeção e a droga foi encontrada. Daniel Dantas, Daniel Guerra e Olivier Thomas estão presos desde o referido mês. Já Rodrigo Dantas conseguiu responder temporariamente ao processo em liberdade, mas foi preso em dezembro, já que o Ministério Público daquele país alegou risco de fuga. >