Caçada a Lázaro vira palanque político nas redes sociais de bolsonaristas

Para especialista, movimentação de políticos se dá por conta de 'base militarizada e com forte discurso bélico'

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  • Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2021 às 16:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

A continuidade da perseguição a Lázaro Barbosa, homem foragido há cerca de duas semanas no interior de Goiás e suspeito de cometer uma série de crimes em pelo menos três estados, vem tornando-se também uma oportunidade para políticos usarem o caso como palanque nas redes sociais. No último fim de semana, dois casos chamaram a atenção e repercutiram no Brasil. Clique aqui para ler a reportagem no O Povo.

No último domingo, 20, o vereador de Fortaleza Inspetor Alberto (Pros) disse nas redes sociais que estava antecipando uma viagem para Brasília, segundo ele para um evento partidário, para ajudar a polícia na captura de Lázaro. "Eu antecipei a viagem devido a esse serial killer que está matando esse povo, lá em Goiás, resolvi sair hoje, quatro dias antes, para dar uma passada lá”, aponta o vereador em vídeo, enquanto exibe armas e munições.

Desde então, Alberto tem postado atualizações da viagem em seu perfil no Instagram. “ESTOU ORANDO PRA QUE O LÁZARO SEJA CAPTURADO ANTES DE EU CHEGAR!!!”, escreveu em publicação na qual aparece recarregando uma arma.Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Inspetor Alberto (@inspetoralberto)Outro caso foi o da deputada federal Magda Mofatto (PL-GO), que publicou vídeo nas redes sociais, no último sábado, 19, empunhando um fuzil e afirmando que está procurando Lázaro. A deputada de 72 anos apareceu a bordo de um helicóptero. "Te cuida, Lázaro. Se o Caiado (governador de Goiás) não deu conta de te pegar, eu estou indo aí te pegar", afirmou.

Na última quarta-feira, 16, o caso Lázaro virou tema de discussão nas redes sociais entre o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Rocha afirmou que Lázaro tem feito a força-tarefa policial local "quase como de boba". Caiado, por sua vez, disse não admitir desrespeitos aos policias goianos. "Se ele trata policiais do DF com grosseria, minha solidariedade a eles", rebateu.

Cleyton Monte, cientista político vinculado ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), analisa que uma das vertentes importantes do bolsonarismo é a relação com as forças policiais. “No Brasil todo, os grupos que têm tentáculos políticos nas polícias são aliados ao bolsonarismo. E porque eles são aliados do bolsonarismo? Porque Bolsonaro abraçou pautas dos policiais, como o excludente de ilicitude”, lembra.

Segundo Monte, a sinalização dos parlamentares se dá porque estes têm uma “base militarizada e com discurso bélico”, além da organização desses grupos nas redes sociais. “O uso político do caso ocorre porque a base desses personagens é muito engajada nas redes sociais; então você tem que fazer essa espetacularização, de todo dia ter um vídeo, uma foto, para mostrar que aquele agente está ali buscando estabelecer a ordem”, aponta.

O pesquisador conclui ainda que a postura dos políticos é também uma forma de polarizar com a esquerda. “Enquanto esses deputados e vereadores bolsonaristas defendem maior rigidez nas leis, ampliação do uso da força e publicam esses vídeos, do outro lado os agentes da esquerda discutem o caso do ponto de vista protocolar, apontando para o trabalho de inteligência da polícia e outras questões. Isso também serve para polarizar”, finaliza.