Cada vez mais, adolescentes e jovens fazem cirurgias plásticas

Brasil é o líder do ranking em procedimentos nessa faixa etária

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  • Giuliana Mancini

Publicado em 1 de julho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Shutterstock com intervenção da editoria de arte do CORREIO

Quando Hayanna Macedo se olhava no espelho, até o ano passado, não se sentia muito bem com o reflexo. “Meu peito era muito pesado e caído, e isso me incomodava muito. Se eu usava decote, biquíni, não gostava do que via”, diz a estudante.

Foi então que, em maio de 2018, tomou uma decisão: iria mudar a sensação ruim. E, aos 20 anos, visitou um cirurgião plástico para colocar silicone. “Eu tinha medo do procedimento, do pós-operatório... Mas, depois que eu fiz, eu vi o quanto foi tranquilo e o quanto minha autoestima mudou. Hoje, consigo me olhar no espelho e me sentir bem com o que eu vejo”, afirma a estudante, agora com 21 anos.  Hayanna colocou silicone aos 20 anos - e melhorou sua autoestima (Foto: Reprodução/Instagram) Hayanna não está sozinha. Ao contrário: segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), foi registrado um aumento de 141% no número de procedimentos entre jovens de 13 a 18 anos nos últimos dez anos. A procura é tanta que o Brasil já passou os números dos Estados Unidos em termos de intervenções estéticas nessa faixa etária, se tornando o líder do ranking. 

De acordo com a pesquisa Allergan 360° Aesthetics Report,  a geração millenial (de 19 a 35 anos) já não pensa ‘se’ fará tratamento estético, mas sim ‘quando’. Dessa turma, 61% (928 pessoas) dos entrevistados afirmou que a aparência contribui para melhorar todos os aspectos da vida.

Para Mariana*, essa evolução é uma realidade. Na época da escola, seu pai faleceu - e ela começou a engordar muito. “Cheguei a ter 114kg. Fui muito machucada com palavras nessa época, olhava no espelho e chorava”, lembra a publicitária. 

Dois anos depois, descobriu que tinha hipotiroidismo e começou a se tratar e tentar, de várias formas, diminuir o peso. “Perdi 35kg. Finalmente, tinha emagrecido, chegado ao corpo que me fazia feliz... Só que meu peito murchou e caiu. E isso era um lixo com a minha autoestima. Eu já tinha ela baixa, já odiava meu corpo, era retraída, bloqueava as pessoas, não queria ninguém perto de mim... Sofria muito. Aí, conversei com minha mãe, a gente se organizou e eu botei silicone, em 2009, aos 20 anos”, recorda.A cirurgia foi incrível para a publicitária. “Devolveu minha autoestima, consegui ganhar confiança comigo”.A advogada Iza Nunes, 32, também adotou silicone - e ficou contente com o resultado. “Acho que foi a melhor coisa que fiz na vida”, afirma. “Foi com 19 anos. Era uma coisa que eu queria muito, achava meu peito muito pequeno e amassado, odiava. Passei seis meses pensando sobre o assunto, conversando com várias pessoas que tinham colocado, pesquisando vários médicos, tipos e formas de botar... E meus pais super me apoiaram”.   

Por você Especialista em cirurgia plástica, a médica Ana Paula Santiago, do Hospital Cárdio Pulmonar, percebe que, de fato, há um aumento na procura por procedimentos estéticos em pessoas de até 20 anos.“Essa faixa etária mais nova está operando muito, principalmente, quando é algo que incomoda na vida pessoal - aí, é uma galera que vem acompanhada da mãe, do pai. Já atendi gente de 16 anos. E, nesses casos, o resultado é gratificante, você vê como influencia no comportamento, na autoestima”, fala.A vontade de fazer uma intervenção estética, porém, deve ser analisada. Muitas vezes, a mudança não é um sonho daquele jovem, mas sim parte de uma pressão psicológica.

“A gente tem que fazer parte de algo, é uma necessidade do ser humano. E, na adolescência, isso fica mais evidente. É preciso investigar o porquê daquela pessoa querer fazer essa cirurgia. É algo pontual, que te incomoda quando olha no espelho - e você quer mudar para se sentir melhor - ou é algo que você quer que os outros te vejam melhor? Você é vítima dos outros?”, pergunta Patrícia Caldeira, psicóloga, mestre em Psicologia da Família e professora do curso de Psicologia na FTC.“As pessoas sempre vão encontrar algo de errado nos outros. E, ao tentar corrigir isso com uma cirurgia, pode gerar um vício”, segue.Isso foi percebido pela estudante Carolina*, 21 anos. “Fiz bichectomia quando tinha 19 anos. Sempre achei minhas bochechas grandes e, na época, estava rolando o boom de Kim Kardashian, Kylie Jenner, com aquela bochecha marcada, o osso aparecendo... E aí, ganhei o procedimento e fiz. Se não fosse um presente, não teria feito. Não me arrependi, mas, com a cabeça que tenho hoje, após dois anos, deixaria para lá. Tempos depois, a gente começa a apontar outros defeitos estéticos na gente, procurar outros ‘problemas’”, fala.

Heidi Montag, uma das estrelas de um reality show americano, The Hills, sofreu com o vício. Em 2009, de uma só vez, fez 10 procedimentos estéticos, aos 23 anos. Foi um processo tão intenso que ela chegou a ser decretada morta, na mesa do médico, por um minuto. Depois de um tempo, ela admitiu que estava viciada   - e declarou que não quer mais passar por isso de novo. Heidi chegou a fazer 10 procedimentos em um só dia (Foto: Reprodução/Instagram) Outra coisa que é preciso se ter em mente é que ‘querer’ não é ‘poder’. “Um exemplo: o paciente me  pede um nariz fino, enquanto ele tem a base larga, bem diferente. Provavelmente, não dará certo, não haverá um balanço harmônico na face. É preciso seguir o padrão daquela pessoa, as restrições”, explica Gustavo Del Prato, médico otorrinolaringologista e membro da Academia de Plástica Facial.“Muita gente mais nova chega com foto de famoso, querendo ficar igual. E podem sair dali frustrados”, comenta José Valber Meneses, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - Regional Bahia (SBPC-BA).Segundo Patrícia Caldeira, isso é um sinal de alerta. “Por que o famoso é uma referência? É preciso investigar esse comportamento - para não voltarmos àquilo de ser um ‘desejo’ da sociedade e não do próprio jovem. Se você acha que tem um algo que te incomoda e quer melhorar, não tem problema algum. Mas que seja por você”, diz a psicóloga. “Pessoas ansiosas querem resolver tudo na mesma hora e podem não pensar a médio e longo prazo”, segue.   "Se você acha que tem um algo que te incomoda e quer melhorar, não tem problema algum", diz Patrícia (Foto: Divulgação) “Lembre que é uma cirurgia, tem pós-operatório, pode ocorrer hematomas e abrir pontos se não obedecer as restrições. Também há o tempo até o resultado final, que pode chegar até a um ano. Não dá para pular etapas. Vejo também quem quer fazer lipoaspiração para ‘emagrecer’ - e aí continua o estilo de vida e engorda tudo de novo. É preciso que várias coisas sejam levadas em consideração”, fala Ana Paula. "Não dá para pular etapas", afirma a médica Ana Paula Santiago (Foto: Divulgação) Considerando esses fatores, os profissionais muitas vezes indicam que o paciente jovem tire um tempo para refletir aquela cirurgia.“Falo: volte daqui a um mês para a gente reavaliar, repensar. Converse com outras pessoas, com seus responsáveis. E posso até encaminhar para um psicólogo, para uma avaliação dele também”, finaliza José Valber.