Cadê vocês? 50 mil jovens de 18 a 21 anos ainda não foram se vacinar em Salvador

Ausência do público preocupa; são 125 mil pessoas sem a 1ª dose e 58 mil sem a 2ª

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  • Gil Santos

Publicado em 24 de agosto de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Jayne de Jesus tem 18 anos, mora no Subúrbio Ferroviário e recebeu a vacina da Pfizer na sexta-feira (20). Ela foi ao posto contra a vontade, estava insegura, e foi a família quem a convenceu. Na roda de amigos, porém, muitos já disseram que não vão. Segundo a prefeitura divulgou nesta segunda-feira (23), não se trata de caso isolado. São 125 mil pessoas que ainda não tomaram a 1ª dose anticovid, 50 mil delas têm entre 18 e 21 anos.

“Fui porque o pessoal ficou falando, mainha, painho, minha avó. Mas depois entendi que era importante. Esse é o melhor caminho ou não vai ter festa e a gente vai ficar como ficou nesses dois últimos anos, com tudo parado”, afirmou a jovem, que garantiu que vai tomar a 2ª dose.

A ausência dos jovens nos postos preocupa. Esse é o público que costuma aglomerar com frequência em praias, bares, festas e paredões, que mesmo proibidos continuam acontecendo na periferia. No último fim de semana, o Porto da Barra ficou tão cheio que a Guarda Municipal precisou restringir o acesso dos banhistas depois das 13h. A maioria era jovem.

Nesta segunda, o prefeito Bruno Reis comentou sobre a relutância dos mais novos em se proteger contra um vírus que já tirou 575 mil vidas no Brasil, 26 mil delas na Bahia. Ele contou que os internamentos estão em queda e que vai começar a desmobilizar os leitos porque cada estrutura custa R$ 2,4 mil/dia aos cofres públicos. Atualmente, a taxa de ocupação está em 33%. Mas, para evitar que os números voltem a subir é preciso que todos estejam imunizados.

“É triste ter que dizer que existe em Salvador 125 mil pessoas que ainda não foram tomar a primeira dose. A cidade não pode ficar refém dessas pessoas. Até sábado, tínhamos gente e não tinha vacina. Agora, temos vacina e as pessoas é que não estão indo se vacinar. A cidade precisa que essas pessoas tenham responsabilidade. E se lá na frente quem não se imunizou procurar um leito e não encontrar, não venha culpar o prefeito”, disse.

A prefeitura tem realizado busca ativa para convencer os soteropolitanos a se imunizarem, mas ainda há resistência. Segundo o município, 92% dos moradores de Salvador receberam a 1ª dose e outros 40% estão totalmente imunizados.

“Estamos com índice de vacinação alto, mas 125 mil pessoas sem se vacinar é um número elevado. São 58 mil pessoas sem a segunda dose. A primeira só não resolve. Os jovens querem festa? Festival Virada? Carnaval? Depende de vocês, vão se vacinar”, afirmou Bruno Reis.

A preocupação mais recente é com a variante Delta, que já se espalha pelo país. A prefeitura de Salvador defende que a Comissão Intergestores Bipartite (CIB) autorize a vacinação para o público a partir dos 12 anos, antecipe a aplicação da 2ª dose e permita a 3ª dose para idosos. Os esforços são para proteger o mais rápido possível os moradores e evitar nova onda de internações. Atualmente, o município imuniza adolescentes de 12 a 17 anos com comorbidades.

Uma jovem de 19 anos que pediu para não ser identificada contou que não procurou um posto porque tem medo dos efeitos da vacina. Especialistas já explicaram que os sintomas após a aplicação são normais e que não há problema porque os imunizantes são seguros. No caso de Salvador, mais de 90% da população já tomou a vacina e segue sua rotina.

Questionada se querer manter o anonimato é pelo fato de ter consciência de estar agindo de forma errada, a jovem respondeu que sim. “Na minha família todo mundo já tomou. Vou tomar coragem e receber logo essa vacina”.

Reforço Para acelerar e facilitar a imunização, as 10 prefeituras-bairro de Salvador terão salas de vacinação a partir de hoje. A vacina será oferecida para quem for fazer o cadastramento ou recadastramento do SUS, ou registrar mudança de município.

O prefeito Bruno Reis fez o anúncio durante a entrega do novo Centro Municipal de Educação, no Imbuí. Ele disse que conversou com técnicos da prefeitura para analisar possíveis medidas que tornassem a vacinação obrigatória, mas nada foi decidido ainda. Por enquanto, a vacinação segue voluntária e ele diz que conta com a conscientização das pessoas.

"Eu refleti muito, até conversei sobre isso no fim de semana, se a gente poderia adotar algumas medidas para forçar as pessoas a se vacinarem. Mas eu prefiro ainda apostar no diálogo, no processo em que as pessoas tenham compromisso", afirmou.

Os atendimentos nas prefeituras-bairro serão realizados exclusivamente por agendamento prévio pelo site. Os interessados deverão apresentar comprovante de residência atualizado no nome do titular do cartão SUS ou dos pais do mesmo, além de documento de identidade com foto.

Para quem já possui cartão SUS vinculados a Salvador, o recadastramento pode ser feito pelo site ou presencialmente, nas 155 unidades básicas de saúde da rede municipal. Essa atualização de dados é obrigatória para se imunizar.

Bruno Reis alertou que os faltosos da vacinação podem prolongar o fim da pandemia em Salvador. "A variante delta está atacando quem não está indo se vacinar e quem não foi tomar a 2ª dose. Essas pessoas podem comprometer ou trazer algum risco à cidade. Elas precisam se vacinar e acreditar na ciência. Pensar em si, pensar nos outros e pensar na cidade”.  

O prejuízo pode se estender ainda para a não retomada do setor de eventos na capital ou contribuir para o retorno de medidas restritivas mais duras. “Essas pessoas podem ser responsáveis por a gente não conseguir liberar a realização de festas e shows e até mesmo ter de recuar nas decisões sobre o isolamento social”, completou.