Caindo aos pedaços: moradores denunciam falta de estrutura em escolas de Caraíva

Professores e pais de alunos citam telhados danificados, alagamentos e falta de funcionários

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 2 de março de 2022 às 05:20

- Atualizado há um ano

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Caraíva é um distrito litorâneo e ribeirinho de Porto Seguro, no extremo-sul da Bahia. O local é bastante conhecido pelo turismo, mas, por trás das belas paisagens, esconde condições precárias de ensino nas escolas municipais há cerca de 10 anos. Segundo professores e pais de alunos, a Escola Municipal de Caraíva, a Escola Municipal Alegria do Saber e Escola Municipal Aldeia Xandó estão com falta de funcionários e estrutura física comprometida. Neste ano, até agora a maioria das turmas não retornou por falta de professores e de estrutura física adequada. 

Na Escola Alegria do Saber, não há professores no Pré I e II e também do 2º ao 5º ano. No ano passado, durante a aula, uma das pás de um ventilador caiu em cima de um aluno. Uma feijoada beneficente foi organizada por professores e pais de alunos para a compra de novos ventiladores. Na Escola Municipal de Caraíva, o 1º e 2º anos estão sem professores. Não há manutenção na parte elétrica e no telhado há mais de 15 anos. Um ventilador também pegou fogo neste mês.

Uma professora da Escola Municipal de Caraíva, que preferiu não se identificar, contou sobre a situação em que o local está há cerca de 10 anos: “Temos ofícios aqui desde 2011, nunca houve reforma e a cada ano as coisas foram piorando. Não tem banheiro separado para crianças, adolescentes e funcionários, não tem carteira para as diferentes faixas etárias, a caixa de gordura precisa de manutenção, o telhado e a parte elétrica precisam ser revistos. Outro dia, em fevereiro, um ventilador de uma sala pegou fogo. E a quantidade de alunos foi crescendo e as salas não foram ampliadas. Se as aulas fossem começar hoje, não teria sala para todo mundo”, diz.

Outra professora da mesma escola, que também não quis ser identificada, falou sobre a estrutura das salas de aula. “Tem uma sala que alaga quando chove, não tem condições de ter aula. Sem exagero, formava uma piscina, e a aula tinha que ser feita no refeitório”. Ela demonstra preocupação: “A gente não tem uma quadra de esportes, toda hora as aulas são canceladas. Os pais não têm com quem deixar os filhos. A gente sabe da existência do tráfico de drogas e da prostituição aqui. Isso preocupa”, acrescenta a professora.

Elessandra Gonçalves, de 36 anos, é mãe de uma das alunas da Alegria do Saber. Ela conta que a escola passa corriqueiramente por um problema de falta de água, o que faz com que as aulas sejam canceladas, e que faltam funcionários. “Na merenda tem revezamento e, na limpeza, não tem ninguém. Teve uma reunião em que a direção sugeriu um rodízio para os professores e pais de alunos na escala de limpeza da escola”, diz ela. 

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Naiara de Oliveira, de 29 anos, é mãe de dois alunos da Alegria do Saber e diz que tem receio de mandar as crianças para a escola quando as atividades retornarem. “As portas dos banheiros não fecham, estão quebradas. Isso é um perigo, eu mesma não tenho coragem de deixar a minha filha usar”, denuncia. A filha, Renata, de 13 anos, também reclama do transporte escolar. “A porta do ônibus quebrou e caiu no meio do caminho para a escola”, revela. Segundo ela, não há cinto de segurança e, constantemente, o ônibus quebra e deixa de rodar. 

Lígia Nikiforow, de 44 anos, é de São Paulo e chegou em Caraíva há 2 anos. Ela tem um filho de 10 anos matriculado no 5º ano da Alegria do Saber e sentiu a diferença na educação que ele tinha na antiga escola para a que ele tem agora. “Tem colegas do meu filho que ainda não foram alfabetizados. Eu vejo professores falando e escrevendo errado, corrigindo lição errada. Em Porto Seguro, as coisas funcionam e em Caraíva, não. Por que isso? A gente se sente abandonado, é um descaso. A prefeitura só está preocupada com o turismo”, desabafa.

Providências Funcionários e pais de alunos da Escola Municipal de Caraíva e também da Escola Municipal Alegria do Saber e Escola Municipal Aldeia Xandó marcaram uma manifestação para esta quarta-feira (2), ameaçando bloquear a chegada de turistas. Após a divulgação da manifestação, na segunda (28), de acordo com a assessoria da secretaria, a secretária de Educação de Porto Seguro, Dilza Reis, assumiu o compromisso de iniciar obras na Escola Municipal da Caraíva a partir desta quinta (3), com prazo de execução de 180 dias. 

A secretaria ainda afirmou que as escolas Alegria do Saber e Aldeia Xandó já estão passando por reforma e serão entregues em, no máximo, 60 dias. Sobre a falta de funcionários, a secretaria disse que novos professores, auxiliares de classe, assistentes administrativos, pessoal de apoio e de serviços gerais assumirão seus cargos a partir desta quarta (2) para todas as escolas do município. Enquanto as escolas não estão prontas, as aulas vão acontecer de maneira remota na Escola Municipal de Caraíva e da Aldeia Xandó, e presencial na Alegria do Saber, a partir do próximo dia 7. A manifestação que aconteceria hoje foi cancelada. “Estou otimista quanto à Municipal de Caraíva, mas não quanto às outras. Na Alegria do Saber, eles estão consertando o telhado e pintando a escola. Ou seja, o telhado é o básico para que seja possível ter aula sem alagar a escola quando chover, e a pintura é para que quem passe ache que está tudo novo; é uma maquiagem. Sem falar que essa obra começou só agora”, replica uma das professoras que não quis se identificar.O Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) afirmou que está ciente das denúncias e que o Ministério Público foi contatado. O MP não respondeu ao contato até o fechamento da reportagem.

Vale do Capão No Vale do Capão, na Chapada Diamantina, mais uma escola municipal ainda não deu início ao ano letivo por conta de uma obra inacabada, deixando os 330 alunos em casa. Uma manifestação foi realizada na manhã desta segunda-feira (28), na porta da Escola de Caeté-Açu. O grupo de professores, pais, mães e alunos protestou contra a decisão da Prefeitura de Palmeiras de adiar o início do ano letivo de 2022, que estava previsto para 28 de fevereiro, para o dia 14 de março. A escola está com as portas fechadas e sem aulas presenciais há 2 anos.  Manifestação aconteceu nesta segunda (28) no Vale do Capão (Foto: Reprodução/Portal Vale do Capão) Os manifestantes reclamaram da obra que ainda não foi finalizada e do alto valor do orçamento: R$ 322 mil. Com as planilhas orçamentárias do processo licitatório em mãos, eles apontaram que são R$ 62 mil previstos na revisão do telhado, R$ 31,8 mil para a implantação de gradios e R$ 15 mil para a troca de janelas, e que não viram os resultados desses investimentos. 

“É decepcionante. A gente sempre ouvia que o problema era a falta de verba, mas agora que tem dinheiro não aconteceu nem metade do que estava previsto. Tem vidros quebrados, buracos na tela da quadra, enfim, o que fizeram aqui foi uma maquiagem”, disse ao Portal Vale do Capão Jucimara Santos Costa, de 35 anos, que já foi aluna da escola e hoje é mãe de um aluno, Davi, 12. A Secretaria de Educação de Palmeiras não atendeu às ligações e não respondeu o e-mail enviado pela reportagem do CORREIO.