Carnaval no mar: baleias jubartes agitam o oceano na festa da reprodução

São 20 mil animais desse tipo entre Bahia e São Paulo, e serão 1,5 mil filhotes até novembro

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  • Gil Santos

Publicado em 26 de agosto de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/ Projeto Baleia Jubarte

Você viajaria 4 mil quilômetros para encontrar um crush? As baleias jubartes, sim. Enquanto Salvador segue paralisada pela pandemia, no mar existe um verdadeiro carnaval em andamento. Desde o mês passado, quando começou a temporada de reprodução das baleias no litoral baiano, o projeto Baleia Jubarte, identificou 53 filhotes dessa espécie nadando em águas brasileiras, 18 deles entre Salvador e Praia do Forte. Serão 1,5 mil nascimentos até o fim da temporada, em novembro.

As baleias esperam o ano todo por esse momento. A camisa não é colorida, mas como elas vêm de galera e estão todas de cinza parece uma espécie de abadá. São dois meses de viagem da Antártida até aqui. Muito longe, alguns diriam, mas quando se quer dar-se um jeito, e é na Bahia que elas mais se reproduzem. As fêmeas solteiras vêm em busca do crush perfeito, e ele tem eu saber cantar e saltar. Já as gestantes que engravidaram no ano passado retornam para gerar os filhotes. Pesquisadores observam dois dos 20 mil animais que estão na costa do Brasil (Foto: Divulgação) A estimativa é de que 20 mil animais estão se reproduzindo nessa época do ano entre São Paulo e Bahia. Em 1998, a população era de apenas mil animais. Os dados são do Projeto Baleia Jubarte que se dedica a estudar e cuidar dessa espécie, e que há 23 anos é patrocinado pela Petrobras.

O arquipélago de Abrolhos, no Litoral Sul da Bahia, é como se fosse a Fernando de Noronha das baleias. Machos disputam as fêmeas, acasalamentos acontecem em plena luz do dia, e sem o menor constrangimento. O salto pode projetar mais de 2/3 do corpo para fora d´água. Difícil bater essa sarrada no ar. Uma das teorias dos especialistas é de que o pulo serve para exibição dos machos, nos dois casos. Arquipélago de Abrolhos concentra o maior número desses animais (Foto: Divulgação) Existem baleias jubartes em todo o planeta, mas há um fato curioso nos animais que frequentam o litoral brasileiro. De maneira geral, essa espécie pratica natação, que é o deslocamento em uma única direção, milling, que é a movimentação sem uma direção definida, e repouso, quando elas ficam boiando na superfície. Porém existe um comportamento que é característico da população brasileira de jubartes, que ocorre muito raramente em outras áreas do mundo: a exposição caudal parada.

Em resumo, elas ficam paradas com o rabo acima da superfície da água. São até 15 minutos de cabeça para baixo, nessa posição. Depois desse período, voltam para a horizontal, em repouso, boiadas e respirando algumas vezes em intervalos curtos para logo em seguida repetir o comportamento. Algumas delas fazem isso por até quatro dias consecutivos. Em nenhuma outra parte do mundo as jubartes permanecem nesta posição por períodos tão longos.

Os pesquisadores não sabem ao certo porque elas fazem isso. Teorias falam que é uma forma de exibição do macho, uma maneira da fêmea evitar o acasalamento, ou ainda um jeito de facilitar a amamentação dos filhotes. Melhor deixar quieto. Mãe nada abaixo do filhote para proteger a cria (Foto: Divulgação/ Projeto Baleia Jubarte) Maternidade As jubartes adultas têm até 16 metros e pesam 40 toneladas, o que equivale ao tamanho de um ônibus e um carro, juntos, e ao peso de oito elefantes. Mas os filhotes são um episódio à parte. Eles têm 4 metros de cumprimento, pesam uma tonelada e meia, e estão sempre acompanhados das mães e de outra baleia adulta, geralmente, um macho.

Segundo os pesquisadores, estudos genéticos por meio de microssatélites verificaram que o macho que acompanha mãe e filho não é o pai do filhote, mas não vamos entrar nessa polêmica. A expectativa de vida desse animal é de 60 anos.

Do início de julho até a sexta-feira (21) foram identificados 53 bebês-baleias, sendo que 18 filhotes foram avistados no trecho entre Salvador e a Praia do Forte (BA), 17 em Abrolhos (BA), dez em Vitória (ES) e oito no entorno de Ilhabela (SP), estes registrados pelos parceiros do Projeto Baleia à Vista e Instituto Verde Azul. A pesquisadora do Baleia Jubarte Luena Fernandes contou que mais da metade dos grupos observados já estão com filhotes.

“Elas começam a chegar em junho, no Sul, e vão subindo o litoral. Ficam por aqui [Salvador] até outubro e, então, começam a retornar. Dos grupos de baleias observados até agora 75% continham filhotes”, contou.

Luena disse que ainda é cedo para afirmar se os números são positivos. “No final da temporada a gente tem condições de avaliar melhor os dados para saber se a quantidade de filhotes desse ano foi maior ou menor que a dos anos anteriores, até porque na natureza esses números podem mudar”.

Os pesquisadores estão tendo dificuldades para sair para o mar por conta do mau tempo. 

Em novembro, as jubartes deixam Abrolhos e retornam para a Antártica levando na bagagem as lembranças desse carnaval. Algumas carregando um bebê na barriga. Ano que vem elas estarão por aqui novamente, dessa vez para gerar os filhotes. Com tantos baianinhos de algumas toneladas indo e vindo, e se reproduzindo, muitos afirmam que Antártida é quase um pedaço da Bahia.