Carreata anti-isolamento social é marcada por bate-bocas e presença da polícia

Manifestante minimizou efeitos do coronavírus: 'Pessoas à beira do caixão que foram afetadas'

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  • Thais Borges

Publicado em 29 de março de 2020 às 15:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tiago Caldas/CORREIO

A carreata contra as medidas de isolamento social para conter o avanço do coronavírus em Salvador foi marcada por provocações, bate-bocas e a presença da polícia, na manhã deste domingo (29). Por volta das 10h30, cerca de 100 veículos saíram da Boca do Rio em direção ao Farol da Barra, em protesto sobre as orientações para o fechamento do comércio e de outros estabelecimentos na capital baiana. 

Em diversos bairros, moradores reagiram à carreata. Enquanto os manifestantes - em sua maioria, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - faziam buzinaços e exibiam bandeiras do Brasil, alguns moradores gritavam contra o desfile de carros. Parte dos manifestantes devolvia os insultos. 

Ainda neste domingo, o Ministério Público do Estado (MP-BA) recomendou à Secretaria da Segurança Pública (SSP) que fiscalizasse a carreata. O órgão tinha pedido que as autoridades tomassem as providências para a Polícia Militar acompanhar as manifestações e evitar que condutores e passageiros saíssem dos veículos.

Ao chegar na Barra, não foi diferente. Uma confusão teve início depois que, segundo manifestantes, um homem teria se referido a duas pessoas da carreata de forma racista. O empresário do ramo de higienização de estofados Emerson Rui, 41 anos, disse que ter sido chamado de "preto".

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“Eu sou negro e não posso me manifestar? Eu vim porque, se na minha despensa está faltando comida, quem vai colocar?”, afirmou, explicando os motivos para fazer parte da carreata.“O coronavírus é uma gripe como outra. A questão é que foi potencializada pela mídia como algo caótico. Pode, sim, a vida voltar ao normal”, opinou, indo de encontro a orientações de especialistas e do Ministério da Saúde.Em conversa com o CORREIO, ele disse ainda que os países que tomaram medidas de isolamento têm população mais idosa que a brasileira. “A estatística está aí. Pessoas que estavam à beira do caixão que foram afetadas”, completou. 

Ao fim da carreata, um homem chegou a ser levado pela Polícia Militar, acusado pelos manifestantes de ter proferido as ofensas racistas. 

Em nota, porém, a PM informou que não houve registro de ocorrência. Segundo a corporação, policiais de várias unidades acompanharam a carreata. Só na Barra, o CORREIO constatou a presença de pelo menos sete viaturas.  Carreata seguiu até o Farol da Barra (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) Autoridades Nos últimos dias, tanto o governador Rui Costa quanto o prefeito ACM Neto criticaram a pauta da manifestação. Na sexta-feira (27), Rui disse que não toleraria qualquer atitude de estímulo à quebra de quarentena nas manifestações. 

"Seria mais coerente que essas pessoas, ao invés de estar dentro dos seus carros de luxo, com vidro fechado, fossem ao protesto de buzu. A pessoa que tem esse discurso de abrir tudo, deveria deixar o carro na garagem e ir para a manifestação de buzu. É mais coerente do que andar num carro de luxo de R$ 200 mil e pregar que os outros se exponham", criticou.

Já no sábado (28), Neto afirmou que o movimento era caracterizado por pessoas "protegidas em seus carros, com ar-condicionado, pedindo que os pobres enfrentem os riscos de um ônibus lotado".

"Eu até ia falar com os organizadores para que realizassem a carreata no Subúrbio. O problema é que eles provavelmente nem saibam chegar lá", ironizou.