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Nelson Cadena
Publicado em 28 de setembro de 2018 às 05:00
- Atualizado há um ano
Pelo menos um pecado o Correio da Manhã, o jornal que combateu todas as ditaduras, ícone da resistência da imprensa aos regimes de arbítrio, cometeu em tempos de eleições. Em 9 de outubro de 1921 publicava o fac-símile de uma carta assinada pelo candidato à Presidência da República Arthur Bernardes, com graves ofensas ao marechal Hermes da Fonseca, a quem chamava de “sargentão sem compostura”, qualificando o jantar organizado pela oficialidade, na sua homenagem, de “uma orgia”; então sugeria aos militares: “Esse canalha precisa de uma reprimenda para entrar na disciplina”. A carta que intrigava Bernardes com os militares era falsa.
No dia seguinte, o jornal publicava uma outra missiva, também atribuída ao candidato mineiro, dessa vez insultando Nilo Peçanha, “o moleque capaz de tudo”, também candidato à Presidência da República. As cartas supostamente escritas por Bernardes deflagraram uma grave crise, repercutidas por outros jornais e pelo traço ferino dos chargistas das revistas semanais e mensais. Arthur Bernardes apressou-se em negar a sua autoria. O Clube Militar atestou a falsificação, mas a imprensa não estava muito preocupada com isso, a essas alturas engajada na disputa eleitoral. E assim as cartas falsas alimentaram o debate, até o sufrágio dos eleitores em março de 1922.
Naquele tempo, os jornais eram cabos eleitorais influentes, atingiam a parcela da população autorizada a votar: a elite brasileira. Além disso, não tinham compromisso com a informação, alguns deles publicavam somente a relação de deputados eleitos pelos partidos amigos, omitindo do leitor outros nomes sufragados. Foi nesse contexto que o Correio da Manhã se dispôs a publicar as cartas que o Jornal do Commercio já recusara em 20/9/21, advertindo os leitores.
Nem mesmo a advertência do JC, uma denúncia pública, foi considerada por Mário Rodrigues (redator político) e Raimundo Silva (diretor do jornal) que na ausência de Edmundo Bittencourt, proprietário do Correio da Manhã, tomaram a decisão de reproduzir as cartas três semanas após a publicação da nota referida. Mais do que isso, firmaram posição com o artigo intitulado Injurioso e Ultrajante. Na sequência dos acontecimentos, o jornal acusaria Bernardes de corrupção e suborno. Meses depois, quando os falsários Jacinto Guimarães e Oldemar Lacerda confessaram o crime, muitas perguntas ainda pairavam no ar, algumas delas não respondidas até hoje: quem pagou pelas cartas e quanto, já que Lacerda se deu ao luxo de passar uma longa temporada na Europa?
O presidente da República, que governou sob Estado de Sitio, vingou-se do jornal. Primeiro prendeu Edmundo e Paulo Bittencourt, seus proprietários. E em 31 de agosto de 1924 fechou o Correio da Manhã, acusado de imprimir nas suas oficinas um folheto clandestino.
Artigo de minha autoria publicado originalmente na Revista imprensa, em 2010.