Casa dos Azulejos Azuis, que deve abrigar Museu da Música, começa a ser restaurada

Em um ano, toda fachada do monumento estará revitalizada; R$ 7,8 milhões

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  • Tailane Muniz

Publicado em 18 de outubro de 2019 às 14:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Max Haack/Secom

As referências artístico-musicais de Salvador têm forma. Mas, para além de cantores e compositores, ritmos e instrumentos que, juntos, dão a dimensão cultural da capital baiana, a ideia é que toda representação de arte seja conhecida e reverenciada pelos turistas e baianos que visitarem o Museu da Música Brasileira.

Escolhido para abrigar essa infinidade de memórias, o Casarão dos Azulejos Azuis, localizado na Praça Cayru, no Comércio, começou a ser reformado nesta sexta (18), após assinatura de ordem de serviço pelo prefeito ACM Neto. O gestor não pôde estabelecer uma data para início das atividades do museu, mas garante: a partir da valorização do passado, a intenção é de que funcione, ali, “mais um importante espaço de cultura para nossa cidade”.

Um dos imóveis mais tradicionais de Salvador, comenta Neto, o casarão do século XIX pertenceu ao comendador Antônio dos Santos Coelho e serviu como repartição pública, escola, e até como sede da extinta rede de supermercado Paes Mendonça. Conhecido pela exuberância de seus azulejos portugueses azuis, o monumento terá a fachada revitalizada em um ano, acrescenta o prefeito.

Ao informar o investimento de R$ 7,8 milhões por meio do Programa de Requalificação, da Corporação Andina de Fomento (CAF), da Urbana de Salvador (Proquali), Neto explica, contudo, que ainda não é possível dar detalhes de qual e como estará disposto o conteúdo cultural previsto para o casarão. O gestor esclarece que é necessário aguardar o resultado de estudos feitos por especialistas da CAF, para posterior licitação do projeto museológico.

“Os estudos estão avançados para, finalmente, definirmos a destinação desse equipamento, originalmente pensado para ser o Museu da Música Brasileira”. A decisão por antecipar a restauração, complementa Neto, foi pensada para “não atrasar as obras”, logo que for conhecido o projeto possível de ser executado no imóvel, que, junto com outros seis, foi objeto de desapropriação judicial por parte da prefeitura. Prefeito autorizou início imediato das obras nesta sexta-feira (18) (Foto: Max Haack/Secom) Intervenções As pedras em azul e branco degradadas pelo tempo figuram boa parte da praça, que concentra ainda o Elevador Lacerda e o Mercado Modelo. São cerca de 1.914,76 m² de área construída, distribuída em quatro pavimentos, sendo um piso térreo e mais três. Por ora, as obras envolvem o restauro de toda a fachada do edifício, além da recuperação dos detalhes em massa e implantação de elevador e de sistema de ar condicionado. 

O padrão original com a telha colonial será preservado, assim como a escada revestida em piso de maneira. Seja um museu destinado especificamente à música, ou que agregue tudo o que reflete cultura, o equipamento, tombado há 50 anos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), será aberto ao público e já agrada àqueles que trabalham na região.

Há dois anos, o Casarão dos Azulejos Azuis sofreu as primeiras intervenções para estabilização do imóvel, com a retirada dos escombros oriundos do desabamento de parte da cobertura. De modo provisório, foi feita a recuperação estrutural de elementos em concreto, remoção das esquadrias e vedação dos vãos, estabilização das fachadas, além de colocação de cobertura metálica, de acordo com o prefeito, já em cumprimento a parte do plano de museu.

“Um imóvel que há muitos anos estava em ruína. Aqui vai funcionar mais um importante espaço, dentro dessa estratégia de oferecer produtos para a cultura de Salvador, especialmente no Centro Histórico. A partir da valorização do nosso passado, projetar um futuro de mais crescimento econômico a partir do investimento pesado em turismo”, reitera Neto.

‘Muita história’ Faz 30 anos que a ambulante Márcia de Jesus, 67, contempla a arquitetura do casarão. “Sem perceber”, diz que presenciou a ação do tempo no imóvel que vê diariamente, desde que começou a vender frutas e outros alimentos no local. “Eu fico aqui pensando se vai ficar bonito como era na época das famílias ricas, e eu nem sonhava nascer”.

Aos risos, comenta que também já pensou, “é claro”, em como vai ser beneficiada depois que o museu - seja qual for o segmento - estiver ativo. “O que vem para movimentar o Centro é bom para todos nós, porque atrai o turista e a atenção. Por muito tempos ficamos aqui, esquecidos, e não pode, não. É muita história”, defende.

Coincidência ou não, as intervenções foram pensadas, segundo a gestão municipal, exatamente para o que torce Márcia. O movimento do Centro Histórico, comenta o secretário de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), o vice-prefeito Bruno Reis, é realizada em conjunto com a Secretaria Municipal de Turismo e Cultura (Secult) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como parte do programa Salvador 360, eixo Centro Histórico.

 “É uma verdadeira transformação. Na parte alta, já foram entregues requalificados o Terreiro de Jesus e o Quarteirão das Artes, complexo que abriga diversos espaços culturais na Ladeira da Barroquinha. Seguem em andamento as obras de revitalização da Avenida Sete de Setembro e da Praça Castro Alves, dos Arcos da Montanha, das Muralhas do Frontispício e do Elevador do Taboão, que voltará a funcionar após mais de cinco décadas desativado”. 

Sem saber, ao certo, o que será feito do espaço, o comerciante Alberto Aquiles Souza, 58, diz que a torcida é pela realização do Museu da Música. O argumento, destaca, não poderia ser outro: “Oxe, e tem motivo para não ser? Tudo aqui vira festa e música, não tem como ser outra coisa”, dispara. “Aí sim”, brinca Aquiles, Salvador estará “em dias” com o título de Cidade da Música, como é conhecida pela Unesco desde 2015.