Casais levavam cocaína de Salvador à Europa por fundo falso na mala

Cada quilo era vendido a 40 mil dólares; chefe da organização criminosa era baiano de 34 anos e foi preso hoje (10)

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  • Marcela Vilar

Publicado em 10 de junho de 2020 às 19:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Ascom PF

Parecia ser só mais um casal que embarcava para Lisboa pelo Aeroporto Internacional de Salvador. Porém, aquela não era uma viagem comum, apesar de lucrativa - cada um ganhava de 15 a 20 mil reais pelo translado. Na bagagem, eles levavam cerca de 3 quilos de cocaína (de altíssima qualidade) escondidos no fundo falso da mala, que seriam comercializados na Europa - cada quilo vendido a 40 mil dólares. O líder dessa organização criminosa é um baiano de 34 anos que foi preso, nesta quarta-feira (10), em um condomínio de luxo de Buraquinho, na cidade de Lauro de Freitas. No imóvel, que era alugado, a polícia encontrou cerca de 25 mil reais em dinheiro, uma arma, um colete à prova de balas, uma máquina de contar cédulas e um veículo da Nissan, modelo Kicks. 

Foi através destas três pistas - a quantidade, a forma de ocultar a droga e a utilização sempre de um homem e de uma mulher - que a Polícia Federal conseguiu identificar o mandante e cinco outros integrantes de uma associação criminosa de Salvador envolvida com o tráfico internacional de drogas. Ao todo, três homens e três mulheres foram presos nesta quarta-feira (10) nos bairros de Itapuã, Stiep, Pituaçu, Sussuarana e no Imbuí - onde uma mãe e o filho foram presos no edifício Volare. Todos eles faziam parte da logística da viagem e participavam do envio das mulas para Portugal. Em imóvel, polícia encontrou R$ 25 mil (Foto: Divulgação/Polícia Federal) Pelo menos três deles já têm passagem pela polícia, como é o caso do líder da associação, que está preso temporariamente por 30 dias. Ele já tinha sido preso em 2014, pela Polícia Civil, também por tráfico de drogas. Entretanto, após audiência de custódia e apresentação de um Habeas Corpus, ele conseguiu ser solto para responder ao processo em liberdade. A expectativa, segundo o delegado federal Fábio Marques, que coordena a investigação, é que a prisão dele se converta em preventiva, como foi feito com os demais. A esposa do mandante do crime também é cúmplice: ela foi presa por tráfico de drogas em 2015, mas está solta e não foi alvo da operação desta quarta.

Operação Ikaro Os outros cinco cumprem mandados de prisão preventiva por tempo indeterminado, caso não haja outra decisão que os revogue. Todos foram indiciados por tráfico de drogas e participação em organização criminosa, alvo da operação Ikaro, realizada nesta quarta pela Polícia Federal. Ao todo, foram cumpridos 7 mandados de prisão (6 preventivos e 1 temporário) e 7 mandados de busca e apreensão na Bahia, além de um mandado de prisão em Goiás, o único que ainda não conseguiu localizar o suspeito. 

A organização enviava cocaína pura à Europa, através de voos diretos de Salvador para Lisboa pela TAP. Cada operação levava 3 quilos da droga, escondidos num fundo falso da mala, que eram transportados sempre por casais. Cada viagem gerava um lucro de quase 500 mil reais, distribuídos entre seus membros.  (Foto: Reprodução) A Polícia Federal acredita que a cocaína é obtida nos países vizinhos - na Bolívia, Peru e Colômbia - e afirma que é de altíssima qualidade, comprada a um valor bem baixo, e vendida na Europa por preços mais altos. “Toda droga que vai para o exterior é muito mais cara e de altíssima qualidade, porque é um mercado exigente”, esclarece o delegado, que estima que cada quilo de cocaína era vendido a 40 mil dólares. 

As mulas Cada mula recebia em torno de 15 a 20 mil reais para efetuar o transporte da droga, que era sempre feita em casais. Além disso, cada um levava em mãos 500 a 1000 euros (cerca de R$ 3 a 6 mil) para bancar os custos básicos da viagem, como hospedagem e alimentação. Toda a documentação usada era verdadeira e regular e, por isso, não foi confiscada. Entretanto, caso os presos desta operação forem condenados no processo, terão problemas em obter novos passaportes.

De acordo com o delegado, algumas das mulas se tornaram parte da estrutura da organização criminosa. “Se a mula tem êxito na ação ou ela consegue ser solta na audiência de custódia, ela passa a aliciar também e integrar a organização criminosa, porque ela vê que é uma forma mais fácil de ganhar dinheiro e é menos arriscado”, explicou o delegado Marques. Ainda não há informações sobre a quantidade de integrantes da associação. 

Desde janeiro deste ano, a PF já efetuou três prisões e apreendeu  11 quilos de cocaína com esta investigação, onde quase todos os flagrantes aconteceram no Aeroporto Internacional de Salvador. Em março, a Polícia Federal deflagrou a operação Olossá, também na Bahia, referente a uma outra organização criminosa cujo núcleo de aliciamento também estava na capital baiana. Foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e quatro mandados de busca e apreensão, nas cidades de Salvador e Ipiaú, na Bahia, além de Ananindeua, no Pará. Todos estes foram expedidos pela 17a Vara Federal da Seção Judiciária de Salvador. A investigação teve início em maio de 2019, a partir de informação recebida pelo serviço de Disque Denúncia da Secretaria de Segurança Pública da Bahia.

Próximo passo  A próxima fase da investigação é saber quem fornecia a droga, quem a recebia no exterior e quantos membros fazem parte desta organização. Após interrogatório, os presos da operação Ikaro vão ser encaminhados para o presídio e ficam à disposição do juiz federal que decretou os mandados, expedidos pela 2ª Vara Federal da Seção Judiciária de Salvador. O delegado Marques não descarta a possibilidade da participação de outras organizações ou até de facções criminosas. 

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro