Casal gay na novela A Dona do Pedaço provoca: ‘Vai ter beijo?’

Guilherme Leicam fala sobre romance com Agno (Malvino Salvador) na trama que chega ao capítulo 100 nesta quarta-feira (12)

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  • Laura Fernades

Publicado em 11 de setembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Victor Pollak/TV Globo

Em meio à polêmica provocada pela censura da HQ com uma cena de beijo gay, na Bienal do Livro do Rio, a novela A Dona do Pedaço promete colocar lenha na fogueira do debate. Isso porque tem um novo casal se formando na trama de Walcyr Carrasco, que chega ao  capítulo 100 nesta quarta-feira (12): Agno (Malvino Salvador) e Leandro (Guilherme Leicam). “Está todo mundo me perguntando: vai ter beijo?”, revela Guilherme, 29 anos, durante evento para jornalistas, no Rio de Janeiro.

O ator, que interpreta um matador de aluguel, diz que também não sabe a resposta, mas revela que o próprio Walcyr perguntou se ele teria problema em beijar outro homem. “Eu disse que de forma alguma, porque nosso trabalho como ator é dar vida ao personagem. Eu ia adorar se tivesse”, disse Guilherme ao autor. Para quem não lembra, foi Walcyr quem colocou no ar o primeiro beijo gay da televisão brasileira, na novela Amor à Vida (2013), com Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso).

O próprio Mateus Solano relembrou a cena em suas redes sociais, no último sábado, em meio à polêmica da Bienal. “Este beijo foi pedido pelo brasileiro; aceito e aplaudido pelo brasileiro. Foi um momento mágico onde o amor e a humanidade venceram”, escreveu o artista, na legenda da foto. “Na época, nós achávamos que o Brasil tava mudando. Hoje acho que foi um ato de resistência. Um privilégio participar daquela história com você, amigo”, respondeu Fragoso, na publicação do colega. Guilherme Leicam interpreta um matador gay (Foto: Estevam Avellar/TV Globo) Encontro Em A Dona do Pedaço, que também conta com uma atriz transexual, Glamour Garcia, a relação de Agno e Leandro começou a caminhar quando o primeiro se assumiu gay para a filha, na última sexta-feira - um dia depois do episódio real da Bienal. A reação homofóbica da garota deu o que falar nas redes sociais e os internautas não a perdoaram por não aceitar o pai , que acabou acolhido por Leandro.

No capítulo que vai ao ar hoje, o empresário vai convidar Leandro para sair, e na cena de amanhã Rock (Caio Castro), paixão platônica de Agno, vai perceber o clima entre os dois. Muita água vai rolar até o dia 19, quando Leandro, que também trabalha como faxineiro na academia, se instala no apartamento de Agno.

Mas como era de se esperar, a novela que vem batendo recordes de audiência com uma trama cheia de intrigas, traição e vilania, guarda surpresas. Segundo o site Notícias da TV, Agno vai descobrir que o rapaz é matador de aluguel e vai colocá-lo para fora de casa.“Acho interessante, porque Leandro não é um clichê. Nunca vi, na televisão, um cara que é matador e se descobre homoafetivo com essa intensidade”, reflete Guilherme, que ficou “muito feliz em ver ele se descobrindo, e não se reprimindo”.Na expectativa de que seu personagem seja acolhido pela família - o que inclui o primo Chiclete (Sérgio Guizé) - Guilherme defende que Leandro “merece essa chance”. “Agora ele está encontrando o lugar dele de verdade. Pode ser que não queira mais fazer encomenda depois disso, né. Seria tão bacana, porque o amor salva tudo”, torce o ator.

Mudança radical A aproximação do novo casal só está acontecendo agora, mas desde a estreia da novela Walcyr já sabia o que queria. Na verdade, só na estreia mesmo, porque antes disso o personagem era completamente diferente. Ao receber o papel, descrito como um matador rústico que morava em uma cidade do interior, Guilherme engordou 8kg, deixou a barba crescer e ficou grisalho. “Eu falei: desapega da vaidade e só vai”, lembra.

Mas na festa de lançamento de A Dona do Pedaço, Walcyr encontrou com ele e disse, tranquilo: “Ó, mudei seu personagem”. “E eu preciso mudar?”, questionou Guilherme, surpreso. “Completamente. Agora você precisa emagrecer e tentar ficar mais novo”, respondeu Walcyr. O prazo? “Dois meses”, ri Guilherme, ao relembrar a correria que foi para entrar em cena como o autor queria.

Desapegado da vaidade, o ator ficou mesmo preocupado com a “inteligência emocional do personagem”, que não sabia que seria gay. Para dar veracidade a Leandro, conversou com amigos homossexuais e estudou ainda mais o assunto, “porque na hora de dar o discurso, você tem que vestir a camisa”, justifica. O matador, explica ele, não se apaixonou pelo físico de Agno, nem pelo dinheiro, “ele quer algo com sentimento”.

“Recebo recados na rede social de pessoas dizendo que se identificam muito com o personagem. Casos de meninos falando ‘meus pais não sabem que sou gay’, e outros dizendo ‘vai ser importante, porque você não é um gay estereotipado, é um cara reservado, então vai lá e nos representa’. Tô muito feliz de estar representando o pessoal”, comemora Guilherme.

Ao destacar a dualidade de Leandro, que tem cara de príncipe, mas é capaz de matar, Guilherme lembra que ele reflete a vida real. “Ninguém é perfeito e todo mundo tem lado bom e ruim”, diz. Na verdade, continua, “a vida é triste, né?”. “A gente faz de tudo para que tenha momentos felizes e nossa teledramaturgia está aí para tentar fazer a gente se divertir”, conclui.

*A repórter viajou a convite da TV Globo