Caso Atakarejo: traficante do Boqueirão é investigado como mandante de execuções

Moradores filmaram tortura e morte de tio e sobrinho, mas não divulgaram após ameaça de bandido

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  • Bruno Wendel

Publicado em 11 de maio de 2021 às 16:00

- Atualizado há um ano

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Foto: Reprodução A polícia já tem o nome do principal suspeito de ordenar a morte de Bruno Barros da Silva, 29, e Yan Barros da Silva, 19, tio e sobrinho que tentaram furtar peças de carne no Atakadão Atakarejo e acabaram entregues por funcionários do local a traficantes que atuam no Complexo do Nordeste de Amaralina, no final do mês passado.

O comando teria partido de Rafael Assis Amaro Nascimento, o Fadiga, umas das lideranças do tráfico na Santa Cruz, território dominado pela facção Comando da Paz (CP), hoje uma filial do Comando Vermelho (CV).

As investigações da Polícia Civil apontam que Fadiga teria sentenciado à morte tio e sobrinho no mês passado pelo fato de eles terem tentado cometer o furto nas proximidades do complexo, o que é proibido para evitar a presença na polícia. 

Leia também: Vídeo mostra vítima no mercado desesperada antes de ser entregue a traficantes: 'Não quero'

De acordo com fontes da Secretaria da Segurança Pública (SSP), existe um vídeo feito pelos próprios moradores de dentro de suas casas mostrando a tortura e execução de tio e sobrinho.

Nas imagens, Fadiga aparece comandando o tribunal do crime. Para evitar que essas imagens circulem, Fadiga vem ameaçando os moradores, dizendo que irá matar aleatoriamente caso o vídeo seja disseminado.   O bandido é uma das lideranças do tráfico no Boqueirão, localidade da Santa Cruz. Ele tem acesso livre às lideranças da facção, Claudio Bandeira, Leandro P, Trovão e Pai Pequeno.

Fadiga responde a sete processos no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA), dos quais, um foi instaurado pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) e outro pelo Departamento de Polícia Metropolitana (Depom). Nomes Apesar de todo o sigilo, o CORREIO conseguiu os nomes dos sete presos até agora acusados de participação nas mortes de tio e sobrinho.  As informações foram passadas por fontes da SSP.  Entre os presos está o gerente da segurança do supermercado, Agnaldo Santos de Assis, e os seguranças Cláudio Reis Novaes e Luís Eduardo Cardoso dos Santos.

Além deles, quatro traficantes também foram surpreendidos na operação. São eles: David de Oliveira Santos, Luís Carlos Pereira Portugal, Victor Juan Caetano Almeida e Douglas dos Prazeres de Oliveira Santos, o DG, um dos gerentes do tráfico do Boqueirão. Entre os presos, DG é considerado o mais perigoso devido à função que ocupa dentro do CP. Ele já tinha em aberto um mandando de prisão por tráfico de drogas expedido pela 1ª Vara de Execuções Penais de Salvador.

Todos os acusados tiveram os mandados de prisão expedidos pelo TJ-BA e cumpridos numa operação da polícias Civil e Militar na manhã dessa segunda no próprio complexo. A investigação é comandada pelo DHPP.  Douglas é um dos presos acusados de participar da tortura e execução de tio e sobrinho (Foto: Reprodução) Vídeo Na manhã desta terça (11), começou a circular nas redes sociais um vídeo feito por uma testemunha que mostra o momento em que Bruno e Yan foram levados para uma área do Atakarejo acusados de furto.

A cena mostra Yan gritando desesperado, dizendo repetidamente "eu não quero, eu não quero". Ele é controlado por um homem que aparenta ser segurança do mercado.  As imagens foram exibidas pela TV Bahia. Uma testemunha contou ao Jornal da Manhã que ouviu quando os dois foram detidos e agredidos no mercado, para em seguida serem entregues a um grupo armado.

"Eu ouvi muitos gritos, tipo como se estivessem agredindo os dois rapazes. Muito, muito, muito mesmo! Eu ouvi zoada de chutes... A parte que eu vi foi dentro da loja, entendeu? Em seguida eu vi muitas pessoas armadas, umas dez a vinte pessoas armadas. E vi o portão abrindo e os dois rapazes pedindo por favor pra não deixar levarem eles, né? Pedindo desculpas, e mesmo assim pegaram e abriram o portão e 'deixou' o pessoal levar eles lá", contou a pessoa não identificada. Após o lançamento de um serviço criado para dificultar a revenda de aparelhos furtados e roubados, na manhã desta terça, o Centro de Operações e Inteligência – 2 de Julho, no Cento Administrativo da Bahia, o secretário da Segurança Pública Ricardo Mandarino comentou o surgimento do vídeo. “Tudo que aparecer é prova, tudo vai para dentro dos autos. As investigações estão sendo feitas com eficiência”, disse. Mandarino também falou sobre o outro caso similar, que teve duas suspeitas de furto entregues ao tráfico, com envolvimento do mesmo grupo de seguranças do Atakarejo de Amaralina. Uma delas morreu e outra foi internada no Hospital Geral do Estado (HGE).“A gente não sabia desse crime. A gente só soube disso através o caso desses rapazes e isso é um outro inquérito que está sendo investigado da mesma forma que do inquérito dos rapazes”, declarou o secretário.Nota O grupo Atakadão Atakarejo divulgou nota sobre o assunto. Leia na íntegra:

1/Desde o início vem colaborando com as autoridades que investigam os crimes em questão; 2/Instalou sindicância que decidiu pelo afastamento de funcionários até que a investigação policial seja concluído; 3/Deseja que todos os fatos sejam esclarecidos o mais rapidamente possível; 4/Quanto às imagens veiculadas, reitera seu posicionamento de repúdio a qualquer tipo de violência, devendo as imagens serem devidamente analisadas pelas autoridades competentes; 5/ A empresa mantém firmemente o compromisso com seu Código de Ética e Conduta.

Ao longo dos seus 26 anos de atuação no mercado baiano - onde gera 6.300 empregos diretos - o Atakarejo tem sua atuação marcada pelo respeito à todas as pessoas, aos Direitos Humanos e sempre agiu com muita responsabilidade social e seriedade.