Caso da falsa veterinária: presidente do CRMV orienta sobre como saber se profissional é confiável

Mulher, identificada como Zuelia Cordeiro Lopes, foi presa, nesta quinta, acusada de maltratar 120 animais

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  • Da Redação

Publicado em 23 de outubro de 2020 às 20:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Uma falsa médica veterinária de 48 anos, identificada como Zuelia Cordeiro Lopes, foi presa nesta quinta-feira (22), no bairro de São Cristóvão, em Salvador, acusada de manter 120 animais em condições insalubres. Apesar de não ter formação na área, ela se apresentava como profissional e cobrava até R$ 2 mil por operações que incluíam cirurgias. 

Altair Santana, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-BA), chamou a atenção para a necessidade dos tutores investigarem os médicos veterinários antes de entregar seus pets.

“Precisa ficar atento às condições do local. O lugar em São Cristóvão era completamente insalubre, por exemplo. E, ao menor sinal de dúvida, entre em contato com o CRMV e forneça o nome do profissional, pois só com essa informação conseguimos checar se trata-se de alguém sério ou não”, aconselha, Altair.

Locais como esse não são um perigo somente para os animais, mas também aos humanos. “Ali é um foco de doenças que podem ser transmitidas para outros animais e até pessoas”, alerta.

Caso alguém encontre um falso consultório ou local que promova maus-tratos aos animais, como rinhas de galo, pode denunciar ao CRMV, polícia ou corpo de bombeiros.

"Nós temos uma equipe de fiscalização, que em 2019 verificou 90% das empresas baianas na área de medicina veterinária e zootecnia. E em todas as viagens os profissionais se deparam com diversas situações aquém do desejado. Mas, o mais importante é atender a denúncias feitas por médicos, tutores e cidadãos", diz Atair.

Advogado nega acusações Em entrevista ao G1, o advogado de Zuelia falou que ela tinha recolhido os animais para cuidar. “Ela é uma senhora reconhecida há anos na localidade, ela é cuidadora de animais. Uma voluntária que recolhe animais na rua em sofrimento, animais abandonados, e cuida desses animais. Os animais que estavam no local não foram feridos por ela, ela pegou para tratar", explicou Jorge Ribeiro em entrevista ao portal. 

Ainda segundo o advogado, a mulher não sabe de onde as denúncias surgiram e que, para ele, não há fundamentos ou provas. “Essa denúncia é totalmente infundada e não tem maneira nenhuma de prosperar. Os fatos estão sendo apurados pela polícia e vai ser provada inocência dela", disse em entrevista ao G1.

A audiência de custódia acontecerá sábado (24). Segundo o advogado, em entrevista ao G1, ele deveria ter acontecido nesta sexta-feira (23), mas burocracias impediram. "Amanhã ela vai passar pela audiência de custódia, e deve ser posta em liberdade. Hoje tivemos contratempo com relação à audiência, algumas coisas burocráticas. Ela é uma pessoa de bem, conceituada no local onde mora e isso vai ser explicado", disse.

Prisão A mulher foi detida na tarde de quinta-feira em um imóvel na Rua Acalanto, no bairro de São Cristóvão, onde foram encontrados cerca de 120 animais em condições insalubres. Ela foi presa após ser ouvida na Central de Flagrantes da Polícia Civil, na região do Iguatemi, pela delegada Marley Reis de Oliveira.

Zuelia se passava por veterinária e cobrava até R$ 2 mil para fazer procedimentos em cães e gatos. "Ela dizia que era veterinária em um local insalubre. Os animais foram encontrados claramente em condições de maus-tratos, sem água e doentes", disse Emerson França, comandante da Brigada K9 do Corpo de Bombeiros Voluntários de Salvador. No local, foi encontrada uma mesa cirúrgica, anestésico e alguns outros materiais. 

Ainda segundo o comandante, Zuelia afirmou que era estudante de medicina veterinária, mas as investigações não confirmaram essa informação. "Ela diz que é estudante de medicina veterinária. Mas mesmo que fosse, não poderia fazer isso. Tivemos dez denúncias. Ela fazia no boca a boca e tinha uma clientela enorme. Para alguns procedimentos ela cobrava R$ 100 e pouco, para outros R$ 200 e pouco. Tivemos informações de que para alguns ela cobrou R$ 2 mil", afirmou.

As investigações duraram cerca de três meses, após a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia  (SSP-BA) receber as denúncias e encaminhá-las para a Brigada K9. A operação conjunta contou ainda com as polícias Civil e Militar e teve apoio do Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia (CRMV-BA).

A médica veterinária Manuela Solca, membro da comissão de bem-estar animal do CRMV-BA, contou que a situação encontrada no imóvel foi "realmente deplorável". "É um lugar muito sujo, cheio de cômodos. Em todo lugar que a gente ia tinha animais. Tinha tanto cães como gatos filhotes e adultos, alguns desnutridos e doentes. Alguns estavam presos e outros em caixase gaiolas. Uma tristeza. Além da situação precária, que envolve o bem-estar animal, a gente detectou alguns animais com zoonoses - doenças transmitidas entre animais e pessoas e que podem ser causadas por bactérias, parasitas, fungos e vírus - que poderiam funcionar como foco de transmissão", explicou.

Manuela disse ainda que alguns gatos apresentavam indícios de doenças como esporotricose e leishmaniose. "A gente viu um animal que provavelmente tinha acabado de ser operado", acrescentou. Alguns animais foram levados para a Central de Flagrantes e em seguida foram encaminhados para o Hospital Veterinário Diagnovet, no Rio Vermelho.

De acordo com o procurador jurídico do CRMV-BA Thiago Mattos, o conselho foi acionado para acompanhar o caso. "Foram constatados os maus-tratos", afirmou. Mattos lembrou que a nova lei estabelece reclusão de dois a cinco anos, além de multa e proibição de guarda para quem praticar abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais.