'Caso isolado': em dois anos, Bahia registrou 59 denúncias de abuso de autoridade de PMs

Em 2018, dados do Disque 100 colocaram a Bahia em quarto lugar em número de queixas de violência policial

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 7 de fevereiro de 2020 às 05:40

- Atualizado há um ano

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Após filmar um corpo numa cena de crime em Itinga, um homem levou dois socos na boca desferidos por um policial militar nessa quinta-feira (6). Internado no Hospital Geral do Estado (HGE), onde um boletim de ocorrência foi registrado, o rapaz precisará de cirurgia.

No domingo (2), durante a dispersão da festa de Iemanjá, circulou um vídeo em que um policial com cassetete agride uma mulher no rosto. Ela cai no chão.

Em novembro do ano passado, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciou quatro policiais militares por abuso de autoridade e constrangimento ilegal contra o empresário Crispim Terral, agredido numa agência da Caixa Econômica Federal quando tentava solucionar questões financeiras com o gerente da unidade.

As situações somam-se à história do jovem abordado violentamente em Paripe, no Subúrbio de Salvador, no último domingo, e revela que não são casos tão isolados assim, como afirmou o Comando Geral da Polícia Militar.

Em dois anos, a Corregedoria da PM da Bahia computou 59 denúncias de abuso de autoridade - em 2018, foram 38 denúncias e, em 2019, 21.

Já o Disque 100, do governo federal, que recebe denúncias de violência policial, registrou 464 denúncias em 2018, sendo 45 na Bahia, quarto estado com maior número de casos, atrás apenas de São Paulo (78), Minas Gerais (65) e Rio de Janeiro (51). Entre os 27 estados da federação, estes foram responsáveis por quase 52% das notificações.

Até a primeira metade de 2019, último dado disponível, a Bahia teve 16 queixas no Disque 100 ante as 196 registradas em todo o Brasil.

Sobre os casos de abuso de autoridade divulgados pela Corregedoria da corporação, eles podem ser desde a divulgação da foto de um preso até a agressão física. Só no ano passado, a corporação registrou 18 afastamentos por conduta irregular. Via de regra, as punições de PMs nessa situação podem ser desde advertência até demissão.

Sobre o caso de Itinga, a vítima agredida foi Luiz Feitosa Pita Neto, 27 anos, que precisou ser socorrido pelo pai para o HGE por causa da fratura no maxilar. No momento, o rapaz fotografava um corpo de uma pessoa morta no local, quando foi surpreendido pelo policial. Legalmente, o ato de compartilhar fotos ou vídeos é crime.

O empresário Crispim Terral, que é negro e foi agredido numa agência da Caixa, já havia ido oito vezes ao local para tentar um extrato de quitação de dois cheques debitados indevidamente em sua conta. Morador do município de Salinas da Margarida, no Recôncavo, ele levou um golpe conhecido como “mata-leão”, e a truculência militar foi filmada pela filha de 15 anos de Crispim.

O caso ganhou as redes sociais e a mídia nacional. Crispim registrou queixa contra os PMs na Corregedoria, assim como fez a cabeleireira Karina Barros, mãe do adolescente de 16 anos agredido em Paripe. Ao lado de apoiadores, Crispim Terral (ao centro) voltou à agência para protestar contra a atitude policial e da gerência da Caixa (Foto: Betto Jr./CORREIO) Procurada, a PM informou que não foi feito registro da ocorrência de agressão a Luiz Pita junto à Corregedoria Geral. Mas, ao tomar conhecimento do fato, o órgão disse que o comandante regional abrirá um procedimento para apurar o caso. Em nota, a instituição ressaltou que qualquer pessoa que se sentir lesada por um policial deve procurar a Corregedoria e registrar uma denúncia.

SAIBA COMO DENUNCIAR A VIOLÊNCIA POLICIAL

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier