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Yasmin Garrido
Publicado em 25 de setembro de 2018 às 04:00
- Atualizado há 2 anos
A circulação do zika vírus no Brasil modificou, a partir de 2015, o cenário das doenças neuroinvasivas por arbovírus, principalmente quanto à síndrome de Guillain-Barré (SGB), pouco conhecida da população. Em 2016, a Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou que o zika vírus era o principal responsável pelo aumento da doença no país.>
Na Bahia, o cenário não foi diferente. A partir de dados dos boletins epidemiológicos da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), entre os anos de 2015 e 2018 (até agosto), foram confirmados 143 casos de Guillain-Barré. No entanto, o que mais chama atenção é o aumento dos casos em 2018. As ocorrências entre janeiro e agosto deste ano já superam os números registrados nos 12 meses do ano anterior.>
Segundo a Sesab, foram 10 casos confirmados de Guillain-Barré entre janeiro e dezembro de 2017 e, em 2018, até 31 de agosto, os números já alcançaram 42 confirmações. Isso significa um crescimento de 320% em 2018 comparado ao ano anterior. Se for analisada a proporção da SGB em relação às doenças neuroinvasivas por arbovírus, até agosto, 79,2% das confirmações foram para a síndrome.>
A neurologista especialista em doenças neuromusculares, Marcela Câmara Machado Costa, explicou que esse aumento ainda não tem uma causa definida.“É preciso esperar o resultado da análise epidemiológica para saber se o aumento é em decorrência do retorno do zika vírus, ou se é um novo vírus, podendo ser, ainda reação a alguma vacina”, revelou.Desta forma, para a médica, assim como o pico da Guillain Barré em 2015 foi relacionado à chegada do zika vírus no Brasil, o aumento de 2018 pode estar relacionado a este ou a outro critério.>
Até fevereiro de 2016, segundo a OMS, a SGB já havia atingido mais de 1.800 brasileiros, sendo que 8% deles morreram e 25% sofreram paralisia dos músculos respiratórios. Ainda segunda a OMS, a mortalidade nos pacientes com SGB é, geralmente, resultante de insuficiência respiratória, pneumonia aspirativa, embolia pulmonar, arritmias cardíacas e sepse hospitalar.>
Entenda a doença De acordo com Marcela Costa, a síndrome de Guillain-Barré “é uma doença imunológica, causada, em geral, por alguma reação pós vacinal ou pós infecciosa, ou de causa desconhecida, que atinge os nervos periféricos”.>
Ainda segundo ela, isso significa que a SGB surge quando “as defesas do organismo são mais intensas do que o necessário para acabar com a infecção e passam a atacar os nervos periféricos do próprio corpo, levando o paciente a sentir sintomas variados”.>
Marcela explicou que o principal sintoma é a fraqueza ascendente, ou seja, que atinge primeiro os membros inferiores, as pernas, e vai acometendo as demais partes do corpo. “Pode desencadear também a partir de uma dormência de membros”, afirmou.>
A médica destacou que a síndrome de Guillain-Barré impede que os nervos transmitam bem os sinais do cérebro aos músculos, o que leva a formigamentos, fraqueza, dificuldade de andar ou paralisia dos membros e dos músculos da respiração.>
Marcela também afirmou que “a fraqueza ascendente pode evoluir em horas ou em dias, podendo ter duração de até duas semanas”. Por isso, segundo ela, é importante que o paciente procure um médico já nos primeiros sintomas, “porque, o quanto antes for dado o diagnóstico, maior a chance de controle da síndrome de Guillain-Barré".>
A OMS apontou que a intensidade da paralisia dos membros pode variar desde leve, com fraqueza, o que não leva o paciente a buscar atendimento, até tetraplegia completa com paralisia da musculatura respiratória acessória.>
Guillain-Barré e Zika A partir da incidência do zika vírus no Brasil, o Ministério da Saúde observou que houve um aumento nos casos confirmados de Guillain-Barré no país. Para a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a relação entre zika e Guillain-Barré é mais evidente do que a entre zika e microcefalia.>
Marcela ressaltou que, apesar da relação com o zika, não se pode atribuir todos os casos de Guillain-Barré ao vírus. A síndrome foi descrita, inicialmente, em 1916 por médicos franceses e, segundo a OMS, pode ser desencadeada por qualquer infecção. O que fez os médicos e pesquisadores a relacionarem a SGB ao zika foi a coincidência entre a chegada do vírus no Brasil e aumento dos casos da doença.>
Tratamento, cura a sequelas O tratamento destinado à SGB é aplicado para acelerar o processo de recuperação dos pacientes, diminuindo as complicações associadas à fase aguda (problemas motores) e reduzindo os déficits neurológicos a longo prazo. O tratamento combina terapia de suporte e terapia modificadora da doença (plasmaférese ou alta dose de imunoglobulina). A imunoglobulina humana intravenosa (IgIV) é o tratamento mais recomendado e consiste no método de extrair anticorpos do sangue de doadores, que são injetados na veia do paciente com SGB. >
Segundo a OMS, a SGB tem estágios de progressão que variam entre duas a quatro semanas. Cerca de 50% dos pacientes começam a responder ao tratamento a partir da segunda semana. No entanto, apenas 15% deles ficam sem nenhuma sequela após dois anos de diagnóstico e, do total de afetados, 5% a 10% permanecem com dificuldades de locomoção permanentes.>
A Organização Mundial de Saúde também afirmou que a Síndrome de Guillain-Barré deve ser tratada com maior rapidez em pacientes com idade acima de 50 anos. Já em crianças, é observada maior rapidez na retomada dos movimentos e, ao invés de paralisia, o sintoma maior é dor nos membros. Na maioria das vezes, a SGB é diagnosticada com exame clínico.>
Aposentadoria por invalidez A neurologista afirmou que “embora a Síndrome de Guillain-Barré seja tratável, pode deixar sequelas nos pacientes, que são observadas apenas após 6 meses de tratamento”. As sequelas podem ser revertidas, mas, podem levar a uma paralisia motora permanente, o que incapacita o indivíduo para o trabalho, segundo Marcela.>
Existe um projeto de lei, proposto em 2015 na Câmara dos Deputados, que determina o pagamento de indenização e pensão especial a pessoas com microcefalia ou Síndrome de Guillain-Barré, cabendo ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a coordenação, aceitação e fiscalização do benefício. O CORREIO entrou em contato com o órgão, mas até o fechamento da reportagem não foi fornecido o número de beneficiários na Bahia.>
Esperança Um grupo de pesquisadores japoneses da Universidade de Chiba, em Tóquio, desenvolveu um tratamento revolucionário para a cura da Guillain-Barré a partir da aplicação de eculiumab, um medicamento já utilizado no tratamento de outras doenças raras. >
Foi constatado que o medicamento agiliza a recuperação dos pacientes com SGB. Na quarta semana de tratamento, 60% dos pacientes já conseguiam caminhar sem ajuda, enquanto o mesmo resultado é observado em 45% dos demais casos da síndrome.>
De acordo com o estudo publicado na revista The Lancet, em abril de 2018, após o final do tratamento, 70% dos pacientes com SGB não apresentavam qualquer sinal de incapacidade. O tratamento, no entanto, ainda está em fase de testes e não há previsão para ser liberado ao mercado.>
Guillain-Barré na novela A novela Segundo Sol, que vai ao ar às 21h na Rede Globo/TV Bahia, vai abordar o universo da Síndrome de Guillan-Barré. A história da personagem Rochelle (Giovanna Lancellotti) na trama vai ter uma reviravolta nesta semana. Após inventar que sofreu abusos do tio Roberval (Fabrício Boliveira), a jovem vai parar no hospital e vai ser diagnosticada com a Síndrome de Guillain-Barré. A cena está prevista para ir ao ar nesta sexta-feira (28).>
O pai da vilã, Edgar (Caco Ciocler) reage à informação do médico e se desespera ao lado da família. O médico, então, vai explicar sobre a perda de movimentos da paciente e indicar o início de tratamento imediato. >
No entanto, o momento mais difícil da trama vai ser quando a blogueira descobre sobre a doença. Rochelle, ao receber a notícia, se desespera e chora, pedindo para ir embora do hospital. A irmã dela, Manuella, vivida por Luisa Arraes, vai tentar acalmá-la, explicando todos os tratamentos e possibilidade de cura da Guillain-Barré.>
A atriz Giovanna Lancellotti precisou adaptar, inclusive, o próprio corpo à nova fase da personagem. Ao ler o capítulo da descoberta da doença, a atriz confessou que ficou um pouco amedrontada com o desafio e recebeu a ajuda da mesma preparadora de elenco que auxiliou a também artiz Alinne Moraes na novela Viver a Vida (2009/2010), quando precisou interpretar uma tetraplégica.>
Além do emocional, a mudança traz impactos no físico de Giovanna, que precisou perder 7,5 kg, saindo dos 52,5 kg para 45 kg. Ela é acompanhada por nutricionistas e preparadores físicos. Para Giovanna, que interpreta uma das vilãs da novela Segundo Sol, essa pode ser a chance de a personagem ser enxergada pelo público de uma forma diferente.>
*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier.>