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Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2020 às 12:10
- Atualizado há 2 anos
Apesar de os bairos mais nobres de Salvador, como Pituba, Graça e Horto Florestal, ainda serem os mais atingidos pela covid-19, o novo coronavírus já começa a surgir pelas regiões mais pobres da cidade. Localidades como Candeal, com quatro casos confirmados, Cajazeiras e Caixa D'água, com dois respectivamente, já começam a sofrer com os impactos da pandemia.>
O dado foi revelado pelo secretário de Saúde de Salvador, Leo Prattes. No estudo, a liderança de casos continua sendo da Pituba, com 16 confirmados, e Horto Florestal, com 10. Ao total, a capital baiana tinha 132 infectados até terça-feira (31).>
A chegada da pandemia aos bairros mais carentes é preocupantes pois essas localidades, em geral, possuem uma maior concentração populacional e piores condições sanitárias, facilitando a propagação do vírus.>
Outro dado relevante é que o número de transmissões comunitárias (aquelas em que não é possível saber a origem do vírus) está próxima de superar as importadas. >
Segundo Leo Prattes são 42 comunitárias contra 45 importadas. Também há 25 locais (ocorridas dentro de Salvador, mas com origem rastreada) e 19 sem informações.>
Os sintomas mais comuns apresentados pelos pacientes em Salvador são febre, tosse, dor de cabeça, dificuldade de respirar e mialgia.>
Bairros mais vulneráveis Uma nota técnica publicada, nesta segunda (30), pelo grupo GeoCombate Covid-19 BA aponta que os bairros do Tororó, Vila Canária, Santa Cruz, Pirajá, Nova Constituinte, Santa Luzia, Boa Vista de São Caetano e Sussuarana devem receber mais atenção do poder público para evitar a expansão do novo coronavírus nesses locais.>
Os oito bairros citados pela nota são mais vulneráveis em caso de contágio pelo vírus por se encaixarem em vários fatores de risco para a expansão da doença. Os pesquisadores do grupo foram capazes de determinar a vulnerabilidade a partir de uma análise cruzada dos fluxo das viagens por meio do transporte coletivo com os indicadores socioeconômicos de cada lugar. O grupo coordenado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) analisou dados coletados em 23 de março. (Foto: Reprodução) “O que falamos é que certos bairros, que têm interações de fluxo muito fortes com outros bairros que possuem a prevalência da doença, também tem fragilidades socioeconômicas. Temos restrição de recursos e precisamos de alguma diretriz para priorizar onde esses recursos serão empregados”, explicou o professor Jorge Ubirajara Pedreira Júnior, que é engenheiro de Produção e pesquisador em Engenharia de Transportes e Ciência de Dados.>
Com a análise do fluxo de transporte de viagens rígidas - aquelas que não são flexíveis, como as para o trabalho, o grupo desenvolveu um primeiro mapa do perigo potencial da disseminação da Covid-19 nos bairros de Salvador. Este dado aponta como o vai e vem de pessoas na cidade pode transmitir o vírus. Assim é possível saber como as pessoas que trabalham em um local com vários casos da doença pode se infectar no trabalho e levar a doença para casa.>
Entretanto, apenas a transmissão entre as localidades não é capaz de determinar a vulnerabilidade de um bairro. Para isso, é necessário compreender como as condições socioeconômicas do local, como a densidade de ocupação domiciliar, influenciam na disseminação do Covid-19.>
“Em Patamares, uma menor parte da população vive com mais de dois indivíduos por cômodos. Em outros bairros, mais pessoas moram em uma mesma casa e, por isso, dividem o quarto. Essa última situação de moradia potencializa o risco de transmissão da doença porque a pessoa não tem como se isolar em casa para não disseminar o vírus”, explica o professor Julio César Pedrassoli, que é geógrafo e pesquisador em Análise Espacial e Sensoriamento Remoto.>
Por esse motivo, o bairro de Patamares é apontado como o 5º no ranking de perigo potencial de disseminação da doença, mas possui uma vulnerabilidade menor ao vírus por ter indicadores socioeconômicos mais altos.>
Para chegar os resultados, o grupo associou o perigo potencial de disseminação da doença a quatro índices. São eles: o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, o Índice de Vulnerabilidade Social, a densidade de ocupação domiciliar e a vulnerabilidade ao abastecimento de água e esgotamento sanitário inadequado. Estes indicadores foram extraídos diretamente do Atlas da Vulnerabilidade Social, de iniciativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), baseado em dados do Censo Demográfico de 2010.>
Em nota, o grupo aponta que é importante refletir sobre a necessidade de ações prioritárias nos locais de maior vulnerabilidade por parte do poder público. “Os indicadores de risco aqui apresentados podem direcionar a escolha de locais de aplicação de testes diagnósticos, monitoramento dos casos e o subsequente isolamento dos indivíduos fora de suas residências nos casos em que a alta densidade domiciliar inviabiliza a quarentena doméstica”, aponta o grupo na nota técnica.>
Além dos oito bairros, o resultado das análises destaca as regiões centrais da Área Urbana Consolidada, o Subúrbio Ferroviário e Miolo como regiões mais vulneráveis à doença.>
A pesquisa começou há exata uma semana, em 23 de março, por isso, o grupo ressalta que o modelo vem sendo refinado a cada dia. “Os resultados possuem confiabilidade inicial, mas podem ser melhorados com dados mais precisos”, afirmou Ubirajara.>
Os pesquisadores do grupo desejam trabalhar em parceria com poder público para ter acesso a dados mais atualizados e precisos. “Trabalhamos com os dados disponíveis. Desejamos mostrar o potencial de informação que podemos gerar e auxiliar o poder público a tomar a ação mais assertiva que se pode tomar”, diz Ubirajara.>
Por se tratarem de dados da semana passada, os pesquisadores reconhecem que o padrão das viagens na cidade pode ter sido alterado em função das primeiras políticas de limitação da movimentação dos indivíduos pelo poder público.>
O grupo de pesquisadores foi criado a partir de uma discussão entre professores universitários sobre a possibilidade de se fazer uma pesquisa a partir da perspectiva da movimentação do fluxo de transporte em Salvador para a disseminação da doença. “Convidamos conhecidos de diversas instituições, inclusive do estado, para ter informações para montar o estudo. Inicialmente, o grupo tinha 6 pessoas. Agora, temos 25 pessoas com várias ideias e agregamos nossos esforços para chegar nessa nota técnica”, relata a professora Fabíola Andrade Souza, que é bacharel em Informática e pesquisadora em Sistemas de Informações Geográficas (SIG), Infraestrutura de Dados Espaciais (IDE) e banco de dados geográficos.>
A pesquisa pode ser acessada aqui.>