Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 31 de março de 2023 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Os casos de dengue grave na Bahia nos três primeiros meses deste ano já correspondem a mais da metade (55%) de todos os registros da doença no ano passado. Até a segunda-feira (27), 185 formas graves haviam sido diagnosticadas, enquanto que em todo o ano de 2022 foram 337. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). O crescimento acelerado do número de implicações acende o alerta para o surto da doença, especialmente entre os meses de março e abril, quando ocorre o pico de transmissão do mosquito Aedes aegypti.>
A denominação “dengue hemorrágica” para tratar a forma mais grave da doença entrou no vocabulário brasileiro, mas especialistas alertam que devemos ter cuidado com o termo. Nem todo quadro grave de dengue causa alterações na coagulação sanguínea. Na prática, a doença pode ser letal para um paciente mesmo que o quadro não seja considerado hemorrágico. >
O que diferencia a dengue “clássica”, que tem duração de cinco a sete dias, das complicações causadas pela forma grave é a resposta de defesa do organismo. Pacientes que já tiveram um dos quatro tipos têm mais chances de complicações em casos futuros. Uma nova vacina para a doença foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não há previsão de quando estará disponível.>
“O vírus estimula o sistema imunológico a produzir interleucinas, que são substâncias que alteram a parede vascular dos vasos sanguíneos. Quanto mais intensa a produção, maior a chance de quadros mais graves”, explica a infectologista Áurea Paste. Em casos graves, o paciente é internado para receber hidratação venosa e medicamentos. >
O último boletim de arboviroses (doenças virais transmitidas por mosquitos) divulgado pela Sesab aponta que o coeficiente de incidência (CI) de dengue na Bahia é de 55,9 casos a cada 100 mil habitantes. O número é o maior dos últimos cinco anos para este período e representa um aumento de 59% em relação ao ano passado. >
Embora a notificação de casos seja compulsória, a Sesab não divulgou o número de casos de dengue do primeiro trimestre dos três últimos anos pedidos pela reportagem. A secretaria só informou os registros totais de casos em 2022, 2021 e 2020. A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) também não divulgou o número de casos da doença.>
Neste mês, o colégio Montessoriano, em Salvador, enviou um comunicado aos pais e responsáveis depois que um aluno desenvolveu a forma mais grave da doença. No documento, a escola alerta sobre o aumento do número de casos e lembra os cuidados para evitar a transmissão do Aedes aegypti. A reportagem entrou em contato com a direção pedagógica da instituição, que não comentou o assunto. >
O surto de dengue não é exclusividade da Bahia. Os casos aumentaram 53% no Brasil entre janeiro e março, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Mais de 53 mil casos prováveis foram registrados apenas neste ano. No último domingo (26), foi ao ar no Domingão com o Huck um programa com paulista Jhonathan Wiliantan da Silva, que faleceu dias após a gravação vítima de dengue grave. >
Sintomas Até o terceiro dia de sintomas, é difícil identificar se a dengue será clássica ou se o quadro de saúde vai evoluir para a forma grave da doença. Nos dois casos, as manifestações iniciais são dor de cabeça e nos olhos, cansaço, dores musculares e náuseas. Por isso, é importante que o paciente seja acompanhado por uma equipe médica atenta a mudanças nos desdobramentos da doença. >
“O agravamento costuma ocorrer entre o terceiro e sétimo dia, com sinais como tontura, sonolência, desmaio e dor na barriga. Em alguns casos pode ocorrer sangramento gengival, fezes escurecidas ou vômitos com sangue”, explica Viviane Boaventura, pesquisadora da Fiocruz-Bahia e professora da Faculdade de Medicina da Ufba. >
Em casos muito graves, ocorre queda ou ausência de pressão arterial, episódio conhecido como “choque”. Segundo a pesquisadora Viviane Boaventura, idosos acima de 70 anos e crianças devem receber atenção especial, mas todos os pacientes devem observar os sinais de agravamento. >
No caso de Ailma Monique Barreto, de 24 anos, os médicos não foram capazes de identificar a gravidade da doença nos primeiros sinais. A jovem precisou ir à emergência do hospital duas vezes até que fosse internada por uma semana. Apesar de não ter tido sangramentos, Ailma teve plaquetopenia - diminuição do número de plaquetas no sangue. >
“Tive muita febre e dor nas articulações, mas os médicos não diagnosticaram a dengue no início. No segundo dia, senti dores tão fortes que não conseguia nem andar direito, foi quando apareceram as manchas vermelhas embaixo dos olhos”, relembra a estudante. O caso ocorreu em 2015. >
Estoque de inseticidas de combate ao mosquito segue em baixa na Bahia>
Mesmo após a divulgação, pelo jornal CORREIO, de que apenas 43 litros de inseticidas usados no combate ao mosquito estavam disponíveis na Bahia, o estoque central do produto continua baixo. Apesar de não ter dado detalhes, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) admitiu o problema e afirmou que os Núcleos Regionais de Saúde possuem aproximadamente dois mil litros. Os núcleos recebem os insumos do estoque central. >
A falta do inseticida se deve à ausência do Imidacloprida + Praletrina, as substâncias usadas nos carros de 'fumacê' em áreas com alta incidência de casos de dengue. A última remessa ocorreu em julho de 2022 pelo Ministério da Saúde, que não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre quando será feita uma nova remessa. A Sesab reforça ainda que o produto representa a última linha de combate ao mosquito.>
Para conter a disseminação acelerada do mosquito e agravamento da condição sanitária, é preciso manter os cuidados básicos. O principal é evitar recipientes com água parada, local de proliferação do Aedes aegypti. Por isso, especialistas indicam que semanalmente pontos da casa sejam revisados como lixeiras, vasos sanitários e vasilhas para animais.>
*Com orientação de Perla Ribeiro.>