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Moyses Suzart
Publicado em 21 de setembro de 2025 às 08:00
Se tem uma prefeitura que vive um eterno looping paradoxal, está é a de Maraú, no sul do estado. Suas estradas precárias e de difícil acesso, além de infraestrutura, digamos, rústica, divide opiniões. Uns acreditam que a melhoria estrutural vai trazer uma urbanização que pode tirar o brilho natural do lugar. Outros, acreditam que precisa minimamente de cuidado para atrair mais turistas e fortalecer o comércio local. É uma luta eterna. Porém, parece que tem um assunto que consegue juntar o feliz poeta e o esfomeado: a ocupação desenfreada, seja de grilagem ou de barracas que tapam a visão das praias paradisíacas. E agora, quem for em Taipu de Fora, em Barra Grande, vai ver novidades: as antigas ocupações que taparam a visão de quem chegava, de forma irregular, foram demolidas.
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Desde o início do mês, antigas barracas que taparam a visão das piscinas naturais de Taipu de Fora começaram a ser demolidas. Segundo a prefeitura, esta etapa faz parte de um projeto de revitalização da área, que ainda tem algumas barracas em funcionamento, que fica afastada da faixa de areia, além de casas e condomínios. Para alguns, as antigas barracas, além de tomar conta da área pública, ainda cobravam consumação mínima de R$ 200. >
Esta fase de demolição é uma consequência antiga, de um processo que corre há anos, como ocorreu em Salvador, em 2010. Segundo a prefeitura de Maraú, a desocupação aconteceu em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF) e a Secretaria do Patrimônio da União (SPU). >
“Era uma queixa muito grande, antiga da comunidade. É uma ação que já tem muito tempo, aí só é a decisão final pra poder fazer a demolição. Segundo a Prefeitura, será feito uma espécie de calçadão pavimentado, com pontos instagramáveis, vai fazer toda uma revitalização ali daquela avenida. Nem vai passar carro, vai ficar só um calçadão para os turistas e moradores”, disse o morador local, Darli Santos, dono do Portal Barra Grande 24 horas, com quase 80 mil seguidores. No seu Instagram, o único ponto divergente de moradores e turistas é justamente o ‘calçadão’. Para maioria, tem que deixar o mais natural possível, pezinho na areia literalmente.>
Entre Barra Grande, Taipu de Fora e outras praias menos exploradas, o dilema se repete: até onde é possível expandir a estrutura turística sem perder a essência rústica e natural? Enquanto uns defendem que o visitante precisa de conforto e acesso melhorado, outros acreditam que o maior patrimônio da península é justamente sua simplicidade, com pousadas pé na areia, ruas de barro e natureza intocada. A cada decisão pública, como as recentes demolições, esse debate ganha força.>
“Tomara que não vire uma 'Praia do Forte'. Calçada organizada porém a praia péssima. Preservem as piscinas naturais e o acesso livre sem resorts! Taipu de Fora é belíssimo!”, disse uma turista sobre a desocupação e o projeto de transformar em calçadão. “Ótima iniciativa de desocupar a praia! No entanto, praia é pra ter areia, não sei se o calçadão é boa ideia!”, afirmou outro seguidor da prefeitura. >
O secretário de Turismo e Meio Ambiente de Marau, Hagmar Madeira, garante que toda área será preservada. Além da desocupação, ações de limpezas das piscinas naturais acontecerão com mais frequência. Procuramos donos das barracas demolidas, mas não tivemos retorno até o fechamento da edição. >
Este trecho da Península de Maraú sofre com ocupações desordenadas. Ainda este ano, mas precisamente em abril, o Ministério Público da Bahia fiscalizou a demolição de construções não ocupadas em loteamento clandestino na praia de Taipu de Fora, incluindo um loteamento, que na época já vendia lotes e se chamava ‘Praia Bela de Taipus’.>
Segundo a promotora de Justiça Alicia Passeggi, “a área havia sido permutada pelo Município e, mesmo diante da ação judicial com liminar deferida, as áreas irregularmente permutadas foram clandestinamente loteadas. Esses lotes clandestinos foram difundidos no mercado imobiliário, através de um mapa não aprovado pelos órgãos competentes, que tratam esses espaços públicos como 'reloteamento'”, diz.>
Outro aspecto alvo de discussão acalorada, é a revitalização da entrada de Barra Grande, que se torna inviável nos períodos de chuva pelo acúmulo de lama. “Sou contra a pavimentação na Península. Nosso solo é dinâmico, nosso lençol freático é raso, e a biodiversidade aqui é imensa: tamanduás, raposas, primatas, micos, aves… Será que ninguém está pensando nisso? Chamam de progresso, mas é a morte do que mais nos encanta e nos trouxe até aqui”, disse uma moradora de Barra Grande, Stella Furlan. Já outro morador pensa o contrário:>
“Se fosse assim, Itacaré estava morto também… para de prosa ruim! Queria ver você descer para empurrar ônibus na lama em dia de chuva ou tomar poeira na cara em dia de sol. Como deve andar de carro particular, é contra mesmo”, rebate outro morador, sobre a mudança na entrada do povoado. >
A Península de Maraú é uma das joias do litoral baiano. Com águas cristalinas, coqueirais e praias quase selvagens, atrai turistas do Brasil e do mundo. Taipu de Fora, em especial, é o cartão-postal mais conhecido: suas piscinas naturais são consideradas entre as mais bonitas do país. Não à toa, a região figura em listas de destinos paradisíacos e se tornou alvo do turismo de massa, que, por um lado, movimenta a economia local, mas, por outro, pressiona o meio ambiente e a comunidade. Por isso tanta variação de opiniões. >
Além da beleza natural, há também um aspecto cultural importante. A Península abriga comunidades tradicionais, pescadores e marisqueiras que vivem do mar há gerações. O avanço da especulação imobiliária ameaça não apenas a paisagem, mas também os modos de vida locais. Por isso, moradores pedem um modelo de desenvolvimento sustentável, que envolva diálogo, fiscalização séria e medidas que conciliem turismo, meio ambiente e comunidade.>
Taipu de Fora