Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

No Wacken ou no 30 Segundos: metaleiro é tudo igual

Guitarista e cantor finlanês, fundador da célebre banda Stratovarius, Timo Tolkki se apresentou em Salvador

Publicado em 21 de setembro de 2025 às 10:00

Timo Tolkki é fundador da célebre banda Stratovarius
Timo Tolkki é fundador da célebre banda Stratovarius Crédito: divulgação

Pouca gente sabe, mas Salvador recebeu nesta semana uma das maiores lendas do heavy metal mundial para uma experiência musical para lá de inusitada. O guitarrista, compositor, produtor e cantor finlandês Timo Tolkki, fundador da célebre banda Stratovarius, tocou no 30 Segundos, no Rio Vermelho, em um show de pouco mais de uma hora com a presença de algumas dezenas de metaleiros, com este humilde cronista entre eles. Foi uma cena muito pitoresca.

Para quem não conhece, Timo Tolkki é um dos maiores guitarristas do mundo e um dos principais precursores do power metal, um subgênero do heavy metal caracterizado por um som mais rápido e melódico, com a presença de elementos sinfônicos, teclados e uma bateria acelerada, na velocidade da luz. Speed of Light, inclusive, é o nome de um dos principais sucessos do Stratovarius, banda finlandesa que está entre as maiores de metal da história, com uma legião de fãs pelo mundo. Aliás, vale só deixar registrado como é impressionante um país com pouco mais de 5 milhões de habitantes produzir tantas e tão boas bandas de metal. Mas isso é assunto para outra crônica.

Voltando ao show em Salvador, Timo tocou com a banda Galaxies, formada em Fortaleza-CE e especializada em cover do Stratovarius. Acostumado aos grandes palcos do mundo e com milhares de espectadores na plateia, o músico finlandês estava ali com alguns poucos fãs, que puderam ver sua performance a poucos metros de distância. Brinquei com meu amigo metaleiro que me acompanha: “Esse show deveria se chamar Timo Tolkki: do Wacken ao 30 Segundos”. Foi uma referência ao Wacken Open Air, maior festival de metal do mundo, que acontece na Alemanha, onde Timo tocou algumas vezes com o Stratovarius.

Deixando claro: nenhum demérito do 30 Segundos, ok?! Fiz a comparação apenas para mostrar o quanto era inusitado aquele momento. Inclusive, é preciso reconhecer todo o mérito da casa que recebeu Timo para uma apresentação muito intimista e aconchegante e recheada de sucessos do Stratovarius. Além disso, é importantíssimo frisar o papel relevante que o 30 Segundos desempenha para a cena do rock/metal de Salvador, trazendo covers e bandas locais.

O set list, embora pequeno, trouxe sucessos que para mim, particularmente, são muito marcantes, como a já citada Speed of Light, Father Time (minha favorita), Black Diamond, Hunting High and Low e Stratosphere, canção instrumental com uma bateria muito rápida em que Timo pode mostrar toda a sua técnica na guitarra. Ele tocou quase todo o tempo sentado, o que reflete a saúde frágil do artista finlandês nos últimos anos.

A banda cearense que acompanhou Timo em Salvador e em todas as demais apresentações pelo Brasil mostrou muita qualidade. O ponto negativo foi a baixa qualidade do som, o que acabou impactando na experiência. O próprio músico finlandês ficou incomodado em alguns momentos do show. A turnê, que passou também por outros países da América do Sul, celebra os 40 anos do Stratovarius, percorre por 12 cidades do Brasil e será encerrada neste domingo (21) em Teresina.

O grupo finlandês fundado por ele segue em atividade até hoje, mas com uma formação diferente da composição clássica que ganhou os palcos do mundo e ainda mais diferente do seus primórdios. A formação que ganhou o mundo, conquistou milhões de fãs e ganhou inúmeros prêmios tinha, além de Timo Tolkki nas guitarras, Timo Kotipelto no vocal, Jens Johansson nos teclados, Jörg Michael na bateria e Jari Kainulainen no baixo.

A saúde de Timo Tolkki foi determinante para todos os principais acontecimentos da banda ao longo do seu período mais crítico e turbulento, entre os anos de 2004 e 2008. Em resumo, diversos conflitos internos provocaram uma tremenda crise no Stratovarius, que culminou com Timo expulsando membros da banda, entre eles o vocalista Kotipelto. O guitarrista chegou a chamar o vocalista de “ditador”, mas anos depois se desculpou. Diagnosticado com bipolaridade e, mais recentemente, com diabetes, Timo deixou a banda em 2008 e seguiu carreira solo. Autorizou que os demais membros seguissem com o projeto e que utilizassem o nome do grupo.

O Stratovarius seguiu sem ele. Dos membros da formação clássica, somente estão presentes até hoje Kotipelto e o virtuoso tecladista Johansson. A banda, embora ainda faça muito sucesso, nunca mais gravou um grande álbum como naqueles velhos tempos de Timo Tolkki. Tanto é que, nos shows que faz até hoje, as músicas daquele período são as mais pedidas e são indispensáveis no set list.

Nos últimos anos, Timo Tolkki se dedicou a projetos pessoais, entre eles o Symfonia, um super grupo que tinha também a participação do lendário vocalista brasileiro André Matos, que faleceu abruptamente em 2019, aos 47 anos. O projeto não fez muito sucesso, o que fez Timo, em 2011, reclamar da falta de reconhecimento da cena do metal. “A música está enferma neste momento e não vai melhorar”, disse, ao afirmar que não sabia se voltaria a gravar algum álbum. Convocado por sua legião de fãs, voltou aos estúdios mais algumas vezes, inclusive com nomes de peso do metal, como o vocalista alemão Michael Kiske, mas não produziu nada que chegasse perto do sucesso alcançado no Stratovarius.

Eu confesso que, naquele momento, passou um longo filme na minha cabeça ao ver um dos grandes nomes do metal mundial tocando em Salvador. Foi uma noite de muita nostalgia. Dois pensamentos vieram à minha mente. Primeiro, que Timo Tolkki, pela enorme influência que teve para o sucesso do power metal, talvez merecesse um final de carreira com mais prestígio. Segundo, é preciso reconhecer a grandeza dele ao topar fazer um show com poucas pessoas, tocando com qualidade e, acima de tudo, esbanjando simpatia. Ao longo do show, fez brincadeiras, chamou um casal para o palco quando tocou uma das baladas do Stratovarius, bebeu muita caipirinha (ou algo parecido) e se divertiu demais, assim como todos nós.

No final das contas, ficou a sensação de alma lavada. Acho que a ficha daquele momento ainda nem caiu. Como disse ao meu amigo no final do show: um dia, direi aos meus filhos que eu vi Timo Tolkki tocar bem de perto, e essa história eu vou adorar contar. E acho que eles vão se amarrar.