Catraca livre na greve de ônibus divide opiniões de rodoviários e passageiros

Usuários temem baderna e assaltos; PM diz ter plano de ação

Publicado em 22 de maio de 2018 às 19:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/CORREIO

Rodoviários votam por greve a partir da meia noite (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Medida sem precedentes em Salvador, a ideia de liberar as catracas ou o acesso gratuito dos passageiros durante a greve de ônibus em Salvador, nessa quarta-feira (23), parece ter a aprovação da grande maioria da população, mas há quem veja a medida com receio e reservas. Enquanto os passageiros temem a ação de baderneiros e até assaltantes, que terão como entrar nos ônibus sem pagar nada, há cobradores que acreditam que a medida pode ser uma espécie de ensaio para demitir essa parte da categoria.

Com relação à segurança, o Departamento de Comunicação Social (DCS) da Polícia Militar informou que já tem um plano para evitar ações criminosas durante a greve com catraca livre. “A Polícia Militar da Bahia já traçou o planejamento para atender as demandas que se apresentem em razão da possível paralisação do sistema de transporte rodoviário a partir da meia noite desta quarta-feira (23)”, informou a assessoria da corporação, em nota.

Apesar disso, nem todos os ônibus precisarão ir para as ruas. A Justiça do Trabalho determinou, na manhã desta terça, que os rodoviários mantenham apenas 50% dos trabalhadores em atividade das 5h às 8h e das 17h às 20h (horários de pico), e 30% nos demais horários.

Passageiros Uma dona de casa de 55 anos que passava pela sede do Sindicato dos Bancários, após a assembleia que decidiu pela greve, criticou a decisão de liberar os ônibus para qualquer pessoa. "Tô com medo de entrar bandido no ônibus. Entra bandido de qualquer jeito. Tô preocupada com meus filhos. Vai ter é confusão", sugeriu ela, pouco otimista com a medida.

"É bom que vai sobrar crédito no Salvador Card pra eu poder ir pra outros lugares", replicou Murilo Santos, 29 anos, promotor de vendas numa multinacional sobre o acesso gratuito aos coletivos.

Apesar de se falar em catraca livre, a medida pode ser um pouco diferente, ou seja, sem o uso das borboletas, como foi discutido durante a assembleia que decidiu pela greve. Nesse caso, os passageiros devem acessar os coletivos pela porta de saída, para evitar pedidos de ressarcimento por parte dos patrões.

Rodoviários Os rodoviários também não têm consenso sobre a ideia de liberar a entrada de passageiros. "Catraca livre não concordamos porque parece ensaio pra demitir os cobradores. Tem que parar geral", defendeu um cobrador, sem se identificar.

"Preferia não rodar, ficar em casa ou ajudar no piquete. Eu tenho medo de confusão... mas, se tiver que rodar, que seja com catraca livre", afirmou um motorista, também sem se identificar. A medida também é vista como uma forma de ter o apoio popular. "Sou a favor porque a gente chama a população pra nos apoiar. Faço questão de rodar com catraca livre", completou o motorista, que faz parte da maioria que defende a catraca livre.

"Fomos até o fundo do poço pra tentar negociar. Infelizmente não teve acordo. Não queremos deixar a população na mão", declarou Adelnilson dos Santos, 48, rodoviário há 25 anos e também entusiasta da medida sem precedentes em Salvador.

Segundo Cléber Maia, responsável jurídico do Sindicato dos Rodoviários, a justiça é que determina quais ônibus devem sair das garagens. "Os desembargadores que decidem!", afirmou. Até o fechamento da matéria, o CORREIO não conseguiu entrar em contato com a assessoria do Tribunal de Justiça para comentar a declaração.

*Com supervisão do editor João Galdea.