Causa do acidente na linha 1 do metrô de Salvador ainda está sendo investigada

Seis pessoas ficaram feridas depois que vagões e carro de reboque colidiram

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  • Da Redação

Publicado em 1 de junho de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A falha no rebocador que provocou a colisão de dois vagões do metrô de Salvador, que descarrilaram na manhã de terça-feira (31), na altura da Estação Pirajá, ainda estão sendo investigadas, informou a CCR Metrô Bahia, concessionária do serviço. O acidente aconteceu nas imediações do bairro de Bom Juá, um dos trechos da Linha 1. O carrinho de reboque [em amarelo na foto acima] é responsável pela inserção e retirada de trens no sistema durante os horários de maior pico no modal e era dirigido por um operador na hora da ocorrência. Seis pessoas, entre passageiros e funcionários da CCR Metrô Bahia ficaram feridas. O trecho onde a situação ocorreu está interditado e só deve voltar a operar nesta quinta-feira (02).

Apesar da causa do acidente ainda não ter respostas completas, os moradores da rua das Pedreiras, no Calabetão, não vão esquecer do susto tão cedo (leia mais abaixo). Uma das testemunhas estava na cozinha quando ouviu o barulho e chegou a pensar que era uma explosão de gás, pois quando chegou na janela de casa, ainda viu fumaça saindo dos vagões e dois funcionários que estavam no reboque saindo machucados. “Um deles estava com o braço ferido”, contou ela, que mora em frente ao local onde ocorreu a  colisão.

O vagão que bateu no reboque estava vazio e o outro em que ele colidiu na sequência transportava passageiros, segundo testemunhas que acompanharam a saída das pessoas dos carros. Vídeos que circularam nas redes sociais durante o dia mostravam os passageiros narrando a situação (leia mais abaixo).  A concessionária disse, em nota, que análises preliminares apontam que houve falha no rebocador. 

O diretor da CCR Metrô Bahia, André Costa, informou que a operação dos veículos rebocadores é feita todos os dias de forma programada e em horários diferentes, para inserir e retirar as composições do sistema, atendendo sempre à demanda de passageiros. “Foi uma falha em um rebocador que trazia um dos trens, mas não sabemos a causa da falha, isso está sendo apurado”, afirmou.

Rm entrevista à TV Bahia, o diretor detalhou que a falha no rebocador fez com que o vagão sendo puxado se deslocasse mais rápido que o previsto e entrasse na via muito depressa, encostando no último vagão de um trem  que vinha passando  na  hora. 

Feridos 

Inicialmente, logo que aconteceu o acidente, a CCR Metrô tinha informado que não havia vítimas. Logo em seguida, soltou notas confirmando os seis feridos, mas enfatizando que foram todos sem gravidade. André Costa explicou que isso aconteceu porque a empresa divulgou as informações iniciais que possuía logo após o acidente. “Não sabíamos dos feridos e logo que soubemos, divulgamos e soltamos a informação completa. E, assim que tivermos mais novidades sobre o ocorrido, elas também serão divulgadas. Nós prezamos sempre pela transparência”, destacou o diretor. 

“Nós tivemos quatro passageiros e dois colaboradores que reclamaram de leves dores e acionamos o Samu imediatamente, mas todos passam bem e são acompanhados”, completou.

Pelo menos cinco ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram enviadas para o local. As seis pessoas que ficaram feridas foram encaminhadas para hospitais. Entre os feridos, dois são os funcionários da CCR que os moradores viram no carro de reboque após a colisão. O médico Uenderson Barbosa, do Samu, atendeu as vítimas e confirmou que um deles sofreu um corte no braço.

“Foi um corte superficial e o outro funcionário também ficou ferido. Além deles, quatro passageiros precisaram de atendimento porque no impacto foram projetados. Eles estavam com dores abdominais. Nós atendemos um homem e três mulheres, uma delas é uma idosa de 60 anos. Eles foram encaminhados para o Hospital Geral do Estado (HGE) e para o Hospital Municipal”, contou. Já os dois funcionários  da CCR Metrô Bahia foram regulados para hospitais particulares.  Equipes da CCR Metrô Bahia na área do acidente (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Concreto arrancado

O impacto da batida fez os dois vagões tombarem e o rebocador, ao sair dos trilhos, arrancou parte do concreto que ladeava a via, atravessou a vegetação e só parou ao atingir o gradil que separa a comunidade do Calabetão dos trilhos. Parte da estrutura ficou retorcida sobre a escadaria usada pelos moradores para chegar até suas casas. 

A babá Cíntia Lima, 44 anos, disse que o acidente poderia ter sido pior. “A escadaria é movimentada, a gente usa muito, mas na hora não estava passando ninguém. Eu não moro perto, mas levei um susto porque minha filha tinha acabado de sair e ela usa o metrô. Graças a Deus ela não estava nesse trem e que bom que ninguém teve ferimentos graves”, disse.

Cinco equipes do Corpo de Bombeiros também foram encaminhadas para o local. A comandante do 3º Grupamento dos Bombeiros Militares (Iguatemi), major Jamille Almeida, contou que cerca de 20 homens e mulheres atuaram na operação. 

“Quando chegamos, o cenário já estava controlado, porque os clientes [os passageiros] tinham sido retirados pela própria brigada da concessionária e nós atendemos três vítimas que estavam com sintomas leves, com pequenas escoriações”, afirmou.

Por conta do acidente, a operação na Linha 1 foi interrompida por 40 minutos, e depois retomada entre as estações do Retiro e Lapa. A Linha 2 (Acesso Norte até o Aeroporto) não foi afetada, mas também parou de manhã por questões de segurança e retornou logo em seguida. A CCR informou que o Plano de Apoio entre Empresas em Situações de Emergência (Paese) foi acionado para minimizar os impactos para os passageiros que fazem o trajeto por ônibus entre Pirajá e Retiro.

Pela manhã, a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) criou duas linhas emergenciais de ônibus para atender quem usa o trecho do metrô que ficou inoperante (leia abaixo).

‘Achei que minha  casa estava caindo’

O descarrilamento de vagões do  metrô nas proximidades da Estação Pirajá deu um grande susto nos moradores do Calabetão. O estrondo fez quem estava em casa sair correndo para ver o que tinha acontecido.

"Foi um barulho muito grande, achei que a casa estava caindo e saí correndo", contou a dona de casa Rejane Nascimento, 27, que se  deparou com a batida entre um vagão e o carrinho de manutenção e reboque.

Moradores contaram que os passageiros conseguiram abrir uma das portas  para sair do vagão acidentado. No impacto da batida, o carrinho da manutenção e reboque  foi projetado para fora dos trilhos, derrubou a grade de proteção  e  invadiu o matagal que circunda os trilhos nesse trecho da linha.

Rejane Nascimento disse ainda que ficou surpresa em ver o carrinho durante o dia, visto que as manutenções nos vagões do  metrô acontecem mais  durante a madrugada. No entanto, segundo a CCR, não se tratava de uma manutenção, mas da inserção de trens no sistema para atender a demanda de passageiros.

Ao longo do dia de terça-feira, as redes sociais fervilharam com vídeos mostrando cenas dos passageiros sendo socorridos nos trilhos ou daqueles que permaneciam os vagões aguardando resgate. E áudios narrando a situação. A maioria das pessoas  permaneceu calma, mas alguns demonstraram  ansiedade: "No metrô, um acidente terrível. A gente está preso aqui no metrô, agora, um acidente horrível, o metrô bateu no outro, meu Deus", diz o áudio de uma passageira.  "Tô toda arrepiada", disse  outra. 

Uma das filmagens mostra a situação em um vagão após o choque e os passageiros reclamam da postura da equipe do metrô: "Os seguranças ali andando, ninguém diz nada pra gente e nem deixa sair e nem entrar. Estamos presos aqui na estação do metrô, na estação Pirajá. Quem vem pra cá, não venha mais, viu? Vai ficar preso também, no escuro, sem uma informação, ninguém diz nada", recomenda o passageiro indignado. 

Acidente deverá impactar 30 mil nos próximos dias

O diretor da CCR Metrô Bahia, André Costa, estima que cerca de 30 mil passageiros serão impactados nos próximos dias por conta do acidente de ontem. “Lamentamos muito o impacto que a gente vem causando e estamos trabalhando com toda a equipe, mais de 150 pessoas mobilizadas, para restabelecer esse serviço o mais breve possível”, destacou o diretor, que afirmou ainda que o trecho interditado da linha 1 deverá voltar a funcionar nesta quinta-feira (2).

De acordo com a concessionária do serviço, a linha 1 opera apenas entre as estações Lapa e Acesso Norte, nos dois sentidos. Já a  linha 2 não foi afetada pelo acidente e funciona normalmente.

O diretor da CCR ressaltou ainda  que a empresa fará uma investigação apurada em outros vagões para que não ocorram novos  acidentes como o de ontem. Além disso, a Companhia de Transportes da Bahia (CTB) e a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedur) também informaram que vão investigar o ocorrido, embora não tenham dado detalhes sobre como será esse trabalho de investigação.

 Até o fechamento desta edição, os vagões  acidentados ainda não tinha sido  removidos dos trilhos no trecho onde ocorreru a colisão  e não havia previsão de quando isso iria  acontecer. "Queremos restabelecer o serviço o mais breve possível", disse André Costa.

Semob cria linhas especiais para atender passageiros

Duas linhas emergenciais de  ônibus  foram criadas ontem pela Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob), após o acidente no metrô, ligando as estações de transbordo atendidas pela Linha 1 dos trens no trecho onde ocorreu o acidente e que ainda não estão operando.     São elas Lapa x Pirajá e Pirajá x Acesso Norte. 

As duas linhas de ônibus  farão o mesmo trajeto que é realizado pelo metrô para não prejudicar os passageiros habituados ao trajeto. O atendimento será feito de forma emergencial até que a operação dos trens  seja normalizada no trecho interditado. Todas as demais linhas de ônibus da cidade permanecem sem alteração.

Desde a terça-feira (31), logo após a colisão dos vagões nas imediações da estação Pirajá, agentes de trânsito e transportes de Salvador se deslocaram para as estações do metrô   para orientar os usuários sobre a situação. 

As equipes da CCR também passaram o dia dando informes aos passageiros que utilizam os terminais.

*Com a colaboração de Amanda Palma e a orientação da subchefe de reportagem Monique Lobô.