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‘Cavalos mais rápidos’, rim de porco e o futuro da diálise

  • D
  • Da Redação

Publicado em 2 de novembro de 2021 às 05:51

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

“Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito: cavalos mais rápidos”. A célebre frase (equivocadamente) atribuída a Henry Ford, inventor do automóvel, demonstra que avanços da ciência e da humanidade, mais do que a incrementos tecnológicos previsíveis, estão ligados a demandas e necessidades do cliente ou usuário. Essa máxima pode, e deve, ser extrapolada para outras áreas – como a nefrologia e a diálise.   Recentemente, a realização de um transplante de rim de porco em humano dominou o noticiário e trouxe esperança a mais de 3 milhões de pessoas com doença renal crônica em diálise no mundo. O caso aconteceu em Nova Iorque, Estados Unidos, em uma paciente com morte encefálica e disfunção renal. Após autorização da família, um rim de porco geneticamente modificado foi implantado em vasos sanguíneos da região superior da perna e mantido exteriorizado para melhor avaliação. A paciente permaneceu em ventilação mecânica com sinais vitais por 54 horas após o transplante e não houve rejeição do órgão.

O xenotransplante – nome dado ao transplante de órgão entre animais de espécies diferentes – não é novidade na medicina. Há alguns anos, pesquisa-se e discute-se a técnica com avanços experimentais significativos, como a tecnologia de edição genética CRISPR, com redução do risco de doenças transmitidas do porco para o humano e transposição das barreiras imunológicas. O pioneirismo do procedimento de Nova Iorque, a despeito da repercussão midiática, é apenas mais um capítulo de uma história que vem sendo construída de forma discreta e progressiva há décadas.

Apesar de incertezas, riscos e da extensa discussão bioética, o xenotransplante surge cada vez mais como alternativa potencialmente viável para pacientes com falência renal em diálise. Um setor que convive historicamente com avanços tecnológicos que aumentaram a sobrevida dos pacientes, com máquinas modernas, seguras, multifuncionais, inteligentes e ainda com a perspectiva de torná-las portáteis, ou mesmo implantáveis. Mas, de forma análoga, será que esses não seriam os “cavalos mais rápidos” de Ford, quando podemos estar prestes a testemunhar a própria criação do carro? O caminho a percorrer ainda é longo; no entanto, os eventos recentes são animadores e indicam que talvez o xenotransplante, com rim de porco geneticamente modificado, possa ser o futuro da terapia renal substitutiva.

José A. Moura Neto é presidente da Sociedade Baiana de Nefrologia