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Wendel de Novais
Publicado em 8 de dezembro de 2020 às 21:21
- Atualizado há 2 anos
Um dia de homenagens diferentes. Assim foram as missas que celebraram o dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira da Bahia, nesta terça-feira (8). Ao invés das milhares de pessoas que costumam tomar as ruas do Comércio em caminhada rumo à Basílica Santuário da padroeira, menos de três centenas de pessoas participaram das missas na parte interna da igreja. No total, foram 250 pessoas presentes, sendo 150 fiéis e 100 somando o arcebispo, padres, diáconos, membros da irmandade e imprensa.>
Na parte externa do local, na frente da Igreja, onde a imagem da santa estava exposta, ao longo de todo o dia, muitas pessoas passaram para render homenagens e fazer suas preces e pedidos. Por lá, não houve aglomeração. Os fiéis chegaram usando máscaras e se espalhavam pelo passeio da Igreja, respeitando o distanciamento social. Tudo para não deixar de realizar o que já é tradição sem se colocar em risco. Fiés precisaram aferir a temperatura e tiveram entrada restrita para evitar aglomerações (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Além da homenagem e do agradecimento pela vida, havia um pedido principal: por saúde. Em um ano que o mundo entrou em colapso sanitário, não dava para pedir outra coisa. Isso é o que afirma Alda Santos, 59 anos, aposentada que vem há mais de 30 anos na celebração da padroeira baiana e, normalmente, traz consigo pedidos diversos. Em 2020, a coisa mudou de figura. A sua prece foi feita, principalmente, em prol da saúde individual e coletiva. "Moro no Engenho Velho de Brotas e vim hoje porque é muito triste o que está acontecendo com a saúde do nosso planeta. Nossa fé não pode parar. É nela que encontramos respostas. Normalmente, venho com muitos pedidos. Mas, neste ano, o maior de todos e o que tem mais foco das minhas preces é a saúde mundial, que passa por momentos difíceis", contou. Alda vem à celebração há mais de 30 anos (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Outro que fez o mesmo foi o vigilante Ailton Machado, 57, que também é figura carimbada no Comércio no dia 8 de dezembro. Para ele, o mais importante é fazer uso da fé para interceder por uma solução para uma pandemia que abalou tantas pessoas e, segundo ele, ressignificou o valor que se dá à saúde. "Sabemos que está tudo diferente, não teremos aquela festa comum, mas não é por isso que deixaria de vir. É mesmo agora o momento que precisamos estar ativos com a nossa fé, agradecer Nossa Senhora e, através de intercessão dela, conquistar o apoio de Deus para a saúde de Salvador, da Bahia, do Brasil e desse mundo todo que sofreu muito em 2020", apontou.>
Adilson Guedes, 54, administrador que comparece na celebração desde os 10 anos de idade, corrobora com as falas de Machado. Segundo ele, a fé é a arma mais importante para um fiel diante de aflições e a maior aflição no país e no mundo é relacionada à saúde. "Nós precisamos, sem sombra de dúvidas, fortalecer a fé nesse momento de pandemia. Muitos ficaram em casa, se isolaram e deixaram a fé um pouco de lado. Se cada um fizer a sua parte, respeitando as normas para não se contaminar e não contaminar ninguém, creio que o nosso maior trunfo sejam as orações. Preces que, no momento atual, só podem ser dirigidas à saúde do povo e ao fim desse vírus", ressaltou. Adilson acredita que este é um momento importante para fortalecer a fé (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Importância dos atos religiosos Para o cardeal Dom Sérgio da Rocha, a saúde física é um dos maiores problemas no momento, mas, se for possível fazer em segurança, é recomendado cuidar da saúde espiritual e não abandonar celebrações como essas. "A celebração da nossa padroeira é sempre motivo de alegria e esperança em qualquer situação. Nesse momento tão difícil, precisamos cuidar da saúde física e também da saúde espiritual para que possamos, unidos a Nossa Senhora, vencer esse tempo tão complicado", afirmou. Ele presidiu a Missa Solene, às 9h desta terça-feira.>
Dom Sérgio também falou sobre a necessidade de adaptação ao cenário pandêmico para continuar com tradições religiosas sem que isso ameace a saúde das pessoas que compareçam. "A festa de hoje, nesse contexto de pandemia, traz ainda mais esperança e paz. Por isso, é feita com responsabilidade pela vida dos nossos irmãos, com menos gente. Nós rezamos sim e confiamos em Deus e Nossa Senhora, mas queremos viver o amor ao próximo e nossos momentos de fé respeitando e valorizando a vida", afirmou. Dom Sérgio ressaltou importância da celebração da padroeira (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Além disso, o cardeal falou sobre o papel da igreja na orientação dos fiéis não só em celebrações de missas e eventos da Igreja, mas também no cotidiano deles nos ambientes públicos. "Temos que observar ao máximo, desde o início, as medidas que visam a preservação da saúde pública. E nós não paramos por aí. Entendemos que é preciso orientar os fiéis que respeitem as restrições sanitárias como forma de demonstração de amor e respeito pelo próximo. E essa atitude precisa romper as portas das Igrejas e chegar à vida em espaços comuns dessas pessoas", declarou.>
Atividades presenciais Ao ser perguntado sobre o tamanho da influência da alta de casos em Salvador e na Bahia nas atividades presenciais da Igreja, Dom Sérgio afirmou que, se houver necessidade, não tem dúvidas de que os eventos religiosos presenciais podem ser suspensos. "Nesse final de ano, sobretudo, é um tempo que devemos redobrar nossa atenção quanto a isso. E, com certeza, vendo necessidade de restrição quanto a presença, nós vamos estar procurando não só dialogar com as autoridades, mas acolher toda medida que se mostre necessária para combater o avanço do vírus", disse.>
Porém, o cardeal fez questão de deixar claro que essa decisão não pode ser tomada apenas pela Igreja que, desde o começo da pandemia do coronavírus, procura agir de acordo com as orientações das autoridades públicas e sanitárias. E, segundo ele, vai continuar fazendo isso e só voltará a descartar missas e celebrações presenciais se assim forem orientados. "Nós vamos tomar qualquer decisão dialogando com as autoridades públicas e sanitárias. Desde o início, fazemos assim. Estamos aguardando o que as autoridades vão propor e definir. Não cabe a nós decidir por conta própria aquilo que deve ser feito. Precisamos da orientação dos especialistas e das autoridades para anunciar alguma medida", explicou.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>