Centro cultural completa quatro anos na Ladeira da Preguiça

Espaço Que Ladeira é Essa? realiza uma semana de atividades gratuitas para comemorar aniversário

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  • Laura Fernades

Publicado em 12 de setembro de 2017 às 16:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO
Suzane Varela é aluna de jiu-jítsu e pré-vestibular por Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Moradora da Ladeira da Preguiça, no Comércio, Suzane Varela, 26 anos, tenta se desvencilhar de uma mulher que está tentando imobilizá-la. Longe de ser uma briga, a cena faz parte de uma das aulas de jiu-jítsu que a jovem frequenta no Centro Cultural Que Ladeira é Essa?, espaço que completa quatro anos atendendo moradores da região e de outros bairros com aulas gratuitas de jiu-jítsu, judô, capoeira, teatro, percussão e pré-vestibular.

Mãe solteira, já que o pai de Johan, 7, foi morto pelo tráfico de drogas um mês antes dele nascer, Suzane agradece a atuação do espaço. “O Centro vem dando uma nova perspectiva de vida para os meninos daqui. Antes, a referência era o tráfico, hoje é o professor, o esporte, a interação, a cultura...”, elogiou, entre um golpe e outro. “A gente, que já perdeu parentes, amigos, luta por mudança”, completou a aluna que também frequenta as aulas do cursinho pré-vestibular e estuda para fazer pedagogia.

Orgulhosa ao contar que seu filho faz aulas de capoeira, futebol e jiu-jítsu, Suzane destacou que o Centro Cultural Que Ladeira é Essa? trouxe mais entretenimento para as crianças. “A ideia é ver a garotada daqui a 20 anos tomando conta desse espaço e levando tudo isso pra frente”, deseja o idealizador do Centro, o professor de jiu-jítsu e poeta Marcelo Teles, 32 anos, sem esconder o orgulho.

Também morador da Ladeira da Preguiça, onde sua família mora “há cinco gerações”, Marcelo conta que a comemoração do aniversário do centro cultural será em grande estilo. Do dia 18 ao dia 23, o espaço realiza uma semana de atividades gratuitas como oficinas de hip hop e de empreendedorismo; o “baba das mulheres”, com a disputa na rua dos times Empoderadas x Desconstruídas; e um mutirão de grafite, a partir das 16h do dia 22, data em que o Centro Cultural Que Ladeira é Essa? faz aniversário.

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Além disso, a programação, cuja inscrição é feita no local, conta com o ciclo de debates Defesa Quilombola, que usa a filosofia da capoeira, do judô e jiu-jítsu para abordar temas como feminicídio, racismo e homofobia. “Nossa maior preocupação é incluir os LGBTs e as mulheres no tatame, porque a sociedade machista provoca um esvaziamento”, ressalta Marcelo, que se preocupa em formar politicamente os alunos em cada uma das aulas que são viabilizadas através de parcerias.

Além da formação cultural e política, o Centro Cultural Que Ladeira é Essa? tem como objetivo revitalizar a Ladeira da Preguiça, região retratada na música de Gilberto Gil e nos livros de Jorge Amado (1912-2001), que sofre hoje com a degradação e a violência. Isso acontece por meio das atividades gratuitas e artísticas realizadas anualmente pelo espaço, que funciona há quatro anos – por meio de contrato de comodato renovado a cada seis meses – em um casarão tombado que estava fechado.

Além de sua própria fachada, pintada durante a terceira edição do Festival de Grafitti Bahia de Todas as Cores, que aconteceu em março dentro do Festival da Cidade, o Centro Cultural Que Ladeira é Essa? já grafitou cerca de 850 casas da Ladeira da Preguiça e de outros bairros em conjunto com outros parceiros. Entre eles, está o Musas (Museu de Street Art Salvador), que vai grafitar o centro cultural no dia 22.

“A grande ideia é lutar contra a gentrificação e a expulsão dos moradores por conta da especulação imobiliária”, destaca Marcelo, que não soube contabilizar quantas pessoas já foram atendidas pelo centro nesses quatro anos. “O que a gente oferece de lúdico e de formação política faz parte de uma luta por resistência e pertencimento. Comemorar quatro anos é um processo de ancestralidade”, diz Marcelo, orgulhoso.

Programação de aniversário do Centro Cultural Que Ladeira é Essa?

Segunda (18/9) 16h: Ciclo de Debates Defesa Quilombola: Técnica e Diálogo com Alex Cintra e Marcelo Teles

Quinta (21/9) 16h: Oficina de Hip Hop com MC Xarope 18h30: Roda de Conversa – Racismo Institucional com o historiador Marcos Rezende

Sexta (22/9) 17h: Mutirão de grafite com o Musas (Museu de Street Art Salvador)

Sábado (23/9) 16h: Oficina de capoeira com o grupo Inzo Capoeira 18h: Baba das Mulheres – Empoderadas x Desconstruídas 18h30: Sarau Poético com o projeto Livres Livros

Obs: Inscrições gratuitas, no local