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Tailane Muniz
Publicado em 24 de setembro de 2019 às 13:04
- Atualizado há 2 anos
Familiares das vítimas no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) Menos de 24 horas depois de viver o pior momento da vida, o catador de material reciclável Guilherme Ferreira de Jesus, 64 anos, mantém firme a postura de um pai de sete que, para além do luto, tem pela frente mais uma difícil atribuição: viabilizar o enterro dos três filhos mais novos.>
Sem dinheiro, Guilherme decidiu procurar antigos chefes e conhecidos para, com sorte, conseguir colaboração financeira e comprar os caixões de Evelin, 19, Élisson, 21, e Elenilton Santos de Jesus, 23 - assassinados a tiros dentro de casa, no final da manhã desta segunda-feira (23), no bairro de Sete de Abril, em Salvador.>
No bairro em que a família já mora há mais de 30 anos, comenta ele, o nome do suposto autor dos assassinatos é especulado pelos vizinhos. Uma briga de Élisson com um outro morador, identificado apenas como Giovane, seria a motivação. A esposa do catador, mãe dos “meninos”, estava em casa quando os filhos foram surpreendidos e mortos.>
Era meio-dia em ponto, Evelin tinha ido até a laje, onde os irmãos trabalhavam numa obra de extensão do imóvel, quando tudo aconteceu. O pai, que resolvia questões de um empréstimo no banco, acredita que a caçula e Elenilton não foram poupados porque serviriam de testemunhas do crime.“Quando cheguei, encontrei já todos mortos. Meus filhos não eram bandidos, eles trabalhavam e estudavam, não eram drogados”, garante Guilherme, que, entre um apelo e outro aos conhecidos, por telefone, reitera a crueldade com que tiraram a vida dos três filhos.‘Jovens de bem’ Além das vítimas, Guilherme e a esposa tiveram outros quatro filhos, todos já casados e fora de casa. Os únicos ainda sob o mesmo teto dos pais, Evelin, Élisson e Elenilton, destaca o catador, “não davam trabalho”. Fotos: Tailane Muniz/CORREIO A jovem, que estudava o último ano do ensino médio no Colégio Eraldo Tinoco, em Sete de Abril, andava pensando no que estudaria na faculdade, diz o pai. Já os meninos, costumavam, juntos, fazer bicos em obras de construção, completa Guilherme.“Agora é isso, meus filhos, tão modernos, agora estão mortos. Não tem mais o que fazer”, conclui, na sala de espera do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, na manhã desta terça-feira (24), ainda sem estimativa de quando vai poder liberar, velar e enterrar os três.Ao lado do pai, a estudante de Pedagogia Eleni de Jesus, 24, conta que saiu de casa há um mês, após casar. Comenta que, caso estivesse no momento, também poderia estar morta.>
“Tiraram a vida dos meus irmãos, assim, do nada. Minha irmã, tão jovem, estava pensando no que ia estudar, mas tiraram os sonhos dela, dos três, Evelin sonhava tanto”, lamenta, aos prantos.>
Motivação À reportagem, Eleni reforçou que o que os pais têm de informação sobre o triplo homicídio está atribuída aos boatos da briga do irmão, Élisson, com um outro jovem, também morador do bairro, no sábado (21). O motivo do desentendimento, contudo, não chegou ao conhecimento da família.>
“A gente não sabe o que houve, mas todos os moradores lá viram a tal da briga. Soube que ele [Giovane] disse a Élisson: ‘O que é seu está guardado’. Só sei que eles [bandidos] chegaram, minha mãe tinha ido deitar porque tinha se sentido mal. Evelin foi na laje levar a comida dos meninos e foi nesse momento”.>
À filha, a mãe relatou que viu pela janela quando os três homens, desconhecidos, deixaram a casa, sem dizer nada. Baleados em várias partes do corpo, todos morreram ainda no local, às vistas da matriarca. >
De acordo com Eleni, os pais já foram ouvidos no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas ainda não tiveram novas informações. Ao CORREIO, a Polícia Civil informou que outras testemunhas estão convocadas e devem prestar depoimento nos próximos dias. A autoria e motivação do crime são investigadas pela Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM), sob a titularidade do delegado Odair Carneiro. >