Chuva provoca alagamentos em Salvador; BMW fica 'ilhada' na Av. ACM

Na Baixa do Fiscal, moradores resgatam placas perdidas na água esperando receber 'agrado' dos motoristas

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  • Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2019 às 10:21

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor

Em apenas seis horas, Salvador registrou 73,2 mm de chuva nesta segunda-feira (29). O maior acumulado foi registrado no bairro de Pituaçu, de acordo com o Centro de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil (Cemadec).

Dessa vez, a chuva não foi causada por frentes frias, mas pela umidade trazida pelos ventos do oceano, de acordo com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). "Essa é uma das características principais dessa época do ano e, ultimamente, esses ventos estão intensos. As águas do oceano próximas da costa do Nordeste estão mais aquecidas, então, há maior evaporação, a umidade para o continente é maior e facilita a formação de nuvens e a chuva", explica a meteorologista do órgão, Maryfrance Diniz. Normalmente, os meses mais chuvosos, em Salvador, são abril, maio e junho. No entanto, não é raro que esse período chuvoso se estenda até julho, como tem ocorrido. Em 29 dias, o acumulado de chuva já supera a média esperada para o mês: choveu 266,41 mm em 2019 contra o registro histórico de 208,6 mm.

O tempo chuvoso deve permanecer até quarta-feira (31), em todo o estado. A temperatura mínima prevista para esta segunda é de 21ºC e a máxima de 26°C. Nesta terça-feira (30), os termômetros devem marcar entre 21°C e 27°C. 

Trânsito A chuva provocou alagamentos e congestionamentos no trânsito em diferentes pontos da cidade. Por volta das 10h, o fluxo de veículos ainda era complicado nas principais vias. Na Avenida Mário Leal Ferreia (Bonocô), a velocidade média chegou a 4 km/h, com fluidez de apenas 9%, segundo o monitoramento em tempo real da Transalvador. 

Nas avenidas Magalhães Neto e Juracy Magalhães Júnior, a velocidade média no horário também foi a mesma. Já na Avenida Antônio Carlos Magalhães, a velocidade média era de 7 km/h. 

Na Avenida ACM, inclusive, alguns motoristas já contabilizavam o prejuízo. Por volta das 9h, o engenheiro Moacir Carvalho aguardava um guincho que retirasse seu carro, uma BMW, de uma área alagada em frente ao Sam's Club. 

"Essa estrutura desse pavimento é horrível. Molha, a água não tem para onde ir e alaga tudo. Acaba com esse prejuízo aí", disse, referindo-se à via.  Ele tinha saído da Pituba para o trabalho, no bairro de Porto Seco Pirajá, quando o carro deu problema devido à agua na pista. 

"Estou esperando o guincho chegar, mas deve demorar porque esta engarrafado", contou, quando encontrou a reportagem do CORREIO. "Mesmo assim, os aventureiros continuam indo", completou, sobre os carros que ainda tentavam atravessar a água. Na Avenida ACM, trechos ficaram alagados (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Força-tarefa O prefeito ACM Neto afirmou que os transtornos provocados pelas chuvas na Avenida ACM devem ser resolvidos em definitivo com as obras de infraestrutura para implantação do BRT.   "Uma das razões que nos motivou a fazer essa obra é justamente o investimento em drenagem que faremos em vias como as avenidas ACM e Juracy Magalhães, que provocam reflexos em toda a cidade, já que esta é uma região integradora e destino de muitas pessoas ao longo do dia. Com essa obra, vamos melhorar a drenagem, o transporte público e o trânsito nessa região", afirmou, durante um evento para anunciar as mudanças no programa Primeiro Passo, na manhã desta segunda, no Parque da Cidade. Segundo Neto, o projeto do BRT é de transporte público e trânsito, mas também tem o objetivo de resolver os problemas de drenagem. "Os problemas de tráfego serão ainda maiores, mas no futuro teremos uma obra completa e os problemas inteiramente resolvidos. Desde ontem (domingo), estamos mobilizados com a Defesa Civil trabalhando de plantão". 

O prefeito informou, ainda, que uma força-tarefa foi montada para resolver rapidamente o problema do alagamento, facilitando o escoamento da água. "Logo cedo, mobilizamos equipes da Secretaria de Manutenção (Seman), Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), Casa Civil, Codesal e Transalvador para minimizar os transtornos e atuar para que a mobilidade fosse retomada na ACM, o que está acontecendo. Também pedimos o apoio à empresa que realiza a obra (Consórcio BRT), que está atuando", completou. 

Segundo a Transalvador, a água foi escoada por volta das 10h. Desde então, todas as vias da avenida, nos dois sentidos, estão liberadas. 

'Resgate' de placas Na Baixa do Fiscal, o estudante Jonas Almeida dos Santos, 21 anos, coletou quatro placas de veículos. As placas caíram dos carros que tentaram passar pelo alagamento da Rua Pedreira Franco. A funilaria em que trabalha, na mesma rua, não abriu por conta da chuva. Assim, esperava conseguir algum dinheiro com o 'resgate das placas'."Eu espero ganhar um agrado dos motoristas que vêm buscar. Tem uns que vêm, tem outros que deixam. Como aqui alaga muito, as pessoas normalmente já sabem que perderam aqui. Elas voltam e saem batendo de casa em casa para saber se alguém achou", contou Jonas, que normalmente recebe algo entre R$ 10 e R$ 30.O valor é o motorista - dono da placa - que decide dar, se quiser dar.  Jonas entra na água para pegar as placas que caem (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Quando encontrou com o CORREIO, por volta das 10h, esperava conseguir encontrar mais algumas. Mesmo assim, sabe que a concorrência é grande. Encontrou outras cinco pessoas fazendo a mesma coisa. "Tem até briga para pegar as placas. A gente se arrisca, estou aqui todo molhado, com o queixo batendo de frio e dificuldade até para falar, mas estou esperando meu momento para conseguir outra", revelou. 

Esse hábito começou cedo - desde os 8 anos, enfrenta os alagamentos para encontrar placas em época de chuva. "Como eu não estou abrindo a oficina, estou aqui tentando ganhar o pão de cada dia". 

Na Avenida Paralela, a chuva forte obrigou motocicletas a abandonarem os veículos e procurarem abrigo embaixo dos viadutos e passarelas da cidade. Na região do Imbuí, um grupo tentou se proteger sob o viaduto que dá acesso a Narandiba. Os motoristas devem redobrar a atenção porque as pistas estão com poças e escorregadias. Motociclistas aguardam a chuva passar, na Avenida Paralela (Foto: Gil Santos/CORREIO) Deslizamentos Ao todo, até às 10h50, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) tinha registrado 33 ocorrências, incluindo nove ameaças de desabamento e nove ameaças de deslizamento. Houve, ainda, quatro desabamentos parciais, três deslizamentos de terra e duas situações de infiltração. 

"Continuaremos trabalhando de forma ininterrupta em plantão 24 horas. A tendência de que tenhamos a manutenção das chuvas fracas a moderadas em toda essa segunda-feira", disse o diretor da Codesal, Sósthenes Macedo. 

O Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (Hupes/UFBA) teve que reagendar cirurgias, internações e alguns exames que aconteceriam nesta segunda devido à falta de luz. Em nota, o hospital informou que uma árvore caiu, por volta das 11h de domingo (28), atingindo o fornecimento de energia elétrica.