Cidades do interior proíbem entrada de vans e ônibus de turismo neste fim de ano

Distritos turísticos do Vale do Capão, Praia de Cabuçu e Praia do Forte, pertencentes a Palmeiras, Saubara e Mata de São João, respectivamente, são alguns dos que estão sob restrição

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 25 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Eduardo Moody/Divulgação

Depois do anúncio de cancelamento do Festival da Virada em Salvador, cidades do interior da Bahia seguiram o exemplo e também vêm suspendendo suas festividades de Ano Novo como medida para conter o avanço da covid-19. As prefeituras de Palmeiras, Saubara e Mata de São João, famosas por destinos como Vale do Capão, Praia de Cabuçu e Praia do Forte, respectivamente, além de restringirem os eventos, também publicaram decretos proibindo a entrada de ônibus e vans de turismo nos municípios.

Em Palmeiras, localizada na Chapada Diamantina, a administração municipal determinou a proibição de festas, encontros e reuniões com mais de 30 pessoas até 6 de janeiro de 2021. Os ônibus e demais veículos de excursão que tentarem ir ao destino irão se deparar com fiscalização conjunta da Guarda Municipal e Polícia Militar logo na entrada da cidade. Se desrespeitarem, podem sofrer uso da força policial e responder a penas no âmbito cível, administrativo e criminal. Neste meio-tempo, a prefeitura decidiu ainda pela suspensão da reabertura de atrativos turísticos, como os parques ecológicos do Morro do Pai Inácio e Riachinho.

Segundo o secretário municipal de Saúde, Walney de Paula, o distrito é muito procurado no fim de ano por causa do tradicional Réveillon do Capão, que é celebrado com shows ao vivo de bandinhas na praça da vila. Essa programação costuma lotar casas, hotéis e pousadas que promovem ainda suas festas privadas, o que preocupou a gestão com relação ao risco de aglomerações, já que há baixa disponibilidade de leitos de UTI na região.“Não acho que vamos ter problema com entrada [de veículos de turismo] porque contamos com o apoio da PM e fizemos ampla divulgação disso, acredito que as pessoas devem cumprir naturalmente. A gente vinha sentindo uma irresponsabilidade por parte da maioria das pessoas, que estavam trazendo gente para cá. Tudo indicava que ia ser assim agora e a gente precisava fazer alguma coisa para conter”, disse. Atento ao cenário e aos decretos, o agente de turismo Mauro Bim, da M&B Turismo, teve de reorganizar algumas viagens da empresa. No fim de semana passado, iria levar um grupo de 40 pessoas para o vilarejo de Itaitu, em Jacobina, também na Chapada Diamantina, mas adiou a programação para março ao observar alta de casos na região. A agência dele tem uma excursão prevista para o Vale do Capão e a Fazenda Pratinha entre os dias 22 e 24 de janeiro, com saída de Petrolina e Juazeiro, mas, como o status da pandemia é imprevisível daqui para lá, já há uma previsão de adiar essa viagem.

“Depois do Réveillon a gente não sabe exatamente o que pode acontecer, então, quando um cliente fecha com a gente, já explico tudo sobre esse momento que a gente está vivendo. Na última vez que a gente foi para Itaitu, tinha outra excursão lá e fui de imediato falar com a coordenação para combinar que, enquanto eles estivessem em uma cachoeira, a gente estaria em outra, para ter melhor controle e não gerar aglomeração”, relata Bim.

Segundo ele, a empresa vem seguindo as regras da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), com medição de temperatura dos passageiros durante a viagem, fornecimento de álcool em gel e solicitação do uso obrigatório de máscaras. Vale do Capão, na Chapada Diamantina (foto: Silvana Sepulveda/Divulgação) Ainda conforme o secretário de Saúde de Palmeiras, a situação no município está mais complicada em relação ao primeiro pico da doença porque o Hospital Regional da Chapada, em Seabra, que atende a 11 municípios da região, vive uma crise de gestão, com atraso de pagamentos de médicos e funcionários, o que tem gerado desmobilização do atendimento em saúde na área por causa da falta de trabalhadores para dar conta da demanda. Todas as 5 vagas de UTI da unidade estavam ocupadas na última quarta-feira (23).

Também até esta data, Palmeiras acumulava 83 casos registrados desde o começo da pandemia, com oito ocorrências suspeitas em investigação. Outros 30 casos de pessoas que vieram de países, estados ou cidades onde há circulação do coronavírus estão em monitoramento quanto à apresentação de sintomas. Ao todo, o destino turístico teve um óbito causado por complicações da covid-19.

Cabuçu: contra paredões nas praias e bares

Já em Saubara, a 90 km de Feira de Santana, a prefeitura proibiu os eventos em ambientes públicos e privados, com alerta especial para a realização deles em barracas de praia, restaurantes, bares, hotéis e pousadas. A gestão fez uma ressalva impedindo a execução de qualquer tipo de som alto em estabelecimentos comerciais e veículos estacionados ou em circulação. As praias de Cabuçu e Pedras Altas são as mais procuradas em Saubara, sobretudo por moradores de Feira de Santana e Salvador. 

As festas de fim de ano em Saubara costumam atrair um público jovem, que curte o som de paredões, observa a secretária municipal de Saúde, Mailda Araújo.“Somos um município turístico e geralmente recebemos um público muito alto nessa época, a ponto de engarrafar a cidade. Os jovens gostam muito de colocar paredão na praia, nos bares, o que acaba gerando aglomeração em torno do som, então instituímos medidas para evitar isso”, diz.Com os decretos, só poderão entrar na cidade pessoas que apresentarem comprovante de residência. Equipamentos de som usados em situação de descumprimento dos decretos serão apreendidos. Por lá, também será montada uma barreira sanitária na entrada da cidade, em frente ao Colégio Luís Eduardo Magalhães, com fiscalização no perímetro feita por servidores da Guarda Municipal, Superintendência de Trânsito, Secretaria Municipal de Saúde e polícias Civil, Militar, e Rodoviária Estadual. As equipes irão medir a temperatura na barreira, conferir o uso de máscara e impedir o acesso de veículos proibidos. 

A restrição de entrada de ônibus na cidade neste período de fim de ano não se aplica aos coletivos intermunicipais e nem às vans que compõem o transporte alternativo, que fazem linhas como Salvador-Saubara, Santo Amaro-Saubara e Salvador-Bom Jesus dos Pobres. De qualquer maneira, os veículos devem obedecer às regras de higienização para garantir a segurança dos usuários do serviço, bem como o respeito ao limite máximo de passageiros e solicitação de uso obrigatório de máscaras. As medidas já estão em vigor e vão até 3 de janeiro.

Saubara tem 12,3 mil habitantes e até esta quarta-feira acumulava 91 casos confirmados desde o começo da pandemia, com seis ocorrências em investigação e outras 20 em monitoramento. Dois casos confirmados estão ativos e, ao todo, quatro pessoas morreram por complicações da doença.

“Essa nova onda era esperada, mas não devemos subestimar. Os municípios e secretários de saúde estão preocupados, temos decretos, mas tem que ter conscientização individual do ser humano. O uso da máscara é indispensável e é preciso reconhecer que a doença é séria”, alerta Mailda.

Praia do Forte: bloqueio de 71 veículos de turismo

Com o decreto de restrição de acesso de veículos de excursão em vigor, 71 ônibus e vans de turismo foram impedidas de entrar nas localidades de Praia do Forte e Imbassaí, em Mata de São João, no último fim de semana, de 19 e 20 de dezembro. A prefeitura proibiu shows na cidade e estipulou limite máximo de até 200 pessoas em cerimônias como casamento, formaturas, feiras, encontros científicos, passeatas, entre outros. 

Os veículos sofreram bloqueio porque não tinham autorização da Agência de Regulação de Transportes da Bahia (Agerba) e não cumpriam requisitos como acompanhamento por guia de turismo, a apresentação de comprovante de pagamento das taxas municipais e a comprovação de reserva de hospedagem e/ou comprovação de agendamento prévio a equipamentos turísticos.

“Nosso litoral tem um intenso fluxo de visitantes e restringimos o acesso, agora liberado apenas para hospedagem de forma programada. Aqueles que vêm por um dia e que ficam flanando na vila, curtindo a gastronomia, não virão mais por meio de transporte fretado. O propósito dessa restrição é diminuir a circulação e os riscos”, explicou o prefeito Marcelo Oliveira (PSDB).

No último domingo (20), a Agerba iniciou sua operação especial de fiscalização. Segundo o órgão, as abordagens acontecem tanto a veículos de passeio e vans, como a empresas de ônibus regulares, de fretamento e turismo. Além da documentação e licenças exigidas para o funcionamento do transporte, os fiscais verificam itens de segurança, quantitativo de passageiros embarcados e cumprimento das viagens.

Até o momento, o município acumula 872 casos confirmados desde o começo da pandemia e um elevado número de casos em monitoramento: 377 ocorrências suspeitas. Ao todo, 14 pessoas morreram na cidade.

A fiscalização das viagens operadas por empresas de ônibus acontecem nas rodoviárias e em estradas de toda Bahia, além disso, o transporte irregular de passageiros, popularmente conhecidos como “ligeirinhos” ou “lotação”, também serão combatidos. Linhas intermunicipais por fretamento só podem rodar com licenças/vistorias em dia, mediante pedido de autorização. Caso não tenha tais documentos, é considerada operação irregular.