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Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Era uma vez dois irmãos: José e João. José era o mais velho e nasceu numa época em que o pai iniciava a vida profissional e, de origem aristocrática, era muito mercantilista e conservador. Criou José ensinando-o que a essência da vida era trabalhar para acumular riquezas. João, por sua vez, veio muitos anos depois. O pai já estava com a cabeça mais aberta e criou o caçula dando muito valor à cultura. Pagou-lhe intercâmbio e os melhores estudos.
José e João cresceram de maneiras muito diferentes. Amavam-se, mas viviam às turras e provocações pelas fortes diferenças de personalidade. Para piorar, José era baixinho, atarracado e um tanto enfezado. João, de grande autoestima, era mais alto, charmoso, carismático e popular.
José cresceu com foco em juntar dinheiro e tentar construir patrimônio. Porém, teve apenas relativo sucesso. Mesmo assim, vivia criticando João, que, pelo dom advindo da sua criatividade natural e dos seus estudos, possuía até remuneração maior, mas gastava quase tudo em livros, filmes, festas e muitas viagens. Rodava o planeta e tinha uma vida com grandes conquistas, histórias lendárias e prêmios intangíveis. Dessa forma, era criticado por José, que vivia se vangloriando da sua casa própria, mesmo em bairro humilde, enquanto afirmava que o irmão era um irresponsável, sem sequer casa para morar. “Mora na casa do pai até hoje”, alfinetava. João, por sua vez, era realizado com sua cultura, amigos e história de vida. Com suas tiradas hilárias, debochava do estilo ranzinza de José. “É um chato invejoso”, gargalhava.
A tal casa do pai era uma mansão em bairro nobre. Mas estava velha e eis que o pai decidiu reformá-la. João ficou sem residência e partiu para morar de aluguel. Foi a época em que José foi à forra. Estufava o peito para falar de sua casa própria e chamava o irmão de sem-teto.
Após a reforma, a casa ficou linda. O pai ofereceu a morada aos dois filhos de modo igual. Amava-os da mesma forma. O mais velho, porém, criticou e disse: “não preciso, pois tenho minha própria casa e acho que morar na casa do pai é coisa de gente incompetente”. Já o mais novo ficou grato e respondeu: “Claro, pai! Moro lá, então. Ganho um lar e me comprometo a cuidar do patrimônio da família”.
E assim foi. João, já mais experiente, ia se tornando um empreendedor visionário. Usou parte da casa como escritório para seus empreendimentos. Começou a prosperar velozmente. Além disso, “lapidou” a reforma do pai, dando à casa uma decoração linda e acolhedora.
A cada reunião de família, João conversava sobre sua felicidade. Os negócios iam de vento em popa. Seu lar ficava cada vez mais acolhedor e com uma decoração personalizada. José só fazia cara de “tô nem aí”: Dizia preferir mil vezes morar em sua casa própria.
Numa determinada festa na virada de ano, João comentou sobre projetos ousados para o ano seguinte. Afeito a samba e festa popular, reforçava sua felicidade ao convidar a turma todo fim de semana para fazer aquela celebração. Era uma comemoração de dar inveja. Foi aí que José explodiu: retado da vida com sua empresa que vivia vacas magras e cujo modelo de negócio estava superado pela modernidade do século XXI, ele esperneou, acusou João de ter se apropriado da mansão da família, gritou que a casa também era dele e quis até partir para a briga.
Depois daquele dia, José passou a falar mal do pai, acusá-lo de ser protetor do caçula e exigir coisas como um quarto para morar na mansão, bem como a retirada da decoração que João havia posto. Afinal, a casa era patrimônio da família, e não só de um dos irmãos. Tanto esperneou que ganhou seu quarto. Assim, abandonou sua casa antiga, da qual tanto dizia se orgulhar, e mudou-se de mala e cuia para a mansão da família, jogando por terra o seu discurso da casa própria e de que “morar na casa do pai mesmo depois de adulto diminuía o ser humano”.
Acreditava que o sucesso do irmão vinha da mansão exuberante, a estrutura ideal para a prosperidade. Ledo engano! A essência estava na atitude, capacidade criativa e visão de mundo de cada um. E é isso que José até hoje precisa entender. Caso contrário, seguirá enfezado e reclamão. Enquanto isso, João tende a seguir seu curso feliz, festivo e campeão.
Ricardo Palmeira é jornalista