Cliente negro é mantido em cárcere após suspeita de furto em mercado

Caso foi no Maranhão; quatro funcionários foram presos, mas mercado diz que ele foi detido para aguardar familiares que poderiam pagar itens furtados

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  • Da Redação

Publicado em 28 de dezembro de 2021 às 16:27

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Quatro funcionários de um mercado foram presos no Maranhão na segunda-feira (7) por manter um homem negro sob ameaças, tortura psicológica e cárcere privado por quatro horas dentro de uma unidade da rede do Grupo Mateus em Santa Inês, no interior do estado. 

Segundo o Uol, foram presos os fiscais Lucas Rocha e Levi Araújo, o vigilante Willamy Antonio e o subgerente Wellington Rodrigues. 

Com mais de 50 estabelecimentos no Pará, Maranhão e Piauí, a rede é uma das maiores varejistas de alimentos do país. 

A vítima, um homem de 35 anos, comprou dois quilos de frango na manhã de ontem. Ele saí do local após pagar, levando o produto e a nota fiscal na sacola. Quando deixava o mercado, ele foi abordado pelo segurança, mostram as imagens. 

Depois, o cliente foi levado até um setor de gerência do mercado, onde foi fotografado e conduzido ao almoxarifado, nos fundos do local. Lá, foi algemado a uma barra de ferro com um pedaço de fio metálico e mantido preso por quatro horas. 

Durante esse tempo, seguranças o ameaçaram até com arma de fogo para que ele confessasse um furto. O delegado Allan Santos, de Santa Inês, diz que nem a Polícia Militar nem a Civil foram acionadas pelos funcionários, o que é o procedimento recomendado em caso de suspeita de furto ou roubo.

"Os funcionários, em vez de realizarem o procedimento legal de acionamento da Polícia Militar ou da Polícia Civil, para que ele fosse conduzido e autuado pelo crime de furto, o que eles fizeram foi amarrá-lo, praticar tortura psicológica e ainda tortura física, porque ele foi mantido amarrado em uma barra de ferro, em pé, por quatro horas", diz.

As imagens mostram que além do frango, o homem saiu com uma sacola com vários itens, mas que não é possível saber se esses teriam sido furtados ou se já estavam com ele. O homem nega qualquer furto. 

"Ele diz que se dirigiu ao açougue, pediu dois quilos de frango, saiu e pagou os frangos. Há até a nota fiscal que foi fornecida por um dos presos, e estava no bolso dele. Mas, pelas imagens, dá para ver que ele realmente estava tentando sair com um carrinho que tinha duas sacolas, uma na parte de cima e outra na parte de baixo. Com essas sacolas, ele foi convidado a subir algumas escadas e, ao abrir uma das sacolas, tinha outros gêneros alimentícios", explica o delegado.

Por volta das 14h, o homem foi liberado levando somente o franco. Ele foi até a polícia e registrou um boletim de ocorrência.

A polícia foi até o mercado e deteve os funcionários. Como eles não têm antecedentes criminais, o juiz de plantão concedeu ainda ontem liberdade provisória aos quatro. 

O Grupo Mateus diz que houve um grande furto de alimentos no mercado e que o cliente foi mantido preso até que familiares chagassem para pagar os produtos retirados. "Foi concedido ao autor um prazo para que a sua família efetuasse o pagamento das mercadorias, evitando assim o registro formal da ocorrência. Sem o comparecimento de familiares, o autor foi embora, tendo a empresa recuperado os mais de 30 produtos furtados. Em represália à apreensão, o mesmo registrou boletim de ocorrência, deturpando os fatos e levando informações distorcidas ao delegado de plantão que apurou preliminarmente o caso. Continuaremos à disposição das autoridades para esclarecer o ocorrido", diz a nota da empresa.