Coisas sagradas que permanecem sagradas

Senta que lá vem...

  • D
  • Do Estúdio

Publicado em 26 de setembro de 2018 às 11:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Vitor Andrade e Gal Costa (foto/acervo pessoal) Eu queria dar para Gal um texto de memórias. Colecionei incontáveis momentos que se relacionam com a existência dessa mulher sagrada. E eu sou um saudosista e se alguém souber de algum clube dos saudosistas eu posso ser presidente. Mas Gal vem trazendo o futuro e hoje não cabe um texto de memórias - ainda que eu as tenha aos montes. E tenha predileção por textos de memórias. É um desperdício não fazer um texto para falar das lembranças que Gal me provoca. Vem desde a minha infância (muito infância) quando ouvi O Amor pela primeira vez. Ou da emoção do dia dessa foto (acima). Ou o Recanto na Concha. Ou ouvir o Água Viva. Ela cantar Baby lendo na minha camisa e rindo em Praia do Forte. Descobrir Dindi numa loja de discos no Pelourinho. Futuros Amantes no rádio. Ouvir Mãe. Ouvir Mini-mistério. “Quero dizer do mistério”.

Que mistério tem Gal Costa?

(ouça playlist especial para ela)

Gal vem na vanguarda. Gal vem sendo vanguarda há muito tempo. E agora ela é a pele do futuro, “Imune ao corte, à lâmina do tempo”. E mais: desafia o tempo, bagunça a ordem das coisas e reorganiza tudo dentro da gente. A faca rasgando dita por Tom Zé na melhor definição possível no vídeo mais lindo do mundo. Eu já disse: todo mundo é meio Tom Zé bobo e apaixonado diante dessa faca que nos rasga sem dó, sem piedade. Não costurem,  deixa sangrar.

Algumas lágrimas bastam pra consolar.

Eu acho que o tempo pausa em mim quando Gal canta. E a gente cria coragem de ir pra vida, de ganhar o mundo. Ou de subverter a lógica louca da pressa e parar para viver Gal Costa cantando, que é das coisas mais bonitas. Por isso acho que o aniversário de Gal devia ser feriado. Com obrigação de ouvi-la em casa, na rua, no parque. Tipo lembrete na agenda do celular: ouvir Gal. Estampa-la em camisas e ir à rua. Ver ela e Elis juntas cantando Ilusão à Toa e Estrada do Sol num especial nos anos 80 na Globo. Pintar nos muros das cidades a declaração de Tom Zé para ela.

Bonito como namorinho de portão. Fa-tal como a tal quando canta todas as coisas que ela canta. Forte como um eu te amo que de fato ninguém diz como ela. 

Tudo isso pra gente sempre lembrar do amor, da beleza, da arte, da vida como deve ser. E ver no amor a pele do futuro. E ter no amor a pele do futuro.

Parabéns, Gal. "Canta que a beleza volta."

Vitor Andrade é jornalista

Texto originalmente publicado no Facebook e replicado com autorização do autor