Com 141 votos favoráveis, professores da Uneb aprovam greve nesta quinta-feira (4)

Entre as reivindicações estão reajuste salarial e aumento do repasse orçamentário

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 4 de abril de 2019 às 20:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Cindi Rios/Divulgação

Os professores da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) decidiram, nesta quinta-feira (4), entrar em greve por tempo indeterminado. Em assembleia realizada pela categoria, a decisão foi tomada por 141 votos favoráveis, enquanto 62 docentes votaram contra e dois se abstiveram.

Na tarde de quarta (3), a categoria, em conjunto com estudantes do Departamento de Educação, ocuparam o prédio da Reitoria, na tentativa de sensibilizar o governo do estado e a gestão universitária quanto às reivindicações pretendidas.

Durante a assembleia desta quinta, foram expostas as principais reivindicações, discutidas desde 2016. Segundo a Seção Sindical dos Docentes da Universidade do Estado da Bahia (Aduneb), somente na Uneb, mais de 400 professores esperam por promoções e alterações de regime de trabalho.

Ainda de acordo com a Aduneb, há quatro anos a categoria está sem receber o reajuste das perdas inflacionárias, o que acumula um prejuízo de mais de 25% do salário do professor. Para a coordenadora geral da Aduneb, Ronalda Barreto, “o contingenciamento orçamentário, imposto pelo governo Rui Costa, colocou a Uneb em profunda crise, comprometendo o ensino, a pesquisa e a extensão".

Aluno do último semestre do curso de Relações Públicas e membro do Centro Acadêmico, João Paulo Brito, 23 anos, enfrenta a segunda greve desde que começou a estudar na instituição, em 2015. “Infelizmente, o governo está sucateando a educação. Os cortes de programas essenciais à universidade e o contingenciamento de verba estão deixando a universidade pública, gratuita e popular, em uma situação de subsistência”, disse ele.

O CORREIO tentou contato com a Reitoria da Uneb e com a Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC), mas, até o fechamento da matéria, não havia nenhum posicionamento oficial das instituições.

Confira os motivos da greve:Direitos trabalhistas – Apenas na Uneb mais de 400 docentes não têm seus direitos trabalhistas respeitados, a exemplo de promoções, progressões e alterações de regime de trabalho. Alguns aguardam há mais de 2 anos em fila de espera. Recomposição da inflação – O último reajuste das perdas inflacionárias do ano anterior ocorreu em 2015. Há quatro anos sem a recomposição, os salários dos quase 300 mil servidores públicos do estado já sofreram perdas que ultrapassam os 25%.  Aumento salarial – Há seis anos os docentes não possuem aumento real em seus salários, ou seja, um acréscimo acima da inflação. O último, em 2013, foi de 7% no salário base.  Alíquota previdenciária – O governador Rui Costa, em 12 de dezembro de 2018, encaminhou, e aprovou, na Assembleia Legislativa uma lei que aumentou a alíquota previdenciária estadual de 12% para 14%. A medida foi uma arbitrariedade com os servidores, que já estavam com salários defasados e terão ainda mais gastos.  Alteração do Estatuto - A alteração do Estatuto do Magistério Superior, com a revogação do artigo 22 da Lei 8352/2002, em 20 de dezembro do ano passado, ou seja, ao "apagar as luzes" de 2018, retirou dos docentes com Dedicação Exclusiva a possibilidade de utilizarem mais tempo à pesquisa, extensão e pós-graduação.  Planserv - Em dezembro do ano passado, por meio da aprovação da lei 14.032/18, os repasses orçamentários do governo para o Planserv foram reduzidos em 50%, um corte de aproximadamente R$ 200 milhões por ano. Atualmente 80% dos recursos do Planserv, R$ 1,2 bilhões, vem do bolso dos próprios servidores.  Contingenciamento - Segundo dados da própria administração da Uneb, até o mês de maio do ano passado o orçamento liberado para investimento tinha sido de apenas 8,35% da previsão total para o período. Nos meses seguintes o contingenciamento continuou a ocorrer. De agosto a novembro, por exemplo, os repasses aos 29 departamentos foram em média apenas 55% dos recursos planejados. De 2011 a 2016 o governo estadual impôs seis decretos de contingenciamento (leia mais). RH Bahia - O novo sistema criado em janeiro deste ano, para gerenciar a gestão de pessoas no Estado, tem como função aumentar o poder de controle do governo sobre o pagamento dos servidores. Além de ferir a autonomia das universidades, o programa apresenta vários problemas, que vão desde a dificuldade de acessar a página à ausência de benefícios, a exemplo da produção científica, auxílio alimentação, não pagamento de 1/3 de férias, até o extremo da redução dos salários.  Falta de autonomia – Problemas como os contingenciamentos e o RH Bahia causam indignação à categoria, pois as soluções não estão ao alcance da universidade. Demonstram a alta interferência dos órgãos gestores do estado e a falta de autonomia universitária. O problema é apontado por docentes como um dos principais entraves à qualidade de ensino, da pesquisa e da extensão.  Maior orçamento – Desde 2012 o Movimento Docente reivindica o aumento do repasse orçamentário do estado para 7% da Receita Líquida de Impostos (RLI). Atualmente o valor é cerca de 5%. Com o aumento de cursos, laboratórios, números de estudantes e pesquisas, crescem também as demandas orçamentárias com ensino, pesquisa e extensão. Passagem docente – Neste semestre foi cortada a compra de passagens intermunicipais para os docentes que atuam no interior. Para a solução do problema bastava a alteração do Decreto de Lei 6.192/97, que limita a compra de passagens a apenas 72 km do local de moradia do/a professor/a. Com supervisão da subeditora Tharsila Prates