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Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 03:00
- Atualizado há 2 anos
Para além dos versos cantados em hits como “enche o copo e deixa a birita bater” e “o nome dela é Jennifer”, outra frase que nada tem a ver com música, mas tem sido recorrente nos diálogos soteropolitanos, é: “Salvador tá cheia, né, véi?!”. Não é só o calorão de rachar característico do Verão que está ‘fervilhando’ em Salvador. Até fevereiro, 2,7 milhões de turistas devem chegar a Salvador - 3,7 milhões até março.>
O alto fluxo de visitantes na cidade movimenta mais de 50 setores da economia, trazendo turistas para as ruas, movimentando o comércio e lotando hotéis. “Este é o verão da década”, postou o prefeito ACM Neto, no Instagram.>
A estimativa de turistas até o mês que vem, feita pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), é a maior dos últimos oito anos. Para se ter uma ideia, é cerca de 20% maior do que o fluxo registrado de dezembro de 2011 a fevereiro de 2012: 2,2 milhões de pessoas.>
Investir e apostar no turismo da cidade, explica o titular da Secult, Cláudio Tinoco, é muito importante para a economia local. Para ele, a cidade é um centro de vocação para o turismo.“A meta do nosso planejamento estratégico é de, até 2020, superar a casa dos 3 milhões de turistas nesse período entre dezembro e fevereiro”, revela.[[galeria]]>
Segundo Tinoco, a cidade vem se preparando há muito tempo para atingir esse pico de visitação. E a ideia é não se limitar apenas ao Verão: ele citou iniciativas como a construção do Centro de Convenções e a reforma do aeroporto como importantes para que Salvador se mantenha como um destino ao longo do ano.>
No ano passado, a cidade alcançou a marca recorde de mais de 9,3 milhões de visitantes de janeiro a dezembro - cerca de 5% a mais que 2017. O número foi maior do que em 2014, quando Salvador foi uma das sedes da Copa do Mundo. Turistas lotam Salvador durante o Verão (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Vocação Por aqui, os turistas chegam de diversas formas. Só em voos extras, de dezembro passado a fevereiro próximo, serão 1.626, segundo a concessonária que administra o Aeroporto Internacional de Salvador, Vinci Airports - um incremento de 3% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em navios cruzeiros, serão mais de 100 mil turistas até abril, a bordo de 31 navios.>
Para entender os impactos dessa quantidade de turistas na cidade, o CORREIO foi no Pelourinho para conversar com turistas, comerciantes e pedestres da região. Logo na chegada, o garçom Felipe Lanza, 26 anos, há nove no ramo, contou que este, de longe, é o Verão em que ele mais faturou em comissões. Em 2018, ele tirava entre R$ 150 e R$ 180 por noite. Agora, o valor dobrou e já chegou a faturar R$ 320 em uma só noite.“O movimento está muito grande. Principalmente porque tem muito navio chegando na cidade e aí sobe muito turista. A noite também está bombada. Acho que o movimento aumentou uns 40%”, apontou Felipe.O garçom também apontou que, neste ano de 2019, Salvador praticamente não terá baixa estação. Isso porque passado o período de festas, começaram as movimentações em torno das festas de rua como a Lavagem do Bonfim, Iemanjá e Carnaval.>
Uma nova leva de turistas também deve aportar em Salvador durante a Copa América, que acontecerá entre 14 de junho e 7 de julho deste ano. A capital baiana vai receber cinco partidas incluindo uma da seleção brasileira. Cláudio Tinoco destacou, ainda, a previsão de atividades durante as comemorações dos 470 anos da cidade que ocorrerá no final de março. Ailton chega a faturar R$ 450 por dia (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Lucro no bolso Outro que sentiu a influência da movimentação turística foi o vendedor ambulante Ailton Jonas de Almeida, que percorre as ruas do Pelourinho vendendo colares, fitinhas do Senhor do Bonfim, pulseiras de conchinhas e outros apetrechos desde os 17 anos. Hoje, com 39 anos, avalia que as vendas estão muito mais positivas do que o normal: neste Verão, fatura R$ 450 por dia, valor bem mais alto do que o registrado ano passado na mesma estação, quando vendeu, no máximo, R$ 300 por dia.>
Sem um lucro tão pomposo, mas também significativo, a vendedora Edilene de Jesus, 37, aumentou suas vendas de R$ 150 por dia para valores que giram entre R$ 250 e R$ 300. Em ambos os casos, a jornada de trabalho dura de 10h a 12h subindo e descendo pelas ruas do Centro Histórico.“É o nosso trabalho e essa é a nossa época de ganhar dinheiro. Então tem que ter disposição para bater perna mesmo”, avalia a vendedora. Edilene tem vendido mais nesse Verão e comemora presença dos turistas (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Sua Salvador Bom para os vendedores, bom para os turistas. O que traz tanta gente para a cidade? Ontem, a Secretaria de Turismo da Bahia (Setur) começou uma pesquisa para elaborar o perfil do turista que visita Salvador no Verão. >
Cada um tem sua razão. Para as professoras Mary Lafuente e Débora Oliveira Velho, duas catarinenses de 47 anos, a vinda até a capital baiana significou a realização de um sonho de infância. As duas amigas contam que sempre escutaram sobre a tradição e história da capital baiana e só conseguiram pisar em terras baianas neste ano.>
Por outro lado, também existem turistas como a aposentada Elane Rodrigues, 70, e sua filha Jeniffer Fuly, professora de 27 anos. Elas vieram do Rio de Janeiro em busca de alegria - além de um pouquinho mais de brisa, já que dona Elane afirmou enfaticamente que o ventinho de Salvador é muito mais generoso do que o carioca.“Chegamos terça e vamos ficar até sábado. Hoje [ontem] é nosso primeiro dia aqui mas eu já estou encantada. Ainda queremos passear pelas praias e procurar alguma festa durante a noite”, contou Jeniffer, enquanto se divertia fazendo batuque na ladeira do Pelourinho.Apesar do resultado empolgante, o secretário Cláudio Tinoco chama atenção para a necessidade de ações de infraestrutura, promoção e melhoria na qualidade dos serviços prestados pelos trabalhadores soteropolitanos.>
Para ele, dois componentes serão essenciais para que Salvador “não se perca” durante os próximos anos, todos eles vinculados ao Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo Salvador (Prodetur). >
O primeiro deles é um programa de certificação e capacitação profissional e empresarial que será oferecido a vendedores, atendentes e profissionais que lidam com os serviços na cidade. O secretário explica que essa é uma iniciativa para fidelizar os turistas que estão na cidade pela primeira vez, incentivando que retornem em outras oportunidades.>
O segundo componente é a elaboração de um plano de marketing específico para a cidade, voltado para promoção em outros municípios do Brasil e também no exterior. De acordo com ele, o objetivo de agora é, além de fidelizar quem já tem uma boa relação com a cidade - como os turistas vindos da Argentina, Uruguai e polos europeus como Espanha, Portugal, França, Itália, Alemanha e França - , expandir para novos mercados como o Reino Unido, liderados pela Inglaterra, e países do mundo árabe como Marrocos.>
*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier>